segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DEMISSÃO DAS RESPONSABILIDADES

Já ninguém duvida que a crise está aí, veio para ficar e ainda a «procissão vai no adro», só não se sabe até quando. Todos os dias se fica a saber de mais uma família, da chamada classe média, em que predominam licenciados, em situação dramática sem capacidade de subsistência, depois da degradação progressiva do seu salário ou, pior ainda, do desemprego há meses, senão anos.
Mais um caso gritante surgiu ontem nas televisões em que uma professora, mãe de três filhos, mostrou o seu desespero perante a incapacidade de dar a assistência devida aos seus filhos.
Agora, imagine-se, o que será no próximo ano se entrar em vigor a enorme (brutal, seria a designação mais adequada), carga fiscal prevista, segundo o ministro do orçamento, como lhe chamou Adriano Moreira porque não é, como devia ser, das finanças.
Não é manobra de diversão ou pessimismo excessivo dizer que a esmagadora maioria dos portugueses ainda não se deu conta do que deverá acontecer em 2013 e seguintes se o OE do governo for aprovado o que, permitirá afirmar que a situação actual é quase paradisíaca.
Perante esta panorâmica devastadora apareceu ontem, ufano, com uma descoberta urgente e vital, o secretário geral do PS, António José Seguro, anunciando uma proposta para a redução do numero de deputados na Assembleia da Republica e, certamente, a criação de círculos uninominais para as Autárquicas, conducentes a vereações monocolores, reduzindo-se ou apagando-se mesmo, as forças minoritárias, num e outro lado.
Pergunta-se, porquê a pressa de querer tratar agora de um assunto que não é prioritário no contexto actual, quando a maioria dos portugueses vive com extrema dificuldade e deseja que a situação não se agrave?
Não seria mais conveniente lutar, com todos meios democráticos ao seu dispor, como líder do Partido Socialista, o segundo partido mais votado de Portugal, contra o hostil OE, de pendor ultraliberal que, mesmo democratas cristãos e muitos PSDs rejeitam? Relembro, a propósito, a expressão de Marques Mendes, anterior líder do PSD, «a carga fiscal prevista é um autêntico assalto, à mão armada, da classe média». Esta luta podia e devia ser feita através de uma moção de censura, prometida mas estrategicamente retirada, tendo antes optado pela abstenção nas propostas do PCP e do BE.
Tudo leva a crer que o anunciado voto contra o OE não passará de mais uma abstenção, de mais uma demissão das responsabilidades.

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