«TUDO O QUE TENHA OLHOS E ALMA, EU NÃO COMO….»
Este é a grande manchete do Jornal I do dia santo, segundo a Igreja Católica, 1 de Novembro de
2018, a propósito da comemoração do Dia Mundial do Veganismo.
Embora já tenha ouvido falar
no veganismo, nomeadamente por um amigo meu que tem netos que o praticam, procurei
no Novo Dicicionário da Lingua Portuguesa da Texto Editores, Lda., de 2007,
conforme ao Acordo Ortográfico de 1990 que eu rejeito, a definição de Veganismo
e, nele, nada consta.
Na wikipedia, encontrei a
seguinte a sua definição:
Veganismo é um movimento a respeito dos direitos
animais. Por razões éticas, os veganos são contra a exploração dos animais e tudo o que está ao seu alcance e que envolva sofrimento animal, é retirado da sua
rotina diária. O boicote a atividades e produtos que são contra os direitos
dos animais é uma das principais acções praticadas por quem adere ao movimento.
Utilizei
aquela manchete do Jornal I como título deste meu comentário, na qual o
veganismo rejeita o consumo de tudo aquilo que tem olhos e alma….
A
meu ver, o veganismo, na prática, é uma forma extrema, absoluta, do
vegetarianismo o que me permite classificá-lo como fundamentalismo.
Inicialmente
aplicava-se a expressão fundamentalismo a situações de teocracia, a um conjunto
de principios fundamentais, de natureza religiosa tradicionais e ortodoxos, mas
ela é hoje alargada a situações de outra natureza, quer as relacionadas com política
quer com o comportamento extremista perante a sociedade, pondo em causa
conceitos, principios e valores fundamentais
Por mera questão
de distinção simples dos fundamentalismos que concitam elevado numero de fervorosos
adeptos, adoptemos a escala de 1 a 10 para lhes atribuir a minha classificação
pessoal, tendo em conta o seu impacte negativo na sociedade humana, embora sem
a pretensão de querer doutrinar sobre o tema, pelas minhas pessoais limitações.
Assim, com o
valor máximo impactante, isto é, 10, está a meu ver a irresponsabilidade
fundamentalista da rejeição da aplicação de vacinas, de consequências muito
graves na saúde pública, pelo que a considero uma actividade criminosa.
No extremo
oposto, com reduzido impacte negativo de 1 ponto, relevo o fundamentalismo pelo insólito, da
polémica causada por um professor universitário, Daniel Cardoso, se não estou
em êrro, no programa da RTP1, Prós e Contras que considerou «uma violência da
liberdade dos netos ao terem que beijar os avós».
Relativamente
ao veganismo, ao qual atribuo 5 pontos, considero-o fundamentalismo pelo extremismo a que arrasta pessoas
para a defesa da generalização de um regime alimentar desigual e insuficiente
para uma saúde equilibrada e, a ele associado, a defesa obcessiva do bem estar
animal com a secundarização do bem estar humano.
Como
veterinário, sempre senti a obrigação profissional e ética de velar pela saúde
animal onde se inclui o seu bem estar. A minha formação académica e a dos meus
colegas, sustenta a qualidade de vida dos animais e, por consequência, dos humanos,
quer na produção das várias espécies destinadas ao seu consumo, como na
vigilância sanitária dos animais de companhia e na protecção da saúde pública,
duas vertentes essenciais, criadas e melhoradas pelo homem.
O veganismo é uma
forma de fundamentalismo que tem implícita a abolição da produção animal, com
todas as incalculáveis consequências sociais, económicas, ambientais, de saúde
pública e de bem estar das populações.
Com o veganismo
não se confundem as várias organizações e pessoas que se reclamam da protecção
dos animais, umas mais tolerantes do que outras que têm conseguido reduzir os
maus tratos aos animais.
Admita-se que,
na visão radical do veganismo, a partir de amanhã, seria imposta a proibição
total da aquacultura, da avicultura, da pecuária e toda a gente teria que se
alimentar exclusivamente de vegetais, cuja produção mundial actual é
insuficiente para a população humana e animal do planeta.
Nesta
perspectiva, também não estará fora de causa a defesa do bem estar dos animais
selvagens, incluíndo os venenosos, não bastando a intenção de proibir a caça.
Entretanto, a actual
produção mundial de animais é de milhares de milhões, aquáticos e terrestres, a
maioria vegetarianos ou omnívoros, que passariam a ter o mesmo direito ao seu bem estar que
os humanos que, inevitavelmente, teriam de partilhar os mesmo espaços entre si.
Por fim,
entrando no domínio da especulação gratuita, o veganismo talvez um dia venha a
acrescentar ao seu fundamentalismo, o bem estar das plantas considerando-as seres
vivos sensíveis, em detrimento do bem estar humano.