BEM ESTAR ANIMAL E O FUNDAMENTALISMO
Incompreensivelmente,
hoje em dia, cresce o numero de alegados defensores do bem estar animal que,
admito, não se dão conta que secundarizam o bem estar humano.
É óbvio que,
paralelamente, é cada vez maior a importância da preservação do bem estar
animal, nomeadamente por aqueles que velam pela sua saúde e bem estar, como é o
meu caso, como médico veterinário.
Em produção animal, terrestre
ou aquática, esta preocupação está-nos sempre presente, no sentido de se reduzir
ao máximo tudo quanto ponha em causa a saúde e bem estar animal. Esta
actividade é primordial para o bem estar humano, onde se inclui o acesso aos
alimentos de origem animal, por todos, Contudo, sem produção animal em
cativeiro, tal acesso acabaria por confinar-se, teoricamente, aos ricos se o
abastecimento proviesse em exclusivo de animais selvagens, incluindo os peixes,
os crustáceos e os moluscos, produto da pesca, em declínio progressivo e
inexurável.
A população humana tem
aumentado exponencialmente o que «obrigou» à criação de novas fontes de
proteína animal, essenciais a uma alimentação equilibrada, isto é, o recurso à
produção animal. Ora tal demanda foi levada a cabo com métodos e técnicas de
produção intensiva, em condições de exploração desumana com cargas animais
(peso ou numero de animais por unidade de superfície ou de volume), tantas
vezes denunciadas, nomeadamente as praticadas na suinicultura, na avicultura,
na piscicultura, na bovinicultura. A título de exemplo, dentro da minha área de
trabalho durante décadas, refiro que no meio natural haverá em áreas produtivas,
em média, menos de 100g de peixes/m2 enquanto que na anguilicultura (cultura de
enguias) intensiva se atinge 1000 enguias de 150 g/m3 !!!Tal situação tem vindo
a ser alterada progressivamente com a redução da carga animal para valores que
permitam a preservação do bem estar animal.
Por outro lado, a
produção animal, em terra ou na água, tal como qualquer outra actividade
produtiva, tem por finalidade o rendimento lucrativo da exploração, quer dizer,
a redução da carga animal tem como limite o valor que permita ao produtor extrair
dividendos, por outras palavras, ninguém investe para perder numa actividade de
risco.
Ora toda esta minha
exposição relaciona-se com o facto de haver quem queira impedir a produção
animal semi-intensiva, susceptível de rendimento positivo, propugnando em
exclusivo a extensiva o que, em muitos casos, não é lucrativa.
Enquadrada na visão
fundamentalista do bem estar animal, surge agora em Portugal a tentativa de
aprovação de uma lei que iria permitir a entrada de animais de companhia nos
restauerantes!!!
Não, não estou de
acordo com essa intenção descabida e excessiva, fundamentalista, para quem o
bem estar animal sobrepõe-se ao bem estar humano. Rejeito por razões de
higiene, saúde pública e tranquilidade dos frequentadores de restaurantes. Quem
o propôs até se esqueceu de que estão englobados nos animais de companhia
diversas espécies, géneros, familias, ordens, classes, nomeadamente, além de
cães, pequenos, médios e grandes e gatos, cobras, lagartos, iguanas,
tartarugas, cágados, aranhas, lacraus, felinos vários, cobaias, símios, suínos,
murganhos, peixes e outros animais aquáticos, embora não dê jeito o seu transporte
pela trela...etc., etc