DESONESTIDADES
A crise não pode, não deve, permitir que tudo
vale para se tentar explicar o inexplicável. As manobras em curso dos
dirigentes e amigos (genericamente os media nacionais e os fazedores oficiais
de opinião) dos partidos da coligação governante, roçam a amoralidade, a falta
de escrúpulos.
Trata-se de uma tentativa de lavagem da prática
governativa, ao jeito do que se passa com o branqueamento de capitais obscuros,
utilizando-se argumentos falsos num despudor inaudito.
Neste momento o alvo principal é o Tribunal
Constitucional que pretendem responsabilizar por todos os seus insucessos
passados, actuais e futuros e, mais ainda, tentam culpabilizá-lo por um
eventual pedido de segundo resgate e consequentes maiores danos para os
portugueses.
Esta actuação revela uma gritante
desonestidade dos seus mentores, à cabeça o primeiro-ministro, promotores de
uma desbragada lavagem ao cérebro das cidadãs e cidadãos deste país, criando
bodes expiatórios, os mauzões que não deixam governar (a seu bel-prazer, digo
eu), ocupando o pódio aquele Tribunal.
Repare-se que a tónica é sempre dada às
«consequências gravosas» do chumbo do T.C. às «virtuosas intenções» do
governo e nunca se faz menção à afronta das propostas do mesmo com textos que
violam descarada e acintosamente a Constituição da Republica.
Neste propósito mistificador, sem inquietação
de consciência, surgiu hoje uma intervenção na rádio, Antena 1, no programa
Conselho Superior, cerca das 8h45, programa que retomou a actividade, após a
sua suspensão durante o mês de Agosto. O autor da inadmissível diatribe contra
o T.C. foi o senhor José Luis Arnaud (ou Arnauth?) que eivado de raiva
irracional, fez as seguintes afirmações irresponsáveis:
a)
A
avaliação do diploma do governo, através do qual se pretendia fazer
despedimentos na Função Pública (sem justa causa, sublinho eu), foi feita por
metade dos juízes daquele Tribunal, porque os restantes se recusaram a
interromper as férias !!!!!!!!!!! Alguém acredita que J.L.A. ignora as normas
que regem o T.C., nomeadamente o regime de férias dos seus juízes, em dois
turnos e cujo presidente goza apenas uma semana, o qual os impede de
interrompê-las seja a que pretexto for? Se desconhece o assunto informe-se
primeiro e seja decente e honrado.
b)
Afirmou
ainda que com aquele diploma se queria fazer justiça, equiparando o regime de
despedimento dos funcionários públicos ao dos trabalhadores do privado quando
na verdade para estes é imperativa a justa causa para despedir.
c)
O
T.C. é o órgão de soberania que goza das maiores mordomias….
d)
Depreende-se
que J.L.A. também desconhece (ou faz de conta?) que o T.C., órgão de soberania,
autónomo e independente, depois das sucessivas alterações do texto
constitucional com a participação do partido a que ele pertence, tem como
função específica velar pelo cumprimento da Constituição da Republica, o que
tem sido sucessivamente levado a cabo.
Diga-se, a propósito,
que o Presidente da Republica, Cavaco Silva, tem feito tábua rasa do juramento
que assumiu em defender a Constituição, antes atropelando-a pondo acima de tudo
as suas opções político-ideológicas e partidárias.
Concluindo, é curial
interrogarmo-nos até quando e onde chegará a perversão da nossa democracia que
o 25 de Abril nos trouxe, isto é, quais são os riscos que todos estamos a
correr e em benefício de quem?