domingo, 24 de abril de 2016


O FILÓSOFO FADISTA

Na minha infância e adolescência angolanas não senti qualquer atracção pelo fado, antes pelo contrário, desgradava-me. Só passei a «aceitá-lo» quando, de licença graciosa (trianual para os docentes da nossa Universidade), estivemos em Portugal em 1970, e fomos ouvir, na casa de fados Lisboa à noite, Manuel de Almeida e Fernanda Maria.

Entretanto os anos passaram e, em final dos anos 70 do século XX, comecei a prestar maior atenção a esta forma de música popular lisboeta com Amália e os dois Carlos, Ramos e do Carmo. Já neste século, surgiu um conjunto imenso de jovens fadistas excepcionais, uma pleiade de mulheres como Carminho, Ana Moura, Gisela João (pondo de parte, um espectaculo degradante e desagradável no Coliseu do Porto, onde participou em 2015) e de homens, à cabeça Ricardo Ribeiro e Camané.

Ora, depois de um preâmbulo relativo à minha entrada e fixação no fado, tenho seguido, na Radio, em particular na Antena 1, o percurso dos atrás referidos. Uma das rubricas radiofónicas minhas preferidas, acontece aos domingos depois das 9h00, o excelente «Sons da lusofonia» de Edgar Canelas, relevando as suas frequentes pequenas gargalhadas, sempre a despropósito, onde ele revela ou lembra ou insiste, em fadistas e outros cantores nacionais e lusófonos.

Neste domingo, foi a vez do ajudense Ricardo Ribeiro de potente voz, presença, filosofia e dedicação à cultura, com a sua ultima obra intitulada «Hoje é assim, amanhã não sei». Como sempre, ele recitou exemplarmente letras dos seus fados e respectivos autores, enaltecendo, quase sempre, as ideias do prof. Agostinho da Silva que perfilha e solta também reflexões profundas sobre os temas e sobre a vida de que destaco hoje: «Eu sou como a meteorologia, hoje estou assim, amanhã talvez não».

Creio que se coaduna com ele, Ricardo Ribeiro, o epiteto de filósofo fadista ou fadista filósofo.

Ainda podem ouvir «Os sons da lusofonia», não percam, vale bem a pena.