sábado, 15 de dezembro de 2018

GREVES CIRÚRGICAS E ANTI-CIRÚRGICAS

A greve é uma forma extrema de luta dos trabalhadores. em defesa dos seus direitos, liderados pelos suas organizações de classe.
Nos ultimos tempos houve uma verdadeira explosão de greves que se mantêm, com a promessa de se prolongarem por 2019. Há dias ouvi e vi a referência a 47 pré-avisos de greve, mas esqueci-me de fazer uma lista dos ditos e em quais sectores da vida nacional mas, como perguntaria o outro (não digo o macaco, porque o PAN não gosta nada), quantos mais sectores há no país.
Esta coincidência da simultaneidade de lutas de dezenas de sindicatos, anunciando a possíbilidade de greve dos seus trabalhadores, parece indicar a insatisfação generalizada pelas suas condições de trabalho, carreiras e remuneração.
Também ontem, no programa da RTP3 (o ramo regional do norte da RTP nacional) «O ultimo apaga a luz», onde a luz só contempla o chamado direita-centro e pouco mais, ouvi Joaquim Vieira dizer que, no tempo da PAF/Troika, houve 3 vezes mais greves (?) do que na actual legislatura. Ora eu vivi esses 4 anos, de 2012 a 2015, juro que não hibernei e não me lembro de tal, mas gostaria que as centrais sindicais corroborassem ou rejeitassem esta afirmação bombástica.
Vem a propósito referir a tentativa de aproveitamento desta situação pela líder do CDS, na sua perspectiva, indicadora do descontentamento generalizado da população, insultando a torto e a direito o primeiro ministro. Já o desnorteado PPD, seu líder e sequazes, espetam cravos em si próprios e à ferradura dizem nada.
Entretanto, o presidente da república procurou explicar as razões de de tal surto grevista com o fim da legislatura e a campanha eleitoral que se avizinha. Admitindo como válida esta interpretação, quem beneficiará dela? Não me parece.
Iniciei esta reflexão com a referência a uma das greves com maior impacte na sociedade portuguesa, as levadas cabo pelos enfermeiros e técnicos superiores de diagnóstico, escolhidas cirúrgicamente para afectarem maior numero de utentes do SNS e o SNS própriamente dito, causando o adiamento de actos cirúrgicos e sobrecarregando os médicos. A certa altura o bastonário da Ordem dos Médicos chegou a alvitrar a requisição civil daqueles profissionais, mas arrepiou caminho, pois o seu alvo é outro...
Por fim, o fim da greve dos estivadores que viram a sua situação humanizada, em parte, pois muitos portugueses não se deram conta de que os estivadores precários viviam em regime diário de semi-escravatura, arregimentados de manhã e despedidos ao fim do dia, durante as ultimas décadas.


sábado, 1 de dezembro de 2018


4 + 1 +1+ 0 - 5 e as bacinas

O título que escolhi mais parece o plano tático de um treinador de uma equipa de futebol, despedido mas logo reintegrado, por causa da luz na escuridão, mas verão adiante que é muito mais prosaica a escolha.

Em tempos, gostava de ver o programa «Expresso da meia noite» da SIC, embora sempre com a tendência inclinada para a Lapa e Sé, mas com algum equilíbrio e um mínimo de honestidade.

Passados uns meses, decidi ver a versão actual do Expresso da Meia Noite e depois de verificar a ausência de Ricardo Costa, sub-director do canal, creio eu, talvez explicada pelo facto de o seu irmão ser primeiro ministro, evitando assim o incómodo de ter, eventualmente, de criticar.

Então o painel era constituido por seis economistas, políticamente comprometidos, mas com um manifesto gritante desequilíbrio, inequivocamente expresso no decurso dos 60 minutos de programa.

Os dois coordenadores, dos quais não fixei os nomes, um com perfil de fuínha e o outro caixa de óculos barbudo e muito mal disposto, foram sempre acolitados pelo conhecido Gomes Ferreira, cujas previsões falhadas assemelham-se às de Marques Mendes, e com a ajuda de um jovem Joaquim que foi assessor de Cavaco, tocando todos eles o mesmo diapasão a desfazer na geringonça, geradora de todos os males, enquanto que a PAF salvou o país da bancarrota (dizem que os outros é têm uma cassete…), alegadamente causada pelos governos PS.

Esteve presente também um professor catedrático e deputado do PS, Trigo Pereira, o + 1, que contrariou suavemente os argumentos dos 4, com alguns dados concretos mas, se deu uma no cravo deu outra na ferradura, quando veio à baila o caso das 3 vacinas (bacinas, segundo o bastonário da Ordem dos Médicos que toca a mesma música dos 4) de que a DG da Saúde desconhecia

O sexto presente, o cambuta José Gusmão que foi deputado do BE e rebateu o argumento dos 4 sobre as vacinas sem base científica justificada segundo o bando, referindo aquilo que Trigo Pereira desconhecia, isto é, o parecer positivo da Sociedade Portuguesa de Pediatria e de vários pediatras. Entretanto, José Gusmão exaltou os feitos do BE que é o verdadeiro salvador único da Pátria. A propósito, convém não esquecer a ameaça da Catarina Martins «o senhor não julgue que se livra de nós…»

Por ultimo, o zero, a ausência (acintosa ou apenas esquecimento ???) de um representante do PCP, nomeadamente Ana Cruz que explicou na AR o acontecido com as vacinas.

Assim, explico o título deste comentário : 4 + 1 + 1 + 0 - 5, em que o - 5 é para completar a desgarrada equipa de futebol.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018


POR INGENUIDADE OU IRREFLEXÃO?

No FB apareceu um Grupo de Apoio ao Juíz Carlos Alexandre, cujos mentores pretendem atingir os 100.000 aderentes!!!!

Ocorrem-me, de imediato, as seguintes perguntas: porquê e para quê?

A iniciativa em causa pretende apoiá-lo em desagravo de alguma injustiça que lhe foi feita, por quem e quando?

E se entretanto, uma facção contrária, pretender criar, um grupo de agravo ao juiz Carlos Alexandre? Assim como pode aparecer outro grupo ainda, que rejeite aqueles dois grupos, pelas consequências que eles acarretam?

Parece-me evidente a intenção de tomar a defesa deste juíz, tendo subjacentes razões políticas e, pouco importa, se de direita, de esquerda ou do centro, para o enquadramento que os media utilizam e a satisfação dos que os representam.

A propósito, impõe-se ter presente que os Tribunais (no plural) é o nome usado para referenciar um dos órgãos de soberania de Portugal.

Segundo a Constituição Portuguesa, os Tribunais são competentes para administrar a justiça em nome do povo e as suas decisões vinculam todas as entidades públicas e privadas, prevalecendo sobre as de quaisquer outras entidades.

Os tribunais administram a justiça e são o único órgão de soberania não eleito.
Os juízes são independentes e inamovíveis (que não podem ser afastados do seu posto), e as suas decisões sobrepõem-se às de qualquer outra autoridade.

Assim, a tentativa de politizar magistrados é um êrro grave, pela desestabilização que pode provocar no funcionamento da justiça. A politização de um(a) juíz(a) teria consequências para qualquer deles e para a magistratura portuguesa, na medida em que está a por-se em causa as suas independência e imparcialidade, condições sine quanon para o desempenho cabal das suas funções, isto é, julgar sem estar imbuída(o) de quaisquer preconceitos.

Não seria de reconsiderar a manutenção do Grupo de Apoio ao Juíz Carlos Alexandre?








domingo, 11 de novembro de 2018




TEORIA DA CONSPIRAÇÃO? NÃO,

A CONSPIRAÇÃO PROPRIAMENTE DITA



Anteontem ao ler um artigo no DN do prof. José Manuel Pureza, dirigente do BE, fiz o comentário seguinte:

Com todo o apoio da comunicação social ao longo de vários anos, antes e depois de 2015, o BE canta de galo, dando a ideia de que está no centro da política nacional e à volta há o vazio, um pouco como o eucalipto. Ainda hoje na Convenção em curso, numa sala meia cheia ou meia vazia, foi evidente a euforia dos seus dirigentes que levou-os a dizer que querem mais e vir a entrar no governo. Uma pergunta não impertinente: ideológicamente o que é o BE?



Ontem, na sequência do vasto noticiário sobre a Convenção do BE, de onde destaquei e comentei o do DN,  

Então o BE considera-se o dono da «geringonça», foi sua (?) a ideia do acordo de esquerda que Paulo Portas quiz menorizar e perdeu como um flato. Para o BE sem ele não há «geringonça» ... A desfaçatez, a irresponsabilidade, do esquerdismo, sempre em bicos de pés a fazerem-se a ministros, certamente na onda do vereador Robles, apelido famoso na guerra colonial.



O auto-convencimento é de tal dimensão que os dirigentes do BE se esqueceram de que coube a Jerónimo de Sousa, secretário Geral do PCP, manifestar a disponibilidade do seu partido para uma convergência política à esquerda, para apoio a um governo do PS. Lembro de que o Prof. Eduardo Lourenço, a propósito, considerou esta abertura do PCP, um verdadeiro milagre.

Entretanto, creio que nenhum dos jornalistas (desculpem-me se isto não corresponde inteiramente à verdade) que entrevistou os dirigentes do BE, lhes chamou à atenção para a verdade dos factos.

Não se tem posto em causa a proveniência político-ideológica do BE e tão pouco qual a sua opção actual. Diz-se que se trata de um partido de esquerda, aparentemente sem ideologia.

Agora retomo a afirmação que fiz no primeiro comentário de que o BE sempre beneficiou do apoio dos media nacionais e assim continua  inequivocamente a meu ver. É uma realidade que o BE, um partido novo, é dirigido por gente jovem, utilizando vocabulário agressivo  que atrai jovens e menos jovens que tem crescido claramente, embora seja um partido sem programa que se apropria oportunisticamente de reivindicações e polémicas, por vezes convergentes com a direita.

O BE tem crescido em detrimento de que partidos, essencialmente de esquerda, embora por vezes se não afaste da direita? Assim, com a sua representatividade significativa desde a fundação, com a agregação de vários partidos de extrema esquerda, trotsquistas, maoistas e outros, e depois em eleições, verifica-se um aumento da sua influência, à custa do PCP e do PS. Se no PS a quebra de eleitorado em favor do BE é mínima, quanto ao PCP é indiscutível, pois está expressa no número de deputados na AR que o transformou na 4ª força parlamentar, atrás do BE.

Assim, volto à afirmação sobre o apoio constante dos media nacionais ao BE, ao mesmo tempo que o PCP, um partido que tem sempre um programa estruturado, é não só votado ao ostracismo, mas também tudo serve para o atacar, nomeadamente por se manter, ortodoxo (dizem) em termos político-ideológicos, por não se distanciar da Rússia, da Coreia do Norte, da Venezuela e da Síria de Assad e por denunciar, sem equívocos, os malefícios  do liberalismo e a sujeição de Portugal aos ditames da União Europeia, dirigida pelo PPE.

Entretanto, se a perseguição a que tem sido submetido o PCP é uma realidade quotidiana de peso, o partido também tem contribuido para alguma perda de influência junto das portuguesas e dos portugueses, por não se preocupar com a actualização da comunicação com elas e eles, mantendo clichés esgotados que afastam as pessoas, afastamento para o qual contribui activamente a querra que lhe é movida permanentemente.

Por fim, reitero a opinião expressa no título deste comentário, isto é, já não se trata da teoria da conspiração, mas sim de uma actuante conspiração de que beneficia o Bloco de Esquerda e a direita que o tolera, por razões óbvias.




sexta-feira, 2 de novembro de 2018


«TUDO O QUE TENHA OLHOS E ALMA, EU NÃO COMO….»

Este é a grande manchete do Jornal I do dia santo, segundo a Igreja Católica, 1 de Novembro de 2018, a propósito da comemoração do Dia Mundial do Veganismo.

Embora já tenha ouvido falar no veganismo, nomeadamente por um amigo meu que tem netos que o praticam, procurei no Novo Dicicionário da Lingua Portuguesa da Texto Editores, Lda., de 2007, conforme ao Acordo Ortográfico de 1990 que eu rejeito, a definição de Veganismo e, nele, nada consta.

Na wikipedia, encontrei a seguinte a sua definição:

Veganismo é um movimento a respeito dos direitos animais. Por razões éticas, os veganos são contra a exploração dos animais e tudo o que está ao seu alcance e que envolva sofrimento animal, é retirado da sua rotina diária. boicote a atividades e produtos que são contra os direitos dos animais é uma das principais acções praticadas por quem adere ao movimento.

Utilizei aquela manchete do Jornal I como título deste meu comentário, na qual o veganismo rejeita o consumo de tudo aquilo que tem olhos e alma….

A meu ver, o veganismo, na prática, é uma forma extrema, absoluta, do vegetarianismo o que me permite classificá-lo como fundamentalismo.

Inicialmente aplicava-se a expressão fundamentalismo a situações de teocracia, a um conjunto de principios fundamentais, de natureza religiosa tradicionais e ortodoxos, mas ela é hoje alargada a situações de outra natureza, quer as relacionadas com política quer com o comportamento extremista perante a sociedade, pondo em causa conceitos, principios e valores fundamentais

Por mera questão de distinção simples dos fundamentalismos que concitam elevado numero de fervorosos adeptos, adoptemos a escala de 1 a 10 para lhes atribuir a minha classificação pessoal, tendo em conta o seu impacte negativo na sociedade humana, embora sem a pretensão de querer doutrinar sobre o tema, pelas minhas pessoais limitações.

Assim, com o valor máximo impactante, isto é, 10, está a meu ver a irresponsabilidade fundamentalista da rejeição da aplicação de vacinas, de consequências muito graves na saúde pública, pelo que a considero uma actividade criminosa.

No extremo oposto, com reduzido impacte negativo de 1 ponto, relevo o fundamentalismo pelo insólito, da polémica causada por um professor universitário, Daniel Cardoso, se não estou em êrro, no programa da RTP1, Prós e Contras que considerou «uma violência da liberdade dos netos ao terem que beijar os avós».
Relativamente ao veganismo, ao qual atribuo 5 pontos, considero-o fundamentalismo pelo extremismo a que arrasta pessoas para a defesa da generalização de um regime alimentar desigual e insuficiente para uma saúde equilibrada e, a ele associado, a defesa obcessiva do bem estar animal com a secundarização do bem estar humano.

Como veterinário, sempre senti a obrigação profissional e ética de velar pela saúde animal onde se inclui o seu bem estar. A minha formação académica e a dos meus colegas, sustenta a qualidade de vida dos animais e, por consequência, dos humanos, quer na produção das várias espécies destinadas ao seu consumo, como na vigilância sanitária dos animais de companhia e na protecção da saúde pública, duas vertentes essenciais, criadas e melhoradas pelo homem.

O veganismo é uma forma de fundamentalismo que tem implícita a abolição da produção animal, com todas as incalculáveis consequências sociais, económicas, ambientais, de saúde pública e de bem estar das populações.

Com o veganismo não se confundem as várias organizações e pessoas que se reclamam da protecção dos animais, umas mais tolerantes do que outras que têm conseguido reduzir os maus tratos aos animais.

Admita-se que, na visão radical do veganismo, a partir de amanhã, seria imposta a proibição total da aquacultura, da avicultura, da pecuária e toda a gente teria que se alimentar exclusivamente de vegetais, cuja produção mundial actual é insuficiente para a população humana e animal do planeta.

Nesta perspectiva, também não estará fora de causa a defesa do bem estar dos animais selvagens, incluíndo os venenosos, não bastando a intenção de proibir a caça.

Entretanto, a actual produção mundial de animais é de milhares de milhões, aquáticos e terrestres, a maioria vegetarianos ou omnívoros, que passariam a ter o mesmo direito ao seu bem estar que os humanos que, inevitavelmente, teriam de partilhar os mesmo espaços entre si.

Por fim, entrando no domínio da especulação gratuita, o veganismo talvez um dia venha a acrescentar ao seu fundamentalismo, o bem estar das plantas considerando-as seres vivos sensíveis, em detrimento do bem estar humano.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018


TEREMOS BOLSONARO COMO PRESIDENTE DO BRASIL?



Tenho o direito de dizer teremos, pois as consequências de tal escolha, não afectariam só os brasileiros, mas todos os amantes da paz, da democracia, da liberdade, da esperança.

De facto, não haveria esperança numa sociedade que tivesse como presidente um apóstolo da discriminação racial e da xenofobia que poria em causa as raízes da História do Brasil, feita de cultura, do convívio, da inter-acção de gente proveniente da Europa, de África, da Ásia, com repercussão em toda a sociedade brasileira e mundial, na cultura, na musica, na arte, no teatro e também em quase todas as modalidades desportivas, com relevo para o futebol.

De facto não haveria esperança num país governado por um misógino que considera as mulheres como seres inferiores, que as despreza e discrimina, cujas mulheres estão entre as mais belas do planeta, o país do Carnaval, da liberdade total das gentes, brasileiras e provenientes de todos os cantos do mundo, dançando e cantando a mulher mestiça que Jorge Amado e Chico Buarque imortalizaram.

De facto não haveria esperança com Bolsonaro que preferiria ter um filho morto a um filho homossexual.

De facto não haveria esperança quando este candidato glorifica os generais que infernizaram a vida dos brasileiros, com excepção dos DDT do Brasil e da extrema direita.



É uma possibilidade real de que Bolsonaro seja eleito no próximo dia 28, o que causa preocupação geral, mas esta situação agrava-se com a onda avassaladora da extrema direita no mundo, a começar com a eleição expressiva de prosélitos da mesma, em várias democracias europeias, asiáticas de que é exemplo o presidente eleito das Filipinas e ainda a eleição do novo inquilino da Casa Branca, o inqualificável Donald Trump.

Como é que se chegou a algo impensável há duas décadas e porquê? Porque é que as democracias falharam? Desde o fim da segunda Guerra Mundial quem tem estado à frente dos países europeus e americanos? Que regimes têm vigorado neles? Uma dita socialdemocracia, que nunca o chegou a ser, porque privilegiou o regime capitalista mais ortodoxo que beneficiou as minorias e prejudicou as maiorias. Os chamados partidos socialdemocratas, prevalecentes incialmente, foram paulatinamente ultrapassados pelos partidos liberais e ultra liberais, eufemisticamente ditos populares, que hoje constituem a maior força do Parlamento Europeu e dos Estados Unidos da América que representam os mais poderosos e belicistas.

As pessoas estão fartas do mau funcionamento das chamadas democracias, da corrupção, filha dilecta do capitalismo, da imposição do deus dinheiro, do reinado absoluto do dólar que está na base do subdesenvolvimento das várias regiões fornecedoras das matérias primas que obrigam à migração insegura (explorada por máfias impunes), de populações, na esperança de melhores condições de vida, em muitos casos sem concretização.

Os populismos da extrema direita que exalta os êrros das sociedades democráticas, hipocrita e desonestamente prometem este mundo e o outro, uma administração implacável e punitiva, no fim de contas tal como se tornou possível a eleição de Adolf Hitler, com todas as devastadoras consequências desumanas, da fase mais negra da História da Humanidade.

Preocupados com a baixa do défice, a redução das regalias sociais e a protecção das grandes empresas, não se deram conta do afloramento e crescimento das ideias mais reaccionárias, apregoadas sem uma contestação organizada, bem estruturada, a todos os níveis da formação da juventude.

sábado, 13 de outubro de 2018


AS ORIGENS DA MINHA VIRAGEM

Nasci numa família católica tradicional, a minha mãe uma zelosa praticante e o meu pai, presente numa única missa anual, a Missa do Galo, sempre impaciente porque nunca mais se chegava ao fim…

Pela mão de minha mãe, fui seguindo todos os degraus da prática católica, o baptismo, a confirmação e a comunhão solene, da qual conservo um bonito laço branco com uma imagem, hoje bichado por inoportunas traças.

Porque vivíamos no «mato» (Dondo e Novo Redondo), concluida a instrução primária, a necessidade de prosseguir os estudos secundários, obrigou os meus pais a instalar-me em Luanda, róído de saudades. Ao tempo, havia dois liceus, Salvador Correia em Luanda e Diogo Cão em Sá da Bandeira e colégios privados em algumas cidades, além das Missões Católicas e Protestantes. A influência quase permanente da religião prolongou-se em casa de amigos, muito beatos, onde estive uns tempos e interno em dois colégios ligados também à religião católica, um em Luanda, o Colégio Académico e outro, em Sá da Bandeira, o Colégio Infante de Sagres dos padres do Espírito Santo.

Bem comportado, como sempre fui (não é toleima creiam…), os mentores do colégio acompanharam-me sempre, instigando o culto da missa diária, em regra como ajudante do oficiante, comungando também quotidianamente. Estava ali um santo em germe…

Feito o 5º ano dos liceus no Liceu Diogo Cão em Sá da Bandeira, integrei o seu Internato, de muito gratas recordações, frutificadas em grandes amizades que ainda hoje perduram e onde estive (finalmente) liberto do ponto de vista religioso. Neste Liceu fiz o terceiro ciclo, 6º e 7º anos, em 1954, dispensando do exame de aptidão à universidade, com a média de 14 valores.

Entretanto, a minha irmã mais velha fez um casamento religioso e eu ajudei à missa da cerimónia.

Porque o nosso ano lectivo em Angola terminava em Dezembro, só ingressei na Universidade em Outubro de 1955, na Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa (única escola de MV em Portugal), pois o ensino universitário em Angola só foi finalmente criado, como Estudos Gerais, em 1963, depois da eclosão da Guerra Colonial em 1961.

A abertura à sociedade lisboeta, diferente sob todos os pontos de vista, foi inicialmente um pesadelo, agravado pela saudade da família e da inesquecível terra mãe.

O hábito da missa ao domingo persistiu, sem falhas, mas à medida que o tempo foi passando, a ida à Igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, passou a realizar-se, sobretudo, pelo interêsse na saída da santa missa das 10 horas, das jovens e atraentes praticantes.

O iniciado contacto com os colegas nas aulas e na Associação dos Estudantes e as actividades culturais nelas desenvolvidas e, mais ainda, com as associações de estudantes dos outros cursos e universidades, abriu-nos os horizontes que se consolidaram nas diversas associações culturais, incluindo os cineclubes, particularmente o Cineclube Universitário de Lisboa, no cinema e no teatro, onde sobressaiu o Teatro Dona Maria II a Companhia brasileira de Maria Dellacosta e as sessões culturais e recreativas na CEI (v/adiante).

Aos banhos de cultura referidos juntou-se, com imensa importância para mim, a compulsão da leitura estimulada por um colega mais velho, um camponês saloio que, aos 20 anos, com a 4ª classe, decidiu estudar e concluir o Curso de Medicina Veterinária 7 anos depois. Foi com ele, o meu colega Guilherme Paisana, que me iniciei na leitura do grande, muito grande escritor brasileiro, Jorge Amado, desde Os Capitães da Areia aos Subterrâneos da Liberdade que ele me foi emprestando.

A par de Jorge Amado, outros grandes escritores foram por mim descobertos, como Stendhal, Sartre, Marx, Camus, Capote, Eça, Arthur Miller, Joyce, Mann, etc.

Aos poucos, sem esquecer os valores que me foram incutidos pelos meus pais, fui-me interrogando sobre o que trouxera, em termos sociais, culturais, filosóficos, religiosos de Angola, constatando que muito pouco ou quase nada tinha sido, salvo um certo acéfalo fanatismo religioso aceite sem discussão, isto é, sem qualquer avaliação crítica. Este vazio deu-me conta de que eram insignificantes ou mesmo nulas as minhas preocupações com a vida em Angola, sobretudo os aspectos sociais com o subdesenvolvimento dos povos do país, como mais de 90% de analfabetos, vivendo no limiar da pobreza extrema.

A insegurança que as dúvidas sobre a religião e a crença acrítica, então tabus quando cheguei a Portugal, se levantaram em mim, tiveram um lenitivo na leitura do Drama de Jean Barois de Roger Martin du Gard e também nas obras de Jorge Amado, de Sartre e de Camus. Tudo foi posto em causa, tornando possível a livre definição de um rumo sem peias nem medos, por irrelevantes.

Por fim, uma outra significativa e frutuosa etapa da minha vida de jovem adulto foi a entrada, em 1957, na Casa dos Estudantes do Império (CEI), num ambiente de convívio fraterno que todos queríamos transplantar para os nossos países de origem, no meu caso Angola. É oportuno referir agora que foi nesta Casa que conheci a minha mulher, Maria Amália, minha companheira de sempre e apoiante na definição do meu rumo.

Hoje e desde então, com a profunda reflexão que levei a cabo, considero-me um homem livre de preconceitos ou sujeições idólatras.






sexta-feira, 12 de outubro de 2018

OS MONSTROS SEM CABEÇA

Aí está de novo, numa insistência injustificada, Cavaco Silva, reincidindo em escrever à laia de epitáfio. Epitáfio ou inscrição tumular que ele bem merece, depois de ter estado décadas e décadas a infernizar a vida dos portugueses, sem nunca se ter dado conta da sua pequenez mental e facial, tocando a burrice. De resto, generalizadamente, é considerado o pior presidente da republica eleito democraticamente, a única característica que o diferencia de Américo Thomaz.
Agora surge com novo livro autobiográfico com os velhos assuntos que o atormentaram e, pelos vistos, atormentam. Do fundo do seu túmulo, vocifera dizendo que o governo do PS apoiado pelas esquerdas, durante os ultimos 4 anos, não foi bom para Portugal. Os seus parceiros ideológicos, à falta de argumentos que corroborem a sua opinião, apesar de dizerem que tudo vai mal, não deixam de reconhecer aquilo que a maioria dos portugueses sentiram e sentem, a melhoria das suas condições sócio-económicas, tal como a UE, a OCDE, o FMI e as entidades privadas avaliadoras do evoluir da situação que acabaram por retirar o país dos lixos, onde o país se atolou nos anos 2012 a 2014. Ora para este homem de muito pequena estatura nada disto conta.
Por outro lado, é bom não esquecer os embrulhos, muito pouco claros, em que ele esteve metido oportunisticamente, como as acções do BPN, a casa da Coelha, etc., etc., e também os seus dilectos protegidos como Passos Coelho, Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Duarte Lima, Luis Macedo, Arlindo Carvalho, ao jeito de «Diz-me quem são os teus amigos e eu dir-te-ei quem tu és».

No Parlamento discutiu-se ontem o aumento do Salário Mínimo (SM), tendo sido rejeitada pelo PS, PPD e CDS, a proposta do PCP para 650€. Toda a artilharia anti PCP foi destilada pela direita, em particular o CDS, que se atreveu a dizer que tudo quanto foi aprovado para os trabalhadores, mereceu o voto contra do PCP. O assunto foi remetido para discussão na Consertação Social, onde seguramente irá vingar, como sempre, a «moderação» da UGT que tem uma proposta de 615€ ....a que, eventualmente, serão acrescentados uns pós para camuflar a estreiteza deste outro monstro descabeçado, a Consertação Social de sentido único.
Em Espanha, o SM vai passar para 900€....

terça-feira, 25 de setembro de 2018


AS LICENCIATURAS PRÉ-BOLONHA NÃO SERÃO EQUIPARADAS A MESTRADOS
Segundo o ministro do Ensino Superior e da Ciência, as licenciaturas pré-Bolonha não serão equiparadas a mestrados. Independentemente da finalidade a que tal se destinaria, sem sarcasmo pergunto: aquelas licenciaturas de cinco, seis ou mais anos, de centenas de milhar de licenciados de dezenas e dezenas de Cursos Universitários, obtidas ao longo de décadas e décadas, são equiparáveis às licenciaturas Bolonha de 3 (três) anos?
A propósito, ouvi esta manhã na TSF que aqueles menosprezados e desvalorizados licenciados se quizerem ser mestres terão de dispender verbas avultadas para o conseguir…
Mas o que é isto senhor ministro do Ensino Superior e da Ciência, actual e anteriores, deputados da Assembleia da Republica, responsáveis pelas Universidades, lentes, reitores, catedráticos, bastonários das Ordens Profissionais, sindicatos que aceitaram as normas de Bolonha para «normalizar» num modelo único a formação universitária no sistema europeu, esquecendo-se de acautelar os interêsses dos licenciados anteriores a essas normas e da massa crítica que eles representavem e representam ainda?
Quando me licenciei, em 1961, em Ciências Médico-Veterinárias pela Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa, único estabelecimento de ensino universitário veterinário em Portugal, até 1978,  foi-me passado o Diploma respectivo, em papel pergaminho, com sêlo lacrado em caixa de prata genuína, com fitas amarela e branca, entregue num estojo em latão, na gíria o canudo, o qual me conferiu o título de Médico Veterinário, a carta de alforria da profissão medico veterinária.
Passados 57 anos de licenciatura e dos cargos e funções que desempenhei, como oficial miliciano veterinário, em investigação e apoio à produção animal e saúde pública no IIVA, em Biologia Pesqueira na MEBPA, no ensino veterinário na FMV do Huambo, em patologia de peixes e aquacultura no INIP/IPIMAR e professor convidado das Universidades do Porto, Algarve, Técnica de Lisboa, Évora e Coimbra, aposentei-me da Função Pública em Agôsto de 1996.
Concluindo e considerando a polémica actual que me nega, sem efeitos práticos mas afectando a minha dignidade profissional, equivalência justa ou então equiparação à licenciatura de Bolonha…. recordo-me de que, em tempos, no Reino Unido a minha licenciatura, a nossa licenciatura em Ciências Veterinárias, para efeitos profissionais, equivalia ao Master in Veterinary Medecine.
Esta é mais uma forma de desrespeito e desprezo pela qualidade e competência profissional de milhares de licenciados, considerados descartáveis.

sábado, 22 de setembro de 2018

INFARMED IS FAR FROM PORTO
Acabo de ouver a notícia de que o governo decidiu anular a transferência do INFARMED de Lisboa para o Porto. Ainda bem que a razão e o bom senso prevaleceram, anulando-se uma decisão absurda que correspondia a um frete político inadmissível, pondo em causa o interêsse nacional e o prestígio internacional que esta instituição granjeou o que, a meu ver, terá inviabilizado a instalação em Portugal, concretamente no Porto, da Autoridade Europeia do Medicamento..
As primeiras reacções, umas são favoráveis à decisão e outras desfavoráveis, como seria de esperar. Contudo, é miserável que haja quem queira transformar este assunto em mais uma guerra Lisboa/Porto ou Norte/Sul, conflitos esses que têm servido para acicatar e cultivar um certo ódio irracional, sobretudo nos futebóis, mas não só, o que abrange quase todos os portugueses, ao classificar, com intuito depreciativo, de mouros as gentes do sul do país.
O INFARMED, Instituto da Farmácia e do Medicamento, é uma instituição de grande dimensão nacional e internacional, dotada de pesada infraestrutura laboratorial muito diversificada, com pessoal altamente qualificado em toda a pirâmide organizacional, o que implicou um colossal financiamento. Qualquer medicamento a utilizar em medicina humana como em medicina veterinária, é obrigatoriamente testado neste Instituto, para avaliação de todas as implicações para a saúde pública e meio ambiente e, só depois desses testes, poderá ser autorizada a sua entrada no mercado nacional e de outros países.
Não estão em causa a capacidade e as condições excepcionais que o Porto tem, com instituições de muito elevado nível científico e educacional no país e internacionalmente e não seria um infarmed que acrescentaria mais ao alto gabarito da cidade e da região, reconhecido por todos.
A eventual trasladação do INFARMED de Lisboa para o Porto implicaria um gigantesco financiamento para a duplicação das infraestruturas e recursos humanos, um impacte psicológico e social de consequências incomensuráveis nos cerca de 400 trabalhadores e respectivas famílias e, não menos significativo, do ponto de vista social e económico nos locais onde está instalado.
Quando alguém pensou, com intenções essencialmente eleitoralistas, numa intempestiva mudança, esqueceu-se de consultar previamente os trabalhadores e pessoal dirigente que não são mera mercadoria para encher vagões ou camiões-tir e, por outro lado, o INFARMED não é uma pequena fabriqueta que se implante num vão de escada.

sábado, 15 de setembro de 2018

DE VOLTA

Amigas(os)
Após uma paragem, mais longa do que à partida pretendia demorar, eis-me de volta ao vosso convívio, através deste meu blogue.
Chegar-vos-ei para discutirmos os temas (e serão muitos…) que me despertarem a atenção e, como sempre, as minhas opções político-ideológicas estarão presentes, sem desculpas.
Um grande abraço
Jaime