domingo, 20 de agosto de 2017

A DESCOLONIZAÇÃO DE ANGOLA E O GEN. SILVA CARDOSO



Li anteontem uma notícia no FB sobre a opinião de um historiador àcerca das confissões do gen. Silva Cardoso, ex-Alto Comissário em Angola, e de imediato senti-me na obrigação de comentar a dita, atendendo a que a vivi intensamente, embora preservando a família, perdi quase tudo o que tinha, material e afectos. Entretanto, não fixei o nome do historiador em causa e, por outro lado, não consigo reencontrar a notícia. Omitindo o seu nome não quero deixar de emitir a minha opinião sobre o assunto.

Ainda que a sua apreciação seja crítica, a avaliação do processo de descolonização de Angola não pode limitar-se às memórias do Gen. Silva Cardoso, pois seria uma provocação ao 25 de Abril de 1974, à libertação de Portugal e das colónias, após quase 50 anos de ditadura fascista. Silva Cardoso demonstrou-se retrógrado, com espírito colonialista e com uma certa saudade do estado velho.

O historiador afirma a certa altura que num ápice opinativo, Silva Cardoso considerou traidores os autores da descolonização que quiseram acabar rapidamente com a guerra colonial e levar a cabo com celeridade a emancipação (o homem estava perturbado) dos povos coloniais, pela nefasta influência dominante dos comunistas e pela vaidade de Mário Soares por quem revelou uma inimizade clara ao considerar que não ouviu os povos coloniais e que foi condicionado pela influência soviética e pelo ódio ao Salazarismo. Num pequeno àparte, deixo claro que não me move nenhuma simpatia por Mário Soares, mas o seu a seu dono.

No entanto, o historiador não considera os aspectos seguintes, a meu ver, relevantes para compreensão do fenómeno descolonização de Angola:

1.    A descolonização levada a cabo resultou da obstinada e criminosa recusa de Salazar em corresponder aos apelos dos movimentos de libertação para conversações na década de 50, do séc.XX, às pressões da opinião pública internacional, incluindo as dos seus amigos que não quizeram legitimar abertamente a sua política colonial.

2.    Os movimentos de libertação eram efectivamente os legítimos representantes dos colonizados, a maioria negros, mas também mestiços e brancos não racistas.

3.    É bom lembrar que logo a seguir ao 25 de Abril, uma das primeiras palavras de ordem nas ruas de Portugal, compreensível depois de mais de 13 anos de conflito mortífero, foi o fim da guerra colonial e a interrupção do envio de tropas para as colónias. Passaria pela cabeça de alguém, a não ser na de Silva Cardoso ou de outra gente do tempo velho, em impor que se mantevesse e reforçasse as tropas, que se parasse uns tempos e promovesse um referendo sobre o futuro político da colónia ????

4.    Entretanto nas colónias surgiu logo a exigência da independência sem restrições, pelos seus movimentos de libertação.

5.    A persistência, inicialmente com poderes intocados, da pide, acolitada pelas outras organizações salazarentas, teve efeitos muito nefastos ao atacar o MPLA com a verborreia salazarista anti-comunista para dele afastar a minoria branca, ao fomentar o ódio racial anti-negros e, numa terceira fase ao incentivar a fuga maciça dos colonos através de todos os meios ao seu alcance.

6.    Antes de concluir, enfatiso que o racismo também se manifestou violentamente contra os brancos, com graves incidentes e numerosas vítimas, agudizando-se assim as relações entre as duas comunidades, já de si muito tensas.



Concluindo, a descolonização de Angola foi a possível naquelas circunstâncias e poderia, deveria, ter sido exemplar se Salazar não se mantivesse enquistado no seu casulo de sacristão e encetasse conversações com os movimentos de libertação, com vista à sua autodeterminação e ulterior independência