domingo, 15 de janeiro de 2012

INCOMPREENSÍVEL REINCIDÊNCIA

Há dias foi divulgada nova sondagem de opinião política dos portugueses, onde não se incluem aqueles com mais de 65 anos de idade que estão impedidos de se expressar, tanto sobre o tema em questão como sobre qualquer outro. Ora numa população envelhecida como a nossa (cerca de 20% de idosos) está excluída parte significativa da mesma, para além dos outros critérios de avaliação discutíveis.
Contudo os resultados são surpreendentes pois coincidem com os das últimas eleições legislativas, apesar de tudo quanto aconteceu ulteriormente e se vislumbra para o futuro próximo.
Lembremo-nos então da redução dos salários e das pensões, da retenção do 13º e do 14º meses, do aumento do IVA com repercussão em todos os sectores e produtos sobretudo nos que afectam a maioria, do aumento das taxas moderadoras e das consultas nos Centros de Saúde e Hospitais, do aumento do numero de horas de trabalho não pago, do despedimento a bel-prazer dos «empreendedores», da subida em flecha do desemprego resultante das políticas governativas, do progressivo e inocultável empobrecimento dos cidadãos e cidadãs, conducente ao quase desaparecimento da classe média, do desbragado clientelismo em todo o seu esplendor e das justificações obscenas e néscias do chefe do governo a propósito das «escolhas» para as administrações da EDP e das Águas de Portugal e até das tiradas irresponsáveis, senão criminosas, de dirigentes da maioria, como as de Passos Coelho e Relvas incentivando a emigração dos nossos quadros jovens, no seu conceito sem futuro no país e da Ferreira Leite, implicitamente sugerindo a eutanásia dos insuficientes renais, do incumprimento sistemático da palavra dada, do uso sem vergonha da mentira como meio de persuasão, da permanente desculpa (até quando???) com a actuação do governo anterior, do qual tem seguido as pisadas, agravando-as, e tantos, tantos, outros malefícios que se acentuarão nos próximos anos.
Perante esta realidade como se explica a cegueira política desta singular escolha contra natura, particularmente nas regiões mais desfavorecidas do país? Por masoquismo não é seguramente. É sim a persistente influência nefasta de organizações e pessoas que controlam tudo e todos, especialmente os mais vulneráveis, vítimas da sua gritante falta de instrução e cultura.
Não terá sido inocente a redução drástica do orçamento da Secretaria de Estado da Cultura, quando devia ter-se passado exactamente o contrário.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SETECENTOS E TRINTA E SEIS

Há dias, poucos, surgiu uma notícia bombástica (a meu ver) de que mais de 700 cursos universitários (num total de quantos?) não tiveram candidaturas, passando despercebida, sem que tal merecesse a atenção de quem (?) de direito.
Creio que isto não é um fait divers , é antes algo de extrema gravidade que merece a reflexão da Universidade Portuguesa e, particularmente, do Conselho de Reitores, não excluindo os senhores Ministros da Educação e da Cultura.
Antes de mais torna-se curial saber, quais são os critérios que presidem à criação dE novos cursos?
Vem a propósito trazer à colação uma situação por mim vivida, quando bastonário da minha Ordem profissional, pela eventual possível criação de mais um Curso de Medicina Veterinária em Portugal. Era então Ministro da Educação o Prof Vasco Lynce a quem fui manifestar a minha profunda preocupação por tal possibilidade, pois já então existia um inusitado e inaceitável número de Cursos (5), para Portugal mesmo se comparado com países europeus da mesma dimensão, tais como a Holanda, a Dinamarca ou a Noruega. Embora perfilhando da minha opinião, das minhas preocupações, informou-me nada poder fazer pois a criação de cursos universitários não dependia do ministério, a não ser para eventual pedido de financiamento, mas apenas das universidades, das autoridades regionais e de outros grupos de pressão.
Contrariando-se o mais elementar bonsenso, o 6º curso foi criado, enquanto que, nos países atrás citados, antes possuíam dois cursos passaram a ter apenas um.
Este fenómeno de prejudicial incontinência criadora não afectou apenas a Medicina Veterinária mas sim quase todas, senão todas, as áreas do conhecimento das ciências, das letras e das artes, com consequências nefastas para os estudantes e para o país sob o pretenso benefício de uma descontrolada massificação do ensino universitário.
Os responsáveis desta situação não tiveram em conta a empregabilidade dos licenciados, contribuindo significativamente para o aumento de desemprego dos jovens e sua frustração, impondo-lhes salários miseráveis e a emigração.
Estas desastrosas consequências eram óbvias mas, é evidente, que os promotores e organizadores dos inúmeros novos cursos que proliferaram em larga escala e sem controlo, subordinaram tudo e todos aos seus interesses pessoais e, certamente, políticos.