sexta-feira, 11 de dezembro de 2020


A AQUACULTURA UM RISCO PARA A HUMANIDADE???

Acabo de ler uma notícia falsa sobre o alimento mais tóxico do mundo a que se associa a imagem de uma jaula flutuante usada em salmonicultura. Esta perseguição à aquacultura, começada há tempos, vem-se agudizando numa campanha cada vez mais virulenta de fundamentalistas sem escrúpulos. Há uns meses escrevi o artigo abaixo que vos trago e que foi publicada no site da OTC (Organização dos Trabalhadores Científicos)

O fundamentalismo é mais uma forma de fanatismo, com peso de lóbi nos centros de decisão, nomeadamente na UE.
Agora está na moda o «bem estar animal», acima ou ignorando, o bem estar humano.
Por absurdo, por esta visão catrastrofista, acabaríamos por ser vegetarianos Vegan, até que se conclua que as plantas têm sentimentos….
Hoje em dia o pescado, particularmente o peixe, é considerado um alimento de eleição pelo seu alto valor nutritivo, aconselhando-se a sua ingestão, pelo menos 2 vezes por semana.
Acontece que o produto da pesca, industrial e artesanal, tem diminuido, anotando-se perdas significativas desde meados do século XX e a tendência é para se acentuar, pois é um recurso limitado ao contrário do que parecia.
Esta percepção «obrigou» a olhar-se para a produção de pescado em cativeiro, isto é, aquacultura, desde finais do séc. XIX, particularmente de salmonídeos (salmões e trutas) e no séc. XX ela teve um incremento considerável, particularmente a partir da segunda metade, anos 60, na qual se produziram 6,5 milhões de toneladas (MT), A produção mundial da aquacultura em 2014 atingiu os 90,4 MT, sempre em crescendo e aproximando-se da produção pesqueira (93,7 MT) para a ultrapassar antes de 2050. Para este valor cerca de 50% é de peixes (marinhos e de água dôce), 30% de algas e o restante pescado que inclui moluscos, crustáceos, etc.
Sem a produção aquícola, o pescado, com os peixes em particular, seria um produto de luxo, isto é, apenas ao alcance dos ricos. Basta comparar os preços dos produtos da aquacultura com os da pesca, numa relação de 1:5.
Quaisquer peixes como os moluscos (ostra, mexilhão, ameijoa) e os crustáceos (camarão, lavagante, lagostim de água dôce) são susceptíveis a doenças, situação que se agudiza na produção em cativeiro com grande concentração de animais. Ora o objectivo primordial em aquacultura, como na pecuária, na avicultura, etc., é prevenir, impedir a entrada dos agentes de doença e sua ulterior disseminação.
Assim, a eventual prescrição preventiva e curativa de medicamentos em aquacultura, como em toda a produção animal, é uma prerrogativa do médico veterinário especialista, cuja ética profissional o obriga a respeitar o bem estar animal, a saúde pública e o meio ambiente.
A utilização de outros produtos químicos, potencialmente tóxicos quer para os peixes, como para o consumidor e meio ambiente, tem de obedecer também às estritas regras descritas para os medicamentos. É o caso de alguns pesticidas organofosforados, usados em aerossóis, na luta contra parasitas externos, cujo poder residual na água e sedimentos é mínimo, ou mesmo, nulo e também não se acumula nos peixes, i.é,. sem afectar o consumidor.
Estas regras podem ser postergadas por gente sem escrúpulos o que demonstra a importância vital da vigilância permanente do funcionamento dos estabelecimentos de aquacultura, por parte das Autoridades Sanitária Animal Nacional (o Serviço Veterinário) e Comunitária, em conjunto com a da Protecção do Meio Ambiente e dos Recursos Vivos Aquáticos.
A Noruega, o maior produtor mundial de salmão atlântico cultivado, país reconhecidamente civilizado, tem montada toda a estrutura competente atrás referida e não facilita em serviço, sob pena de ver ruir toda a sua gigantesca indústria salmonícola.
O vídeo do alegado ecologista norueguês é um arrazoado alarmista, inconsequente e irresponsável. Se aquela aplicação de pesticida em aerossol que ele mostra, durante a qual os tratadores usam (óbviamente) máscaras e impermeáveis, é tão virulenta que mata os peixes todos que depois são consumidos, como subsiste ainda a salmonicultura e quantos milhares de consumidores já teriam morrido pelo consumo do produto contaminado?
Sobre o Pangasius, o peixe-gato vietnamita, amplamente cultivado no Vietname, é exportado em filetes para a Europa e outros continentes, estando sujeito obrigatoriamente a um contrôlo laboratorial apertado antes de ser vendido para consumo. Também neste caso pode, eventualmente, haver comerciantes sem escrúpulos que não obedecem aos preceitos estabelecidos, mas isso está nas mãos das autoridades ditas competentes.
Jaime Menezes
Paço de Arcos, 16 de Maio de 2016