domingo, 23 de dezembro de 2012

VITALÍCIO DECLÍNIO


O DN de hoje tem na primeira página, com destaque e vídeo, a notícia seguinte:

«FLIRT» COM PARTIDOS À ESQUERDA É UM EQUÍVOCO…

O eurodeputado socialista Vital Moreira não acredita numa frente de esquerda do PS, do Bloco de Esquerda e do PCP contra a política do Governo de Passos Coelho: "Não há nenhuma sinceridade nisso.
Sou daqueles que, no PS, entende que qualquer 'flirt' com os partidos à esquerda do PS é um equívoco, sem condições para vingar. E mais, só cria mal entendidos

No estado actual em que os portugueses sentem fortemente uma crise criada (e em vias de terrorista ampliação) pelo governo e a maioria que o sustenta, surge esta «boutade» de Vital Moreira. Por mais que o eurodeputado «socialista» apresente os fundamentos sagrados da sua opinião, ela é, objectivamente, um apelo à rejeição de qualquer concertação entre os partidos de esquerda e, a contrario, tem subjacente a defesa de um arranjo do PS com o PSD e o CDS, numa coligação desejada e abençoada pelos comentadores oficiais, pela direita parlamentar e extra-parlamentar e pelos media em geral que são propriedade dos grandes senhores do país.
Ora bem, afinal Vital quer mais do mesmo, defende a aliança que vigora desde o 25 de Novembro de 1975 e que tem sido responsável da actual situação sócio-económica e financeira de Portugal?.
Ainda não lhe parece, senhor prof.Vital Moreira, que aquilo de que as portuguesas e os portugueses precisam, como pão para a boca, é de outra orientação política da governação que assuma os valores de solidariedade, dê prioridade ao estímulo do desenvolvimento da economia, à protecção social, à saúde e ensino para todos, à remuneração justa de todos os trabalhadores e, por outro lado, à devolução dos esbulhados salários, incluindo os 13º e 14º meses?
Porque será que a Espanha conseguiu agora dilatar o prazo de pagamento da sua dívida enquanto que Victor Gaspar e seu acólito Passos Coelho preferem, por teimosia e desmascarada traição, continuar a sobrecarregar os mais desfavorecidos, declarando que o país está muito bem assim? S.Exa. também está de acordo que os portugueses não podem continuar a usufruir de um Serviço Nacional de Saúde universal pelo que têm de o pagar e já estão a fazê-lo, cada vez mais oneroso? E sobre a educação e o ensino, deve substituir-se o público pelo privado e quem tem capacidade financeira estuda e que não tem pára?
Hoje em dia, apesar do massacre quotidiano dos media em defesa da situação, cresce o descontentamento e o desejo de mudança, de novas oportunidades para todos e não apenas para uma minoria possidónia o que, obviamente, pressupõe uma alternativa governamental de esquerda.
Vem a propósito uma opinião de um amigo meu, homem de direita, expendida há dias quando afirmou: «o país não tem solução sem que todas as forças políticas nacionais, sem excepção, se juntem e discutam-na abertamente».
Considera então, Vital Moreira, que uma alternativa de esquerda é um equívoco?

Concluindo, vem a talhe de foice, referir que têm surgido, desde o 25 de Abril de 1974, políticos cuja ambição desenfreada de sucesso pessoal tem resultado em queda aparatosa, obrigando-os a saltitar de partido em partido sem conseguir o almejado objectivo de poleiro.
Depois do Barreto, da Zita e de muitos outros trânsfugas, tinha chegado a vez de Vital a quando das ultimas eleições europeias, tendo então caído com estrondo, sem honra nem glória.
Agora, como ninguém aparecesse a dar-lhe o galarim, vem dar uma mãozinha ao status quo, diabolizando os partidos de esquerda, alertando a direcção do «seu(?)» partido contra os perigos de uma eventual aliança à esquerda.
Engraçado, tal como a outra e o da anti-reforma agrária, tem como inimigo de estimação a sua origem partidária. Triste declínio para um então prometedor tribuno e líder partidário que quis dar um passo maior que a perna....


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

FALTA DE PUDOR E SERIEDADE

Nos últimos tempos, os defensores do status quo utilizam argumentos que, um mínimo de decência, os tornaria indefensáveis. Vejamos alguns casos que explicitam essa prática insidiosa.

A RDP-Antena1 tem mantido um programa diário, o Conselho Superior, exemplar pela diversidade de opiniões dos convidados, de esquerda e direita, ao longo da semana, numa inequívoca e louvável demonstração de liberdade de imprensa. Creio que os ouvintes, como eu, seguem, com muito interesse, as várias intervenções, com maior ou menor agrado.
Todavia, como classificar justificações com pés de barro, para não dizer nada sérias? Foi o caso de hoje, o do autarca médico de Gaia, interventor das segundas feiras, que no frenesi de defender o governo actual, se socorreu dos elogios de Ângela Merkel, da troika, do FMI, do BCE, da direcção da UE, para combater quem o verbera e desnuda quotidiana e consistentemente. Ora quem são estes personagens que louvam a actuação governamental que afecta tão negativamente os portugueses? Nada menos que a monolítica maioria de direita que domina a Europa, sintonizada na austeridade da austeridade, no castigo dos países mais pobres, maioria obcecada pelo défice do qual beneficiaram e beneficiam os países mais ricos, nomeadamente a Alemanha. Só quem estiver distraído não identifica esta espúria argumentação.

A qualidade das discussões actuais na Assembleia da Republica não tem atingido o fulgor das subsequentes ao 25 de Abril e, infelizmente, hoje em dia, vale tudo, a falta de argumentos sólidos «obriga», em ultima instância, ao recurso de grave insulto, tão comum no estado velho salazarento. Aconteceu na semana passada, quando um deputado da extrema direita parlamentar, por sinal chefe da sua bancada, perante a opinião do presidente do Grupo Parlamentar do PCP e na falta de base séria para o contrariar, truculento invocou a despropósito a União Soviética!!! Foi pena que os deputados ofendidos não tenham ripostado, denunciando a má consciência de quem revelou, desta maneira, a sua ascendência política directa.




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

AUTODEFESA??????


A tragédia da 2ª Guerra Mundial, provocada pelos governantes alemães (tal como a 1ª), que levou à destruição nos países beligerantes, ficou gritantemente marcada com o sangue de mais de 6 milhões de seres humanos, a maioria judeus, mas também comunistas, homossexuais e outros seres «considerados inferiores», assassinados paulatina e friamente em câmaras de gás.
O genocídio nazi deixou marcas terríveis, nomeadamente  dilacerantes imagens fotográficas obtidas pelos aliados nos campos de concentração onde encontraram sobreviventes, homens, mulheres e crianças em estado de máxima miséria física e psíquica, os fornos crematórios, os compartimentos contendo dentaduras, cabeleiras, sapatos, outros haveres do sentenciados, a vedação dos campos com arame farpado e as guaritas elevadas dos guardas que atiravam a matar nos que tentavam escapar-se.
Apesar da ampla documentação sobre a barbárie nazi, os testemunhos de sobreviventes e até de civis e combatentes alemães, hoje ainda há quem queira negar a macabra ocorrência, os designados negacionistas, declarando sem rebuço, que se trata de mistificações arquitectadas por comunistas e outros «malvados» para denegrir a imagem exemplar do «nacionalismo alemão».
A memória do que aconteceu não se apaga, esperamos que não volte a repetir-se e, por isso, todos aqueles que prezam a paz e a defesa dos direitos humanos, devem, têm, de estar atentos e activos para que isso não aconteça.
Contudo, há décadas que se passa algo no Médio Oriente de que os negacionistas se vangloriariam e, o que é mais chocante, é o atropelo dos direitos humanos pelos governantes de Israel, cujo povo sofreu o morticínio sistemático do nazismo.
Sob a hipócrita capa da autodefesa, em resultado, dizem, de ataques levados a cabo por palestinos, atacam maciçamente o enclave de Gaza como os outros territórios da Palestina, quer através de mísseis, como do bombardeamento aéreo ou de terra, quer ainda pela invasão com meios de destruição maciça. Ironicamente, ainda se gabam de neutralizar a maioria dos roquetes do «inimigo» através de sua sofisticada defesa anti-míssil, isto é, dispõem de armamento e meios os mais modernos, «oferecido» pelos governantes  amigos dos países mais poderosos do planeta, para além de serem detentores de armas nucleares.
A propósito, pergunto: porque é que, as agências noticiosas do chamado mundo livre e os media do mesmo, nunca divulgam o número de vítimas dos dois lados, Palestina e Israel, em cada conflito repetido ao longo dos anos pelos governos israelitas? Por alto, a relação poderá ser de 10, 20 ou mais para 1, além da destruição em massa de infra-estruturas e equipamentos palestinos.
Entretanto, também será um êrro inaceitável tentar o branqueamento da actuação de extremistas fundamentalistas palestinos que encontram terreno favorável nas continuadas agressões israelitas.
 Perante a grave situação na região qual é a reacção da UE, da NATO, da ONU? Aconselham Israel a moderar os ataques pois reconhecem-lhe o direito à autodefesa!!!! Por outro lado a Liga Árabe demonstra a sua total impotência e o mêdo das retaliações dos donos do poder.
Em aparte, uma ultima questão se me afigura: porquê palestinianos em lugar de palestinos? A haver coerência, devia deixar de se dizer argelinos e usar argelianos ou algerianos, tunisianos em vez de tunisinos, marroquinianos para marroquinos. Fica no ar a interrogação muito embora esta pequena controvérsia seja quase nada perante a dimensão aterradora dos genocídios antes referidos.




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MANIFESTAÇÃO DE INIQUIDADE

Realizou-se ontem a greve geral convocada pela CGTP-IN, na qual participaram milhares de trabalhadores de todas as actividades laborais o que teve significativo impacte nacional, conforme o reconheceram todas as entidades consultadas e, pela primeira vez, o governo coibiu-se, ajuizadamente, de contrariar a avaliação de evento de grande expressão nacional e internacional.
Os motivos que justificaram a greve estão contidos na proposta de orçamento de estado para 2013 que muito agrava as condições de vida da maioria dos portugueses, tornando insustentável a situação. De facto, aquele documento governamental, intensifica o empobrecimento e a fome, já hoje patente no regresso da sopa dos pobres e, parece quase inevitável, o reaparecimento dos bairros da lata o que, infelizmente, já possibilitou o recrudescimento da caridadezinha tão incensada no defunto estado velho salazarento.
Por outro lado, é quase unânime na sociedade portuguesa a condenação do rumo escolhido pelo governo, em particular pelo primeiro-ministro e pelo ministro das finanças, cuja obstinação irracional poderá levar o país para um descalabro social de dimensões difíceis de quantificar. Neste momento, antever uma luz ao fundo do túnel é irrealizável com estes governantes e, por isso, se impõe a sua urgente demissão.
Ora deveria estar chegando a altura de uma atitude responsável do presidente da república, pondo côbro à actuação perniciosa do primeiro-ministro, seus ministros e secretários de estado. Em lugar disso, a despropósito, numa manifestação de meu gosto, insensibilidade e falta de senso, Cavaco presidente desta república, perorou durante a greve geral de ontem, afirmando que trabalhou nesse dia e acrescentou um elogio àqueles que, como sua insolência, furaram a greve. Mesmo que tenha afirmado a seguir e a contra-gôsto o direito constitucional à greve, tal não invalida a sua miserável opção condenatória da greve geral, das justas razões que a provocaram com o apoio generalizado dos portugueses e europeus, o que tem subjacente o apoio implícito ao governo e ao seu programa destruidor do país.
Fura-greves ou manifestação de iniquidade? Uma vez mais foi igual a si próprio, demonstrando, à saciedade, a sua incapacidade para o desempenho das funções para as quais foi eleito e, desgraçadamente para Portugal e portugueses, reeleito.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O ESTADO MÍNIMO

Victor Gaspar ministro das finanças, é antes ministro do orçamento, como o apodou o Prof. Adriano Moreira, porque a sua única preocupação é o orçamento e o défice. Este insensível membro do governo acha que os portugueses não podem continuar a ter o estado social porque, antes de mais nada, é preciso reduzir a despesa e, portanto, vão acabar por perder o direito a ele.
É espantosa a desfaçatez deste homenzinho que veio lá das profundezas da CE com o encargo expresso de desfazer tudo aquilo que foi construído pela democracia, isto é, a seguir ao 25 de Abril de 1974, em benefício dos portugueses e de Portugal. Ele faz lembrar o Botas quando veio da sacristia como salvador da pátria e depois deu no que deu, contribuindo para o grande atraso em relação ao mundo civilizado, de mais de 50 anos. Este Gaspar seguirá o mesmo se não travado a tempo.
Senão vejamos, a Segurança Social é sustentada pelo orçamento do estado? Não, não é. São os trabalhadores que a alimentam com os descontos que lhes são feitos ao longo da sua vida activa e, agora, na situação de reformados e pensionistas. Porque é que ela está em risco? Porque são cada vez menos os que para ela descontam, já porque no contexto criado por este governo (e pelos anteriores) o grande objectivo foi a precarização do emprego, com o uso e abuso dos recibos verdes, cujos trabalhadores não contribuem para a segurança social. Da segurança social é também retirado o subsídio de desemprego que tem sido activamente fomentado pela política errada do governo. Por outro lado, os recursos da segurança social são desviados para outros fins por quem nos tem desgovernado. São estas as principais razões responsáveis da descapitalização da segurança social.
O que está em causa é a clara opção ideológica que norteia o governo actual, à cabeça o ministro Victor Gaspar, obcecados pela implantação do estado mínimo, com a primazia do privado. A radical política de saúde actual conduziu ao quase desaparecimento do Serviço Nacional de Saúde em favor do sector privado. Também na Educação o estado mínimo está em curso, prejudicando seriamente as famílias com o lançamento no desemprego de milhares de professores, provocando o retrocesso do processo educativo nacional.
Dentro da mesma linha de actuação destruidora avoluma-se o desejo explícito de rever a Constituição da República no sentido de se apagar qualquer vestígio do 25 de Abril. Ainda hoje um qualquer patrão dizia, a propósito das greves parciais nos portos, é preciso acabar com as greves, pô-los a trabalhar e, acrescento eu, nas condições mais favoráveis, isto é, sem direitos e com muito baixos salários.
Privatizar, privatizar é a preocupação máxima deste governo e, senão nos precatamos, privatizam a Casa da Moeda, o Banco de Portugal, as reservas de ouro e tudo o que for rentável. Como interrogava o outro, já agora, porque não privatizam as mães deles?

A ESTÓRIA REPETE-SE


É um verdadeiro sobressalto o que pode resultar do conluio entre o governo e a UGT, denominada União Geral de Trabalhadores (não é dos trabalhadores por acaso?), que, uma vez mais, dá uma mãozinha ao poder.
Aproveito para trazer à colação (parafraseando o primeiro-ministro) as ultimas intervenções críticas de Torres Couto, anterior secretário geral daquela organização.
De facto, em primeiro lugar o Ministro da Segurança Social (bonzinho que ele é !!!), declara-se aberto a negociar alguns dos pesadíssimos agravamentos previstos para o OE 13. Pois bem, logo a seguir o secretário geral da UGT afirma que vai fazer tudo para reduzir as implicações sociais negativas (sinceramente, haverá alguma positiva?) do OE 13. Assim, antevê-se a tentativa de branqueamento de algo que nem a lixívia mais concentrada o conseguiria....
Está mesmo a ver-se que não houve combina nenhuma que é mera coincidência, como o foi a convergência na «Concertação Social» do governo, patrões e UGT que tornou a legislação laboral num mero instrumento dos empreendedores (agora não há patrões…) para seu proveito, com o apoio dos governantes e a inefável contribuição desta Central «Sindical».
Este acordo concertado é sistematicamente brandido contra os malvados da CGTP, central sindical que representa muito poucos sindicatos e pouquíssimos trabalhadores, organizadora de manifestações irresponsáveis de centenas de milhar de figurantes que põem em causa o consenso e a estabilidade social. Hoje em dia, só os mais empedernidos anti-comunistas e anti-esquerda em geral, aceitam esta argumentação balôfa, impingida por uma cassete quotidiana alimentada pelos media.
O pior para estes amantes da paz social podre é que os portugueses tomam cada vez maior consciência de como estão a ser vitimas de objectivas e intencionais políticas desumanas, ao mesmo tempo que começa a ter-se a noção da sua força desde que se unam e actuem

domingo, 14 de outubro de 2012

A IGREJA SEMPRE, SEMPRE AO LADO DO PODER


A hierarquia da Igreja Católica portuguesa habituou-nos à sua predilecção pelo poder, tão abjectamente obscena no reinado salazarento e particularmente em Angola, mas também nas outras colónias. Não esqueço, a propósito, algumas estimáveis excepções, como as dos então bispos do Porto e da Beira em Moçambique e dos muitos padres que remaram contra a maré, em defesa da liberdade de expressão, no combate ao racismo e em prole dos desfavorecidos, principalmente dos africanos negros. A sua execrável actuação estava em sintonia, nos mais pequenos pormenores, com o status quo de então. Recordo uma preciosidade daquele tempo, a rejeição de casais não casados pela Igreja Católica para padrinhos de baptismo de crianças ou adultos. Ser casado pelo civil era considerado um mero concubinato.
Trago à colação este tema na sequência da triste e lamentável alocução do patriarca de Lisboa, senhor José Policarpo, contra as manifestações indignadas e decididas, levadas a cabo por muitos milhares de cidadãs e cidadãos que sofreram e sofrem a actuação deste governo que não respeita nada nem ninguém e que através de austeridade sobre austeridade reduz drasticamente salários, pensões e benefícios sociais, empobrecendo a maioria, esquecendo-se sempre de taxar os ricos que continuam a engordar à tripa fôrra.
Ora o senhor patriarca fez aquilo que o seu antecessor Cerejeira não enjeitaria, embora o seu dislate seja mais grave porque vivemos (ainda) em democracia, ao afirmar que as manifestações dos indignados e fartos desta política esbulhadora não levam a parte nenhuma, deixando implícita a sua clara defesa do governo e da sua orientação destruidora.
Caladinhos, não há motivos para reivindicar seja o que for, os governantes estão no caminho certo, eles é que sabem, não sejam mal agradecidos: patriarca dixit, parado no tempo! Eu já ouvi isto, só faltou a invocação do inferno, o castigo de Deus e a ameaça de excomunhão.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DEMISSÃO DAS RESPONSABILIDADES

Já ninguém duvida que a crise está aí, veio para ficar e ainda a «procissão vai no adro», só não se sabe até quando. Todos os dias se fica a saber de mais uma família, da chamada classe média, em que predominam licenciados, em situação dramática sem capacidade de subsistência, depois da degradação progressiva do seu salário ou, pior ainda, do desemprego há meses, senão anos.
Mais um caso gritante surgiu ontem nas televisões em que uma professora, mãe de três filhos, mostrou o seu desespero perante a incapacidade de dar a assistência devida aos seus filhos.
Agora, imagine-se, o que será no próximo ano se entrar em vigor a enorme (brutal, seria a designação mais adequada), carga fiscal prevista, segundo o ministro do orçamento, como lhe chamou Adriano Moreira porque não é, como devia ser, das finanças.
Não é manobra de diversão ou pessimismo excessivo dizer que a esmagadora maioria dos portugueses ainda não se deu conta do que deverá acontecer em 2013 e seguintes se o OE do governo for aprovado o que, permitirá afirmar que a situação actual é quase paradisíaca.
Perante esta panorâmica devastadora apareceu ontem, ufano, com uma descoberta urgente e vital, o secretário geral do PS, António José Seguro, anunciando uma proposta para a redução do numero de deputados na Assembleia da Republica e, certamente, a criação de círculos uninominais para as Autárquicas, conducentes a vereações monocolores, reduzindo-se ou apagando-se mesmo, as forças minoritárias, num e outro lado.
Pergunta-se, porquê a pressa de querer tratar agora de um assunto que não é prioritário no contexto actual, quando a maioria dos portugueses vive com extrema dificuldade e deseja que a situação não se agrave?
Não seria mais conveniente lutar, com todos meios democráticos ao seu dispor, como líder do Partido Socialista, o segundo partido mais votado de Portugal, contra o hostil OE, de pendor ultraliberal que, mesmo democratas cristãos e muitos PSDs rejeitam? Relembro, a propósito, a expressão de Marques Mendes, anterior líder do PSD, «a carga fiscal prevista é um autêntico assalto, à mão armada, da classe média». Esta luta podia e devia ser feita através de uma moção de censura, prometida mas estrategicamente retirada, tendo antes optado pela abstenção nas propostas do PCP e do BE.
Tudo leva a crer que o anunciado voto contra o OE não passará de mais uma abstenção, de mais uma demissão das responsabilidades.

sábado, 6 de outubro de 2012

O MAR PORTUGUÊS E SEUS VERDUGOS

O mar e seus recursos pesqueiros tem sido pródigo para os portugueses desde o tempo dos fenícios e dos romanos, embora só se enalteça os descobrimentos, uma página gloriosa da História deste país. Especialmente a orla costeira tem sido fonte de vida para inúmeras famílias e dela provêm também as muitas iguarias que constituem maravilhas gastronómicas da nossa restauração.
Entretanto, esta verdadeira galinha dos ovos de ouro foi praticamente dizimada com a integração na CEE/EU, pela subserviência canina dos governantes às «ordens» dimanadas dos euroburocratas, sem nunca defenderem os interêsses nacionais, como o fizeram e fazem outros países comunitários, nomeadamente a Espanha. A propósito, é bom que não se escamoteie os malefícios para o mar e pescas portuguesas dos sucessivos governos de três partidos, sempre os mesmos, até à data. De facto, foram eles que incentivaram o abate (pago) de navios/barcos com a desaparecimento da nossa frota pesqueira e a destruição das estruturas de apoio fundamental, entre as quais sobressai a DOCAPESCA destinada ao desembarque, inspecção sanitária e comercialização do pescado, em quase todos os portos do país, em especial Cavaco Silva como primeiro-ministro que agora, hipocritamente, se esquece porque tem a memória curta como o é a sua ínfima capacidade de cerebração.
Ainda relacionada com a DOCAPESCA é a alienação a pataco dos valiosos terrenos da sede desta importante infra-estrutura, inicialmente destinados a uma Regata Oceânica, acrescidos dos do IPIMAR, Instituto Investigação das Pescas e do Mar, iniciativa que «morreu na casca» e posteriormente cedidos à Fundação Champalimaud, cuja relevância para o país está por comprovar.
Esta irresponsável política autofágica tem levado a que actualmente se importe mais de 75% do pescado que consumimos, enquanto que antes éramos praticamente auto-suficientes e, por outro lado, o IPIMAR, instituição de investigação prestigiada no pais e além fronteiras, onde nem sequer há verba para reagentes tal como se passa em muitos outros laboratórios do Estado, está em vias de extinção, com todas as consequências negativas para o país e para os portugueses.
Terminando, recordemo-nos que o senhor presidente da Republica, Cavaco Silva, nos últimos tempos fala, fala, fala na importância do mar, dos seus recursos e suas enormes potencialidades, não só olvida o seu contributo de verdugo do sector, como nada faz para que o país regresse à sua exploração racional e sustentada.

domingo, 30 de setembro de 2012

O DUALISMO E O NUCLEAR


De vez em quando reaparece nos media a pregação dualista dos bons e dos maus, baseada numa escolha sectária e, por isso, cega, mas intencionalmente manipuladora.
Embora seja antigo o dictat da separação entre bons e maus, foi no «reinado» de Ronald Reagan nos EUA que assumiu acinte a dicotomia, de que é exemplo, porque nos (a angolanos e portugueses) tocou na pele, o Savimbi e a UNITA como símbolo do bem, em oposição ao mal personificado em Agostinho Neto e MPLA. De facto, a vivência do período post-independência e, particularmente, na sequência das eleições de 1992 até 2 de Fevereiro de 2002, demonstrou, à saciedade, o quanto o dualismo reaganiano foi «benéfico» para Angola, para os angolanos e para os portugueses.
Presentemente, retorna à baila o risco da bomba nuclear, tão bem defendido através do boneco apresentado pelo pacifista primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (com y ou com i, não é relevante), anteontem na ONU. Netanyahu alertou para o perigo de o Irão estar desenvolvendo tecnologia que lhe possibilitará produzir a dita bomba, ameaçando intervir militarmente neste país, mesmo sem a ajuda dos EUA. Contudo, as várias inspecções levadas a cabo pela ONU no Irão nunca detectaram, indícios sequer, de que a investigação iraniana se orientasse para tal fim.
A propósito, uma ressalva para que se não infira apoio ao Irão, mas antes por uma questão de princípio de equidade e pela denúncia da hipocrisia dualista.
Esta estória do armamento nuclear é o paradigma do dualismo implantado paulatinamente no mundo ocidental (ainda haverá, politicamente, o mundo oriental?) que nos deve «obrigar» a reflectir demoradamente, pois está em causa a sobrevivência da humanidade.
Com já não se põe em causa, por razões óbvias, a Rússia e a China, considera-se que é inadmissível a possibilidade de o Irão vir a dispor de armamento nuclear, bem como a Coreia do Norte embora, neste caso, seja quase firme a certeza de que já o possui. Entretanto, são já detentores deste tipo de armas de destruição maciça a Índia, o Paquistão e, há muito tempo, Israel, para além dos EUA e da França o que não merece qualquer reparo ou, muito menos, admoestação.
Para todos nós terráqueos o que está estabelecido e imorredouro é um grupo dos bons portadores de tal armamento, dos quais por isso mesmo nunca se fala porque não constituem uma ameaça para o mundo livre e o grupo dos maus, o perigo máximo, objecto de contínua contestação. Além deste dois grupos e sem definição precisa, está a Rússia, já dominada pelo neo-capitalismo e seus valores consumistas, embora se mantenha orgulhosa do seu passado
Terminando, aquilo que está em causa é todo o armamento nuclear, seja qual fôr o seu detentor, uma ameaça permanente para a humanidade, ameaça reforçada pelo dualismo da avaliação sujeita aos ditames dos que dominam o planeta. Defender este princípio é, de imediato, rotulado de pacifismo gratuito e inconsequente, mas a realidade, com os riscos inerentes, é incontestável.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

MUDAR É PRECISO

Ontem e hoje ouvi, incrédulo, as duas notícias que a seguir transcrevo:
A primeira diz respeito a uma intervenção do secretário-geral da UGT, João Proença, na qual aconselhava o governo a justificar adequadamente a redução parcial dos subsídios de Natal e de Férias, sob pena de ser considerada inconstitucional e, ao mesmo tempo, afirmou estar certo de que o governo irá restituir a quase totalidade dos subsídios retidos.
A segunda é a satisfação do secretário-geral do PS, António José Seguro, por o primeiro-ministro ter deixado cair a proposta de TSU que sobrecarregava em 7% os trabalhadores e beneficiava, na mesma proporção, os patrões.
No que se refere à primeira notícia é relevante a zelosa preocupação de João Proença ao dar conselhos ao governo, acrescidos da contribuição propagandística numa alegada, hipotética, não confirmada, restituição da quase totalidade dos subsídios retirados aos trabalhadores da função publica e pensionistas. É estranho este comportamento para o líder de uma organização sindical, mais parecendo tratar-se de uma entidade governamental ou talvez não, estará numa linha de coerência que deu cobertura às gravosas alterações à legislação laboral, na chamada concertação social, e com a qual o presidente da republica, o primeiro-ministro, os ministros das finanças, e da economia, o eurodeputado Nuno Melo e a troika, enchem tanto a boca para, despudoradamente, alegar que há paz social no país.
Relativamente à segunda notícia põe-se a questão: o único motivo de preocupação, de revoltam demonstrada nas grandes manifestações de 15 e 22 de Setembro p.p. e o profundo mal-estar existente na nossa sociedade era a TSU? Não, não foi nem é o único, foi e é sim toda a política, numa base ideológica ultraliberal, levada a cabo por este governo que conduziu ao empobrecimento galopante e à desesperança dos portugueses num futuro melhor. Esta manifestação de júbilo do secretário-geral do PS significará que o partido já não chumbará o orçamento para 2013 e caiu também a intenção de apresentar uma moção de censura ao governo? Esta possibilidade é muito preocupante mas espero, sinceramente, que não, pois que está à vista a manobra governamental e dos seus apaniguados de intensificar a desastrosa política contra quem trabalha, em favor das empresas, depois de um aparente e estratégico recuo com a TSU, cujos malefícios transitam para outras rubricas
Por último, a necessidade imperiosa de mudança política, da reconciliação nacional, carece da contribuição do PCP, do BE, do PS e dos muitos democratas certamente prontos para tal, PS que deverá assumir-se finalmente e de uma vez por todas como um partido de esquerda rejeitando, sem ambiguidades, a governação actual que tão mal tem feito ao povo de Portugal.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ATÉ ONDE NOS LEVARIA ESTA GENTE, SE PUDESSE


A actual crise política criada por Paulo Portas, procurando despudoradamente sacudir a água do capote, na sequência da maciça contestação popular contra toda a política e não apenas à miserável TSU arquitectada pelo ministro das finanças e pelo Moedas (este minúsculo secretário de estado faz jus ao nome…), deste governo PSD/CDS, manifestação que ultrapassou todas as previsões dos media e dos comentadores/profetas/opinadores/politólogos.
Os políticos que suportam esta maioria não olham a meios para justificar os actos ignóbeis dos seus governantes. Um caso paradigmático é o de um jovem turco do partido de Portas, deputado europeu, Nuno Melo de nome, arrogante e mal educado que se atirou, como gato a bofe, contra o Tribunal Constitucional por esta entidade ter considerado inconstitucional a supressão dos 13º e 14º meses de ordenado dos funcionários públicos e pensionistas, decisão que, na sua opinião pôs em causa a aplicação integral da política terrorista do governo!!! Para este demagogo que está sempre a encher a boca de democracia, atira-se aos partidos de esquerda, particularmente o PCP, com o mesmo ódio dos salazarentos e execra a actual Constituição da República, um empecilho, tal como o é, e sempre foi, o 25 de Abril de 1974.
Vem a propósito trazer à colação o inadmissível, certamente inconstitucional, esbulho cometido pelo ministro das finanças aos pensionistas e reformados que andaram a descontar mensalmente uma parte dos seus ordenados, durante dezenas de anos, para que o Estado, supostamente pessoa de bem, garantisse as suas futuras pensões e reformas. O primeiro-ministro e os ministros das finanças e da economia deste governo provaram não ser pessoas de bem, pois não respeitam os direitos adquiridos que deviam ser garantidos. Atacar as pensões e reformas é um verdadeiro acto de pirataria, de gente sem escrúpulos
Até onde esta gente(?) nos levaria, se pudesse. É vital estar-se atentos, prosseguindo a luta por melhores condições de vida que foram reclamadas nas grandes manifestações de 15 e 21 de Setembro p.p.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

AFINAL NADA SE PASSOU


No passado dia 15 de Setembro, um «reduzido grupo» de 1.000.000 de portugueses, provavelmente muitos mais, saiu à rua em várias cidades do país, gritando com raiva contra as políticas do governo actual que os tem empobrecido aceleradamente, forçando muitos, que antes pertenciam à chamada classe média, para o recurso à sopa dos pobres. O desemprego galopante, que já terá atingido perto dos 20% dos portugueses no activo e continua a crescer, dos quais cerca de 35% são jovens, muitos deles licenciados, é um flagelo indesmentível que tem destroçado famílias o que conduz à sua insegurança interna e da sociedade nacional.
Recordo, a propósito, que o senhor primeiro-ministro, numa das suas desgraçadas intervenções públicas (o que dirá ele em privado?), afirmou que o desemprego é uma oportunidade de vida e, entretanto, incentivou os portugueses à emigração. Em reforço do aprofundamento ideológico ultraliberal, dele e seus comparsas, sempre contra os trabalhadores e a favor do patronato, alterou nesse sentido a legislação laboral, reduziu os salários, sonegou os 13º e 14º meses de ordenado dos funcionários públicos e pensionistas, em oposição arrogante ao parecer do Tribunal Constitucional, e outras medidas mais ou menos gravosas para a maioria, culminando com a proposta de TSU que agrava os impostos de quem trabalha em 7% e reduz, na mesma percentagem, a carga fiscal das empresas, proposta que, perante tal enormidade ofensiva, foi liminarmente rejeitada pelos representantes das confederações patronais e postas em causa pelo parceiro da coligação, o CDS.
O evidente mal-estar neste governo de direita, espoletado oportunísticamente pelo líder do CDS, é um sintoma inequívoco da fragilidade da coligação e revela, contradizendo as afirmações de circunstância, que para o CDS os interesses do partido e sobretudo do seu presidente, estão acima dos do país.
Incentivados pelo presidente Cavaco lá se reuniram ontem os representantes dos dois partidos, sem os respectivos chefes, e deram à luz um extenso comunicado em duas páginas, pré-cozinhado, pois o tempo de reunião e o número de participantes (10, 11) não o permitiria de outro modo.
Com base naquele comunicado surgiu intempestivamente, porque antes da reunião do Conselho de Estado, o presidente Cavaco anunciando que a tranquilidade regressou, está tudo em ordem, os portugueses podem dormir descansados!!!! Este homenzinho continua, como era de esperar, a ter intervenção despropositada e néscia, demonstrando uma vez mais que a sua eleição foi um lamentável equívoco.
Tudo aquilo que se viu e ouviu nas manifestações de 15/9 que não se limitou à repulsa pela desejada TSU do primeiro-ministro e do ministro das finanças, ao contrário do que muitos apoiantes claros ou sub-reptícios do governo, querem fazer crer, mas sim à globalidade das políticas desastrosas impostas.
Para Cavaco nada se passou de significativo no dia 15 de Setembro, vira o disco e toca a banda….

terça-feira, 18 de setembro de 2012

TONET E O GRAU DE ALFABETIZAÇÃO EM ANGOLA EM 1975



O cidadão angolano William Tonet que terá sido prisioneiro em S. Nicolau, surge indignado a repreender José Eduardo dos Santos pelo discurso proferido em Julho p.p., no qual se terá atrevido a afirmar que em 1975 apenas 2 em 100 angolanos negros sabiam ler e escrever.
Que idade tem William Tonet? Admita-se que cerca de 60 anos e, por isso, em 1975 teria 23, 24, ou 25 anos de vida. Ora ele enfurecido abespinha-se com a grave inexactidão dos  2 em 100, mas eu pergunto-lhe que tal se fosse dito 5 ou 10 em 100, mesmo assim achava excessiva a penalização do regime colonial? Este senhor esqueceu-se ou, por alguma razão especial teve de viver noutro mundo, do que se passava em Angola antes de 1961, isto é, antes da deflagração da Guerra Colonial. Ora o senhor Tonet utiliza os relatórios dos governantes coloniais de depois de Fevereiro de 1961 para tentar «desmontar» a afirmação de JES.
Deixe que lembre de alguma da realidade sobre o tema que eu, actualmente com 75 anos de idade, vivi nos anos 40 e 50:

a)     A quando da preparação do início do ano lectivo, eram abertas as inscrições nas escolas e em muitas delas, senão quase todas, estavam «cheias» para os miúdos das sanzalas, negros na sua totalidade, «aconselhando» os pais a irem na missão. Um aparte para dizer que, na realidade, as escolas públicas não estavam cheias. A este «favorecimento» atente-se ao esforço tremendo de alguns destes pais, com rendimentos miseráveis, para que os filhos aprendessem a ler e escrever, acabando, a maioria deles, por desistir desse desiderato.
b)     Até 61, em Angola apenas havia dois liceus, um em Luanda, o Liceu Salvador Correia e outro no Lubango, Sá da Bandeira ao tempo, o Liceu Diogo Cão. Neste último, entre 1950 e 1955, anos durante os quais estudei neste Liceu, havia mais de 600 estudantes, dos quais menos de 2% eram não brancos. À época, a maioria dos negros que se via nesta cidade de brancos eram os muhuílas, vivendo em condições sub-humanas ou então eram os criados dos brancos. No Salvador Correia a desproporção não era tão obscena, numa cidade onde começava a existir algum poder reivindicativo com o crescimento de uma pequena burguesia mestiça e negra. Em todas as outras cidades apenas existiam colégios privados, cujo custo de frequência, obviamente, não estava ao alcance dos pobres, sobretudo dos negros.
c)    Perante esta realidade pergunta-se, os negros que sabiam ler e escrever nesta época, seriam 2% de uma população negra de cerca de 5 milhões, isto é, haviam cerca de 100.000 letrados?
d)     Ora, em 1961, depois do início da Guerra Colonial, Angola foi redescoberta e aquela situação alterou-se significativamente, embora no princípio, através de medidas de cosmética, retratadas no Selo de Povoamento. Posteriormente, sob a pressão das populações, nomeadamente da branca, o processo evolutivo acentuou-se e até mesmo os negros beneficiaram dele, sobretudo nas cidades, em particular em Luanda. A partir de então, paulatinamente, multiplicaram-se as escolas primárias sem discriminação racial, todas as cidades passaram a ter liceus e até surgiram, «para inglês ver» em 1963 os Estudos Gerais Universitários, inicialmente confinados a Luanda que, contrariando os propósitos do governo português de então, se foram autonomizando, espalhando-se por várias cidades e adquirindo prestígio internacional.
e)     Voltando ao princípio, subsiste a dúvida de quantos negros em 100, sabendo ler e escrever, existiam em 1975 em Angola? Já seriam 5 ou mesmo 10%? E se eram, a situação era ou não grave, como consequência do regime em vigor até à independência?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PASSOS COELHO ADMITE RECANDIDATAR-SE

Obviamente que sim e com todas as possibilidades de ser reeleito pelos portugueses anestesiados, depois da esplendorosa governação sob a sua liderança. Que importa que o desemprego tenha atingido os 15%, pese embora o facto de apenas se ter em conta os inscritos nos Centros de Emprego (quantos serão os não inscritos?)? Que importa que entre eles os jovens sejam mais de 35%? Que importa que todos os dias fechem as portas inúmeras empresas e tão pouco importa que muitas das «falências» estejam facilitadas por este o governo? Que importa a nova legislação laboral que reduziu os direitos dos trabalhadores e ampliou o poder discriminatório do patronato? Que importa o esbulho dos 13º e 14º meses dos salários dos funcionários públicos e pensionistas, mesmo depois do Trbunal Constitucional considerar tal supressão inconstitucional? Que importa a degradação das condições de vida e o empobrecimento da maioria dos portugueses, muitos dos quais já recorrem à sopa dos pobres, a par do contínuo enriquecimento de uma minoria, cujas mais-valias não são taxadas ou fogem para os paraísos fiscais? Que importa que as previsões apontem para um agravamento da situação?
De facto, é evidente que Passos Coelho tem todas as condições para se recandidatar, continuando a responsabilizar Sócrates por todos os males do país, omitindo para os incautos (e eles são, tristemente, muitos) que a sua política é igual à do seu antecessor, pois, com a sua chegada ao poder, apenas mudou o partido maioritário.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O PROVINCIANO

Remeti-me ao silêncio desde o ultimo comentário que fiz há uns tempos, mas sinto-me «obrigado» a voltar à liça para expressar opinião perante a crescente regressão do país, afectando negativamente a maioria dos portugueses e o alheamento irresponsável do presidente da republica, cujo comportamento errático é, a meu ver, inadmissível e, por isso, condenável.
Poderia ser acusado de ingenuidade por alegadamente confiar no funcionamento das instituições, mas não, não pequei por despropositada inocência. A concretização do sonho de Sá Carneiro em 2010, um presidente, uma maioria, um governo, com as suas cores partidárias, foi motivo de desconfiança e preocupação minhas (e de muitos/as outros/as), confirmadas no estado actual do país e no que se vislumbra no próximo futuro.
O actual presidente da república ultrapassa tudo quanto de mau se poderia imaginar, mesmo tendo em conta de que ele é um dos principais responsáveis do caos sócio-económico-financeiro deste país.
Ora o primeiro ano do segundo mandato de Cavaco Silva de que foi lamentavelmente beneficiado, em circunstâncias que considero antidemocráticas, foi desastroso e ainda faltam 4 anos para a sua conclusão o que espero (e muito mais gente) não aconteça, pois uma réstia de dignidade ou a pressão da opinião publica, obrigá-lo-á a resignar. Vem a propósito referir a Petição para o seu afastamento, subscrita em pouco tempo por mais de 40000 cidadãos, entregue na Assembleia da República, numa acção inédita contra um presidente da república eleito depois do 25 de Abril de 1974.
Para mim, a melhor definição do actual pr ouvi-a de uma amiga nossa que diz «ele saiu de Boliqueime mas Boliqueime nunca saiu de dentro dele». De facto, Cavaco é um provinciano e, parafraseando Hercule Poirot, com muito poucas «little grey cells». A quantidade de dislates e apreciações inoportunas e até néscias, têm surgido em catadupa, culminadas com a publicação do sexto (?) volume dos seus discursos (mas quem os lerá sem ser os seus confidentes e desconselheiros?), focado no ataque desbragado a José Sócrates, pretendendo sacudir a água do capote, quando foi cúmplice dele e das suas políticas.
Este homem é original no desconchavo, do qual é exemplo o escrito das memórias quando ainda continua no activo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

INCOMPREENSÍVEL REINCIDÊNCIA

Há dias foi divulgada nova sondagem de opinião política dos portugueses, onde não se incluem aqueles com mais de 65 anos de idade que estão impedidos de se expressar, tanto sobre o tema em questão como sobre qualquer outro. Ora numa população envelhecida como a nossa (cerca de 20% de idosos) está excluída parte significativa da mesma, para além dos outros critérios de avaliação discutíveis.
Contudo os resultados são surpreendentes pois coincidem com os das últimas eleições legislativas, apesar de tudo quanto aconteceu ulteriormente e se vislumbra para o futuro próximo.
Lembremo-nos então da redução dos salários e das pensões, da retenção do 13º e do 14º meses, do aumento do IVA com repercussão em todos os sectores e produtos sobretudo nos que afectam a maioria, do aumento das taxas moderadoras e das consultas nos Centros de Saúde e Hospitais, do aumento do numero de horas de trabalho não pago, do despedimento a bel-prazer dos «empreendedores», da subida em flecha do desemprego resultante das políticas governativas, do progressivo e inocultável empobrecimento dos cidadãos e cidadãs, conducente ao quase desaparecimento da classe média, do desbragado clientelismo em todo o seu esplendor e das justificações obscenas e néscias do chefe do governo a propósito das «escolhas» para as administrações da EDP e das Águas de Portugal e até das tiradas irresponsáveis, senão criminosas, de dirigentes da maioria, como as de Passos Coelho e Relvas incentivando a emigração dos nossos quadros jovens, no seu conceito sem futuro no país e da Ferreira Leite, implicitamente sugerindo a eutanásia dos insuficientes renais, do incumprimento sistemático da palavra dada, do uso sem vergonha da mentira como meio de persuasão, da permanente desculpa (até quando???) com a actuação do governo anterior, do qual tem seguido as pisadas, agravando-as, e tantos, tantos, outros malefícios que se acentuarão nos próximos anos.
Perante esta realidade como se explica a cegueira política desta singular escolha contra natura, particularmente nas regiões mais desfavorecidas do país? Por masoquismo não é seguramente. É sim a persistente influência nefasta de organizações e pessoas que controlam tudo e todos, especialmente os mais vulneráveis, vítimas da sua gritante falta de instrução e cultura.
Não terá sido inocente a redução drástica do orçamento da Secretaria de Estado da Cultura, quando devia ter-se passado exactamente o contrário.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SETECENTOS E TRINTA E SEIS

Há dias, poucos, surgiu uma notícia bombástica (a meu ver) de que mais de 700 cursos universitários (num total de quantos?) não tiveram candidaturas, passando despercebida, sem que tal merecesse a atenção de quem (?) de direito.
Creio que isto não é um fait divers , é antes algo de extrema gravidade que merece a reflexão da Universidade Portuguesa e, particularmente, do Conselho de Reitores, não excluindo os senhores Ministros da Educação e da Cultura.
Antes de mais torna-se curial saber, quais são os critérios que presidem à criação dE novos cursos?
Vem a propósito trazer à colação uma situação por mim vivida, quando bastonário da minha Ordem profissional, pela eventual possível criação de mais um Curso de Medicina Veterinária em Portugal. Era então Ministro da Educação o Prof Vasco Lynce a quem fui manifestar a minha profunda preocupação por tal possibilidade, pois já então existia um inusitado e inaceitável número de Cursos (5), para Portugal mesmo se comparado com países europeus da mesma dimensão, tais como a Holanda, a Dinamarca ou a Noruega. Embora perfilhando da minha opinião, das minhas preocupações, informou-me nada poder fazer pois a criação de cursos universitários não dependia do ministério, a não ser para eventual pedido de financiamento, mas apenas das universidades, das autoridades regionais e de outros grupos de pressão.
Contrariando-se o mais elementar bonsenso, o 6º curso foi criado, enquanto que, nos países atrás citados, antes possuíam dois cursos passaram a ter apenas um.
Este fenómeno de prejudicial incontinência criadora não afectou apenas a Medicina Veterinária mas sim quase todas, senão todas, as áreas do conhecimento das ciências, das letras e das artes, com consequências nefastas para os estudantes e para o país sob o pretenso benefício de uma descontrolada massificação do ensino universitário.
Os responsáveis desta situação não tiveram em conta a empregabilidade dos licenciados, contribuindo significativamente para o aumento de desemprego dos jovens e sua frustração, impondo-lhes salários miseráveis e a emigração.
Estas desastrosas consequências eram óbvias mas, é evidente, que os promotores e organizadores dos inúmeros novos cursos que proliferaram em larga escala e sem controlo, subordinaram tudo e todos aos seus interesses pessoais e, certamente, políticos.