domingo, 31 de janeiro de 2016


REFLECTINDO SOBRE A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

Há dias fui questionado por um amigo meu, em jeito de remoque, sobre o meu insurdecedor silêncio de bloguista (não gosto do inglesismo blogger), após a eleição presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

De facto, aquilo que se passou deixou-me incrédulo inicialmente, mas logo recuperei pois era de prever o epílogo do acto eleitoral, embora a expressão dos numeros tenha ultrapassado as previsões mais pró das várias sondagens e comentadores, sobretudo o maior numero de votos conseguidos por um candidato e a sua vitória em todos os distritos nacionais desde que a democracia formal foi implantada no país, apesar da abstenção ter atingido o segundo lugar, muito próximo de MRS.

Creio que os estudiosos de fenómenos deste jaez, como o António Barreto e outros semelhantes epígonos, logo virão explicar nos media onde têm lugar reservado, as escolhas dos votantes que conduziram àqueles resultados.

Quem seguiu a campanha eleitoral dos 10 (?) candidatos, sobretudo nas TVs, ela foi, a meu ver, muito pobre e, qualquer deles, só convenceu quem já estava convencido.

Comecemos por MRS que fez uma não campanha, incolor, inodora e insípida, descartando a discussão política e dando muitos beijinhos a velhas e velhos, a meninas e meninos, a peixeiras e peixeiros, a grandes madamas. De resto, ele bem sabia que tudo estava decidido à partida, depois de dezenas de anos da sua presença afirmativa na TV, sempre em horário nobre, e a inestimável contribuição de todos os media nacionais e dos comentadores/opinadores. Ora, dirão, o que na prática conta é o seu resultado, MRS é o presidente eleito, é ele que vai substituir alguém sem carisma nem inteligência primária nem postura, uma verdadeira nódoa no Portugal democrático.

Nos outros candidatos, alguns não chegaram a sê-lo por inaptidão própria como o médico que, de relevante fez foi pôr em causa a licenciatura de um ex-reitor, o psicólogo professor sempre sem acompanhantes, um professor ex-vice presidente de câmara que «descobriu» a corrupção e um ex-presidente de junta, deslocado do seu meio ambiente mas que, surpresa das surpresas, ombreou em votos com candidatos partidários. Realço ainda um engenheiro, ex-apoiante do general Humberto Delgado e ex-membro do MUD, ex militante partidário de esquerda mas só apoiado pela direita.

Sobram os 4 candidatos seguintes:

Um professor, ex-reitor unificador de duas das mais importantes universidades nacionais, que saíu do seu conforto para se candidatar a presidente da república, na perspectiva do apoio explícito ou implícito dos partidos de esquerda o que desconseguiu pelas pressões a que foi submetido e por se acreditar na votação maciça das gentes de esquerda, que se julgava constituirem a maioria o que não aconteceu e,  também, pela divisão dos partidos,

Em quarto lugar e com votação muito expressiva, uma jovem activista, militante de esquerda, no seguimento da expressão eleitoral do seu partido nas eleições legislativas.

Em quinto ficou uma candidata de ultima hora, dita partidária onde foi presidente, suportada por figuras publicas de esquerda e de direita que concorreu para a dispersão de votos do partido e que escolheu como adversário principal o ex reitor acima referenciado.

Em sexto ficou o candidato da coligação de esquerda, defensor de Abril e das suas conquistas com o apoio presencial dos seus dirigentes, com a grande mobilização uma vez mais demonstrada, mas que foi afectado quer pela tradicional discriminação dos media quer do desvio de votantes para o candidato ex-reitor e, apesar de tudo, para a abstenção.

Concluindo, a resolução logo à primeira volta em favor do candidato das direitas, embora MRS se dissesse e reafirme que será presidente de todos os portugueses (valha-nos isto...), deveu-se à dispersão de votantes que podia e devia ter sido prevenida, repetindo-se assim o acontecido na reeleição de Cavaco.

Era imperativa a desistência de todos os partidos de esquerda com a união em torno de Sampaio da Nóvoa.

sábado, 23 de janeiro de 2016


CRONICAS ICTIOVET 8

Estamos em dia de reflexão, nada de campanha eleitoral, muito embora esta determinação não seja bem vista nem praticada pelos media nacionais em geral. Contudo, nós vamos cumpri-la.

Surgiu hoje a notícia de que, em Espanha, o senhor Mariano Rajoy recusou o convite do rei Felipe VI para constituir governo porque não dispõe de apoio parlamentar, embora tenha ganho (?) as eleições do passado dia 20 de Dezembro. Entretanto, Pablo Iglesias presidente (ou secretário geral?) do PODEMOS, declarou publicamente que está disponível para formar um governo com o PSOE e a Izquierda Unida, para uma efectiva mudança de política e, até se atreveu a dizer (que despautério!!!), que se propõe ser vice-presidente desse governo, a chefiar por Pedro Sanchez, secretário geral do PSOE. Logo a seguir, ou antes, ao mesmo tempo, caíu o Carmo e a Trindade, com ruidoso alarme, apareceram em Espanha os profetas da desgraça pondo em causa a realização de tal eventualidade inadmissível, sem pernas para a andar, sem futuro, pois o PP ganhou aquelas eleições e só ele tem legitimidade para governar. Por coincidência (ou talvez não), o correspondente da rádio publica portuguesa neste país, tocou a mesma partitura e augurou a morte prematura do governo preconisado por Iglesias, com consequentes eleições antecipadas.

Estas peculiares reacções resultam de uma visão canhestra e desonesta de legitimidade democrática que apenas existe se em benefício do status quo, vigente antes de 4 de Outubro e 20 de Dezembro, respectivamente nos dois países ibéricos. Para os seus apaniguados, de todos os matizes, o novo quadro das côrtes espanholas, onde a direita ficou minoritária, é ilegítimo e inaceitável num país ocidental (em relação a quê?) ao pressupôr que participem no governo partidos anti-sistema até agora considerados marginais e demoníacos.

Coincidências ibéricas, até há pouco impensáveis que abrem uma janela de esperança para os seus povos, depois de dezenas de anos de fascismos a que se seguiram outras dezenas de submissão aos ditames de uma União Europeia dominada pelos interêsses financeiros das multinacionais insaciáveis, renegando os principios de solidariedade e preocupação sociail que nortearam a criação da CEE.