segunda-feira, 16 de dezembro de 2013


                                 CONVERGIR É PRECISO


A situação crítica que vive a maioria dos portugueses era impensável há não muito tempo, isto é, no início de 2010.

Não é uma maquinação afirmar-se que a classe média portuguesa praticamente desapareceu e até uma parte dela já recorre aos bancos alimentares, perdeu a capacidade de pagar a renda de casa e/ou o empréstimo bancário, a água, o gás, a energia eléctrica, a escola dos miúdos, sendo a sua última âncora os pais e até os avós, dito de outra maneira, são os novos pobres. A par da falência de classe média estão os velhos pobres e os sem abrigo, brutalizados por uma inaudita miséria extrema, o que permitiu a terrível notícia difundida esta semana de que, nos últimos anos, mais de 80.000 portugueses morreram de frio.

Por outro lado, no mesmo período, venderam-se facilmente automóveis de mais de 100.000 euros, casas/vivendas/palácios de valores superiores a 1.000.000 de euros, fenómeno ilustrado quer pela arrogância de tais novos e velhos ricos, quer pela constatação estatística de que aumentou consideravelmente o número de ricos em Portugal. Um caso exemplar é o ganho das grandes cadeias de super/hipermercados com o aumento das vendas quando as entidades de solidariedade social apelam, aos fins de semana, à dádiva de géneros alimentares, sem que tais cadeias deem qualquer contribuição.

Parece evidente que o empobrecimento da maioria dos portugueses concomitante com o enriquecimento de uma minoria privilegiada, é fruto da acção persistente deste governo e da maioria que o sustenta, onde avultam os tais ricos cada vez mais ricos.

De facto, esta constatação contraria aquilo que, por vezes, se ouve e diz de que Passos Coelho, seus sequazes e bonzos são incompetentes, desconhecem o país e os portugueses. Pois porque conhecem os portugueses, eles são competentes a servir os seus interesses, coincidentes com os daquela enfatuada minoria podre de rica, à custa de uma maioria enganada e obnubilada pela oleada máquina de embrutecimento, maioria essa que continuou a votar, contra natura, naqueles que conseguiram destruir, em dois anos, toda a sua qualidade de vida.

Ainda a propósito da última âncora das famílias depauperadas, os pais e, sobretudo, avós, estes governantes e seus deputados cegos e surdos perante a pobreza e a instabilidade que causam, esbulharam os reformados cortando-lhes as pensões e aprestam-se para mais cortes contidos no OE 2014, sob o pretexto de que todos (ah!ah!ah!...) os portugueses têm de dar a sua contribuição, não honrando assim os compromissos contratualizados pelo Estado a quando do início da sua carreira contributiva.

Hoje em dia, afirma-se de que a base de apoio político desta maioria governante ter-se-à reduzido drasticamente, em consequência das suas políticas agressivas e empobrecedoras. Parece uma dedução plausível, evidente e plenamente justificada o que deveria obrigar a reforçar a luta para o seu afastamento quanto antes.

Neste contexto cresceu a responsabilidade dos partidos da oposição e também de todos aqueles que repudiam tais políticas que afrontam repetidamente a Constituição da República, empenhando-se na realização de eleições antecipadas e consequente substituição do governo e da sua base parlamentar de apoio. Este desiderato seria fácil de atingir se o presidente da república honrasse o juramento que fez no acto de posse do cargo e tomasse a iniciativa de pôr cobro aos malefícios causados aos portugueses pelo governo. Ora, o presidente Cavaco, fiel ao objectivo vital de Sá Carneiro, isto é, «uma maioria, um governo, um presidente», está sempre solidário com as acções destruidoras dos últimos dois anos.

Assim, a luta comum é um imperativo patriótico para a alteração da situação do país em benefício dos portugueses, particularmente dos mais desfavorecidos.

Não é admissível sequer conceder o benefício da dúvida ao governo e sua maioria que monolítica e arrogantemente decidem, fazendo tábua rasa da maioria esmagadora das propostas da oposição, não se coibindo da arruaça, da chicana, perante as opiniões contrárias ao seu catecismo e ignoram os protestos dos milhares que se têm manifestado nas ruas e fora delas, contra as suas políticas.

É imperioso enfatizar a indispensabilidade da presença do PS e dos outros partidos de esquerda, sua convergência sem se pôr em causa a s suas identidades politico-ideológicas, em qualquer alternativa à actual política governativa. Os preconceitos que ainda existem entre estas organizações partidárias só têm beneficiado a direita que, em alturas de crise, une-se sem hesitação, dando-nos uma lição de solidariedade inter-pares.

Nestas circunstâncias, o resultado da boa vontade conducente à viabilização das propostas da direita é sempre uma vantagem para ela, já que as do esquerda, seja o PS, o PCP, os Verdes ou o BE, na sua esmagadora maioria são rejeitadas

Refira-se a despudorada e persistente côrte ao PS, pela direita e seus apaniguados, através de autênticos cânticos da sereia, incluindo-o magnânimamente no chamado «arco da governabilidade (Portas dixit)», na tentativa de atraí-lo para o neoliberalismo mais reacionário.

Por outro lado, no contexto da política destrutiva do governo está o comportamento da UGT, «dando a mão ao governo» em decisões essenciais que contundem com a defesa dos trabalhadores. Não é necessário recuar muito no tempo, bastam alguns exemplos recentes como a alteração da legislação laboral em benefício dos patrões e, agora, o apoio à pirueta do ministro da educação que reduziu a imposição da prova de avaliação aos professores contratados com menos de cinco anos de actividade, depois de ter defendido encarniçadamente a sua aplicação a todos aqueles.

Não se dá conta que é à custa destes espúrios conluios que a direita e a troika apregoam uma hipócrita concertação social, quando a CGTP, fica de fora por considerar inaceitáveis as propostas governamentais que prejudicam seriamente quem trabalha, aquilo que o tempo acaba por comprovar? Será demagogia e/ou sectarismo denunciar aquela pseudo concertação social?

Mais do que nunca é imperativa a convergência das forças políticas progressistas para se travar a destruição do estado social e o desbaratamento do património nacional que é de todos os portugueses, de que é flagrante a entrega dos Estaleiros de Viana do Castelo a uma empresa privada deficitária, através de um processo, no mínimo, nebuloso, da «concessão» da ANA, da venda dos CTT e da já projectada privatização da TAP, alienando-se empresas públicas rentáveis, em benefício de privados «nacionais» e internacionais.