sexta-feira, 19 de outubro de 2018


TEREMOS BOLSONARO COMO PRESIDENTE DO BRASIL?



Tenho o direito de dizer teremos, pois as consequências de tal escolha, não afectariam só os brasileiros, mas todos os amantes da paz, da democracia, da liberdade, da esperança.

De facto, não haveria esperança numa sociedade que tivesse como presidente um apóstolo da discriminação racial e da xenofobia que poria em causa as raízes da História do Brasil, feita de cultura, do convívio, da inter-acção de gente proveniente da Europa, de África, da Ásia, com repercussão em toda a sociedade brasileira e mundial, na cultura, na musica, na arte, no teatro e também em quase todas as modalidades desportivas, com relevo para o futebol.

De facto não haveria esperança num país governado por um misógino que considera as mulheres como seres inferiores, que as despreza e discrimina, cujas mulheres estão entre as mais belas do planeta, o país do Carnaval, da liberdade total das gentes, brasileiras e provenientes de todos os cantos do mundo, dançando e cantando a mulher mestiça que Jorge Amado e Chico Buarque imortalizaram.

De facto não haveria esperança com Bolsonaro que preferiria ter um filho morto a um filho homossexual.

De facto não haveria esperança quando este candidato glorifica os generais que infernizaram a vida dos brasileiros, com excepção dos DDT do Brasil e da extrema direita.



É uma possibilidade real de que Bolsonaro seja eleito no próximo dia 28, o que causa preocupação geral, mas esta situação agrava-se com a onda avassaladora da extrema direita no mundo, a começar com a eleição expressiva de prosélitos da mesma, em várias democracias europeias, asiáticas de que é exemplo o presidente eleito das Filipinas e ainda a eleição do novo inquilino da Casa Branca, o inqualificável Donald Trump.

Como é que se chegou a algo impensável há duas décadas e porquê? Porque é que as democracias falharam? Desde o fim da segunda Guerra Mundial quem tem estado à frente dos países europeus e americanos? Que regimes têm vigorado neles? Uma dita socialdemocracia, que nunca o chegou a ser, porque privilegiou o regime capitalista mais ortodoxo que beneficiou as minorias e prejudicou as maiorias. Os chamados partidos socialdemocratas, prevalecentes incialmente, foram paulatinamente ultrapassados pelos partidos liberais e ultra liberais, eufemisticamente ditos populares, que hoje constituem a maior força do Parlamento Europeu e dos Estados Unidos da América que representam os mais poderosos e belicistas.

As pessoas estão fartas do mau funcionamento das chamadas democracias, da corrupção, filha dilecta do capitalismo, da imposição do deus dinheiro, do reinado absoluto do dólar que está na base do subdesenvolvimento das várias regiões fornecedoras das matérias primas que obrigam à migração insegura (explorada por máfias impunes), de populações, na esperança de melhores condições de vida, em muitos casos sem concretização.

Os populismos da extrema direita que exalta os êrros das sociedades democráticas, hipocrita e desonestamente prometem este mundo e o outro, uma administração implacável e punitiva, no fim de contas tal como se tornou possível a eleição de Adolf Hitler, com todas as devastadoras consequências desumanas, da fase mais negra da História da Humanidade.

Preocupados com a baixa do défice, a redução das regalias sociais e a protecção das grandes empresas, não se deram conta do afloramento e crescimento das ideias mais reaccionárias, apregoadas sem uma contestação organizada, bem estruturada, a todos os níveis da formação da juventude.

sábado, 13 de outubro de 2018


AS ORIGENS DA MINHA VIRAGEM

Nasci numa família católica tradicional, a minha mãe uma zelosa praticante e o meu pai, presente numa única missa anual, a Missa do Galo, sempre impaciente porque nunca mais se chegava ao fim…

Pela mão de minha mãe, fui seguindo todos os degraus da prática católica, o baptismo, a confirmação e a comunhão solene, da qual conservo um bonito laço branco com uma imagem, hoje bichado por inoportunas traças.

Porque vivíamos no «mato» (Dondo e Novo Redondo), concluida a instrução primária, a necessidade de prosseguir os estudos secundários, obrigou os meus pais a instalar-me em Luanda, róído de saudades. Ao tempo, havia dois liceus, Salvador Correia em Luanda e Diogo Cão em Sá da Bandeira e colégios privados em algumas cidades, além das Missões Católicas e Protestantes. A influência quase permanente da religião prolongou-se em casa de amigos, muito beatos, onde estive uns tempos e interno em dois colégios ligados também à religião católica, um em Luanda, o Colégio Académico e outro, em Sá da Bandeira, o Colégio Infante de Sagres dos padres do Espírito Santo.

Bem comportado, como sempre fui (não é toleima creiam…), os mentores do colégio acompanharam-me sempre, instigando o culto da missa diária, em regra como ajudante do oficiante, comungando também quotidianamente. Estava ali um santo em germe…

Feito o 5º ano dos liceus no Liceu Diogo Cão em Sá da Bandeira, integrei o seu Internato, de muito gratas recordações, frutificadas em grandes amizades que ainda hoje perduram e onde estive (finalmente) liberto do ponto de vista religioso. Neste Liceu fiz o terceiro ciclo, 6º e 7º anos, em 1954, dispensando do exame de aptidão à universidade, com a média de 14 valores.

Entretanto, a minha irmã mais velha fez um casamento religioso e eu ajudei à missa da cerimónia.

Porque o nosso ano lectivo em Angola terminava em Dezembro, só ingressei na Universidade em Outubro de 1955, na Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa (única escola de MV em Portugal), pois o ensino universitário em Angola só foi finalmente criado, como Estudos Gerais, em 1963, depois da eclosão da Guerra Colonial em 1961.

A abertura à sociedade lisboeta, diferente sob todos os pontos de vista, foi inicialmente um pesadelo, agravado pela saudade da família e da inesquecível terra mãe.

O hábito da missa ao domingo persistiu, sem falhas, mas à medida que o tempo foi passando, a ida à Igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, passou a realizar-se, sobretudo, pelo interêsse na saída da santa missa das 10 horas, das jovens e atraentes praticantes.

O iniciado contacto com os colegas nas aulas e na Associação dos Estudantes e as actividades culturais nelas desenvolvidas e, mais ainda, com as associações de estudantes dos outros cursos e universidades, abriu-nos os horizontes que se consolidaram nas diversas associações culturais, incluindo os cineclubes, particularmente o Cineclube Universitário de Lisboa, no cinema e no teatro, onde sobressaiu o Teatro Dona Maria II a Companhia brasileira de Maria Dellacosta e as sessões culturais e recreativas na CEI (v/adiante).

Aos banhos de cultura referidos juntou-se, com imensa importância para mim, a compulsão da leitura estimulada por um colega mais velho, um camponês saloio que, aos 20 anos, com a 4ª classe, decidiu estudar e concluir o Curso de Medicina Veterinária 7 anos depois. Foi com ele, o meu colega Guilherme Paisana, que me iniciei na leitura do grande, muito grande escritor brasileiro, Jorge Amado, desde Os Capitães da Areia aos Subterrâneos da Liberdade que ele me foi emprestando.

A par de Jorge Amado, outros grandes escritores foram por mim descobertos, como Stendhal, Sartre, Marx, Camus, Capote, Eça, Arthur Miller, Joyce, Mann, etc.

Aos poucos, sem esquecer os valores que me foram incutidos pelos meus pais, fui-me interrogando sobre o que trouxera, em termos sociais, culturais, filosóficos, religiosos de Angola, constatando que muito pouco ou quase nada tinha sido, salvo um certo acéfalo fanatismo religioso aceite sem discussão, isto é, sem qualquer avaliação crítica. Este vazio deu-me conta de que eram insignificantes ou mesmo nulas as minhas preocupações com a vida em Angola, sobretudo os aspectos sociais com o subdesenvolvimento dos povos do país, como mais de 90% de analfabetos, vivendo no limiar da pobreza extrema.

A insegurança que as dúvidas sobre a religião e a crença acrítica, então tabus quando cheguei a Portugal, se levantaram em mim, tiveram um lenitivo na leitura do Drama de Jean Barois de Roger Martin du Gard e também nas obras de Jorge Amado, de Sartre e de Camus. Tudo foi posto em causa, tornando possível a livre definição de um rumo sem peias nem medos, por irrelevantes.

Por fim, uma outra significativa e frutuosa etapa da minha vida de jovem adulto foi a entrada, em 1957, na Casa dos Estudantes do Império (CEI), num ambiente de convívio fraterno que todos queríamos transplantar para os nossos países de origem, no meu caso Angola. É oportuno referir agora que foi nesta Casa que conheci a minha mulher, Maria Amália, minha companheira de sempre e apoiante na definição do meu rumo.

Hoje e desde então, com a profunda reflexão que levei a cabo, considero-me um homem livre de preconceitos ou sujeições idólatras.






sexta-feira, 12 de outubro de 2018

OS MONSTROS SEM CABEÇA

Aí está de novo, numa insistência injustificada, Cavaco Silva, reincidindo em escrever à laia de epitáfio. Epitáfio ou inscrição tumular que ele bem merece, depois de ter estado décadas e décadas a infernizar a vida dos portugueses, sem nunca se ter dado conta da sua pequenez mental e facial, tocando a burrice. De resto, generalizadamente, é considerado o pior presidente da republica eleito democraticamente, a única característica que o diferencia de Américo Thomaz.
Agora surge com novo livro autobiográfico com os velhos assuntos que o atormentaram e, pelos vistos, atormentam. Do fundo do seu túmulo, vocifera dizendo que o governo do PS apoiado pelas esquerdas, durante os ultimos 4 anos, não foi bom para Portugal. Os seus parceiros ideológicos, à falta de argumentos que corroborem a sua opinião, apesar de dizerem que tudo vai mal, não deixam de reconhecer aquilo que a maioria dos portugueses sentiram e sentem, a melhoria das suas condições sócio-económicas, tal como a UE, a OCDE, o FMI e as entidades privadas avaliadoras do evoluir da situação que acabaram por retirar o país dos lixos, onde o país se atolou nos anos 2012 a 2014. Ora para este homem de muito pequena estatura nada disto conta.
Por outro lado, é bom não esquecer os embrulhos, muito pouco claros, em que ele esteve metido oportunisticamente, como as acções do BPN, a casa da Coelha, etc., etc., e também os seus dilectos protegidos como Passos Coelho, Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Duarte Lima, Luis Macedo, Arlindo Carvalho, ao jeito de «Diz-me quem são os teus amigos e eu dir-te-ei quem tu és».

No Parlamento discutiu-se ontem o aumento do Salário Mínimo (SM), tendo sido rejeitada pelo PS, PPD e CDS, a proposta do PCP para 650€. Toda a artilharia anti PCP foi destilada pela direita, em particular o CDS, que se atreveu a dizer que tudo quanto foi aprovado para os trabalhadores, mereceu o voto contra do PCP. O assunto foi remetido para discussão na Consertação Social, onde seguramente irá vingar, como sempre, a «moderação» da UGT que tem uma proposta de 615€ ....a que, eventualmente, serão acrescentados uns pós para camuflar a estreiteza deste outro monstro descabeçado, a Consertação Social de sentido único.
Em Espanha, o SM vai passar para 900€....