AINDA
MOÇAMBIQUE E MÁ CONSCIÊNCIA
Depois do meu comentário anterior surgiu-me,
no FB. a resposta seguinte:
«As partes do artigo do Público que transcrevi foram escritas
por Isabela Figueiredo, professora de Português. Escreveu um livro, reeditado
em 2017 pela Caminho, com o título "Caderno de memórias Coloniais".
Esse livro foi prefaciado por Paulina Chiziane, Moçambicana. Escreveu ela
" Isabel Figueiredo, branca, filha de colono racista, tem os mesmos
sentimentos que eu, negra, filha de colonizado racista....Colonos e colonizados
tivémos um encontro histórico que hoje estamos a analisar. Guerreamo-nos.
Matámos-nos. Odiámo-nos e amámos-nos. Construimos juntos e construimo-nos mutuamente
para o bem e para o mal. Esta é que é a verdadeira história. O resto são
fantasias. Tretas". As palavras sábias de uma negra colonizada, como é
próprio do povo moçambicano, que eu conheci. Jaime de Menezes , tendo feito
parte dos colonizadores, assume as dores dos colonizados, com mal disfarçado
ódio contra as ditas "minorias dominantes", responsabilizadas por ele
pelo ostracismo que votavam às maiorias, talvez até pelas elevadas taxa de
analfabetismo!!!! O artigo de Isabela não é sobre o colonialismo ou a
descolonização, é um relato de uma viagem e dos factos que observou e ouviu nos
contactos com Moçambicanos. É um retrato hoje, de um País independente há 41
anos. Associar esse retrato " à secular tese racista da incapacidade do
negro para se governar", ofenderá certamente a inteligência dos
Moçambicanos (que não a elite dirigente). A história é sempre escrita pelo
vencedores, neste caso os revolucionários moçambicanos. Falta conhecer a
verdadeira história, a história dos pioneiros que em condições infra humanas
construíram no sertão africano caminhos de ferro, estradas, aeroportos
,hospitais e escolas, recebendo salários em escudos moçambicanos, só
excepcionalmente convertíveis em moeda portuguesa e que investiam todo o
dinheiro poupado em casas e empresas em Moçambique. A história da maioria dos
portugueses que foram para, ou nasceram em Moçambique, gente séria, honesta,
simples trabalhadores. A história do meu pai que deixou Moçambique , ao fim de
50 anos dos quais 42 anos como exemplar funcionário público dos Caminhos de
Ferro de Moçambique. Minoria dominante uma ova!!!! ISSO É UM INSULTO GRATUITO A
MEU PAI E MINHA MÃE, QUE NÃO POSSO TOLERAR. Não pretendo entrar no tema
colonização /descolonização mas não quero terminar sem referir uma parte da
última entrevista do saudoso Coronel Melo Antunes, esse fascista colonialista,
"Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização
foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização
foi uma tragédia. Tal como a colonização o foi"- RTP Julho de 1999».
A meu ver esta
resposta é suficientemente esclarecedora para me quedar sem mais nada. Contudo quero reflectir
um pouco sobre o tema colonização. Culpei e culpo a colonização que
manteve a população negra, em Moçambique como em Angola, destituida de
direitos, em profundo subdesenvolvimento, analfabeta na sua maioria esmagadora,
acantonada em pseudobairros sem as mínimas condições de habitabilidade e
salubridade. Passaram 41 anos depois da descolonização, é tempo suficiente para
se ter construído um país, formados os quadros necessários que praticamente não
existiam no início, atingir os níveis de desenvolvimento semelhante
aos mínimos da classe dominante (não era assim???)? Independentemente dos
erros cometidos pelos dirigentes do país independente, era possível fazer muito
mais? Não é depreciando tudo o que já se fez e faz, nomeadamente afirmar-se que
«em Moçambique com o 12º ano mal se sabe ler e escrever» (sinceramente
alguém acredita nisto?) que se contribui para a imperativa mudança
desejada por todos quantos pugnam pelo bem estar humano?