domingo, 4 de agosto de 2013



                                             AMBIGUIDADES

A mais recente crise política esteve germinando durante os dois anos do governo PPD/CDS e acabou por aparecer às claras com a demissão do ministro das finanças, Victor Gaspar, verdadeiramente um elemento destacado da tróica, que impôs aos portugueses desfavorecidos uma austeridade criminosa, ultrapassando mesmo os ditames conhecidos daquela organização tripla+1.

Pois bem, Victor Gaspar justificou o seu pedido de demissão perante o fracasso total das suas políticas destruidoras do tecido social, económico e financeiro nacional, confessou-se incapaz de prosseguir, fugiu a sete pés e deixou evidente a fraca liderança do governo. Pergunta-se: quem vai ressarcir os portugueses das malfeitorias perpetradas por este ex-governante e cegamente sustentadas pelo primeiro-ministro e maioria parlamentar?
A seguir demitiu-se Paulo Portas declarando que se tratava de uma decisão irrevogável. Ora subitamente o irrevogável passou a revogável, sob a pressão do primeiro-ministro, dos media, dos fazedores de opinião e, sobretudo, do presidente da republica Cavaco Silva. Entretanto, a tremenda manobra, então desencadeada, não apaga a clara demonstração de falta de carácter de Paulo Portas.

O puzzle completa-se com a patética intervenção de Cavaco Silva para a salvação do seu governo e maioria de apoio, em várias fases, a primeira aparentando desconfiança naqueles, ignora a proposta de remodelação feita com pompa e circunstância pelo primeiro-ministro e ameaça usar todos os meios jurídico-constitucionais ao seu dispor para uma solução governativa, deixando subentendida uma iniciativa pessoal. Na segunda fase, uma revisão desajeitada daquela, quis impor o comprometimento do PS na conjectura de solução para a salvação nacional, promovendo reuniões tripartidas PS+PPD+CDS por serem estes os únicos partidos do arco governamental, isto é, desprezando os outros partidos que representam cerca de 20% do eleitorado português, numa demonstração cabal da sua pequenez mental e do seu fundo antidemocrático e ditatorial. A terceira fase é a negação da primeira, pois dá o aval ao governo recauchutado e preconiza a sua continuidade até ao fim da legislatura…

Diante de todas estas manobras antidemocráticas visando a manutenção da maioria e seu governo qual foi a posição do PS? Depois de ter denunciado publicamente a incompetência e incapacidade do governo que conduziram ao desastre nacional e de considerar como única solução para a crise política a realização de eleições legislativas antecipadas, simultâneamente com as autárquicas, em Setembro, numa lamentável cambalhota aceita o repto de Cavaco e reúne-se, horas e horas a fio, com os partidos da coligação que não conduziram a nada porque a pressão exercida pela opinião publica e por figuras gradas do seu partido, o secretário-geral do PS, viu-se coagido a rejeitar as medidas agravadoras da situação social e económica do país propostas pelos seus companheiros privilegiados de diálogo. A bem da verdade convém referir a exigência prévia do PS de que todos os partidos fossem ouvidos, o que se perdeu logo a seguir sem qualquer reacção.

Infelizmente a ambiguidade da direcção do PS, jogando com um pau de dois bicos, não é de agora, tem dezenas de anos e tem contribuído, dentro ou fora do governo, para o estado actual do país, dos portugueses. Não é possível, ao mesmo tempo, estar de bem com deus e com o diabo, é imperativo escolher inequivocamente de que lado se está, isto é, considerando-se o PS um partido de esquerda como explicar que as suas alianças tenham sido sempre com a direita? Partindo daquele princípio ideológico, como aceita o PS a sistemática discriminação do presidente da república em relação ao PCP e BE, desde a constituição do Conselho de Estado à injustificável exclusão do chamado arco governamental? Porque é que rejeita a discussão, com os outros partidos de esquerda, dos problemas do país com vista à sua solução, sem risco de perda da sua identidade político-ideológica e sem obrigatórias implicações governamentais, quando está sempre disponível para reunir com a direita? A situação do país não é ainda suficientemente demonstrativa de que é preciso mudar de rumo? Estou convencido de que não comunga das opiniões do CDS, particularmente do seu chefe de bancada e do eurodeputado Nuno Melo, que, quando em diálogo parlamentar com o PCP, ao não terem mais argumentos, a propósito de tudo e de nada, logo invocam a União Soviética e os gulagues, à boa maneira do estado velho salazarento.
             O PS como partido de esquerda, que o é na sua essência, é tempo de deixar a ambiguidade que só o prejudica e aos portugueses e beneficia a direita, nomeadamente aquela que nos (des) governa e que quer agravar ainda mais as desigualdades em proveito de uma minoria insaciável que não respeita os direitos adquiridos após o 25 de Abril, nem sequer os compromissos assumidos pelo Estado com os pensionistas e reformados

sábado, 3 de agosto de 2013


               O CANTO DAS SEREIAS

Em vários jornais e canais televisivos foi ontem divulgado o resultado de uma sondagem levada a cabo pela Universidade Católica no final de Julho, com uma margem de êrro mínima e 95% de fiabilidade.

Sondagens são sondagens, valem o que valem, como é uso dizer-se, com enfado e desesperança. Creio que, apesar de tudo, poderão ser um indicador e correspondem a uma realidade que, é ou não, mais ou menos influenciada por elas.

Assim, se se realizasse agora eleições legislativas o PS teria 35% de votos, o PPD 32%, a CDU 11%, o BE 7% e o CDS 3%

Após a divulgação das ditas sondagens verifica-se sempre, repito sempre, um fenómeno de prestidigitação que clara e significativamente condiciona a opinião e o voto dos eleitores. De resto, é essa a intenção dos mágicos comentadores, fazedores de opinião e politólogos oficiais, escolhidos a dedo que pululam nas televisões, rádios, jornais, etc. Por coincidência, à parte pequenas diferenças cosméticas, comungam todos dos mesmos princípios, balizados pelo status quo nacional, comunitário e internacional. Ai daqueles que, por distracção ou tomada de consciência, se atrevam a sair do rebanho.

  Tais agentes da propaganda confinam-se, como sempre se confinaram, à potencial votação no PS e PPD e à diferença mínima de 3% que os separaria e, piedosamente, referem-se ao trambolhão do CDS, transformando-o numa micro bengala mas que, apesar disso, continua a pertencer ao glosado (e gozado) «arco da governação». O seu objectivo prioritário é a alternância PS/PPD, ao jeito boné branco, branco boné, imposta há 38 anos pelo que rejeitam todas as alternativas fora deste trio. Qualquer outra reflexão é despicienda porque nada mais aconteceu…

Porque será que esta monolítica gente não tem um assomo de honestidade intelectual e soma os votos dos partidos de esquerda, PS+PCP+BE, que em percentagem perfariam 53%, enquanto a direita não ultrapassaria os 35%, isto é, a esquerda teria uma confortável maioria? Ora, segundo os seus dogmas, a hipótese de uma esquerda maioritária no parlamento é algo condenado a priori, do outro mundo, inadmissível, já que, no seu discriminatório critério, o PCP e o BE, representando quase 20% do eleitorado, não fazem parte do «arco da governação».

Pergunta-se então, a quem cabe a escolha dos partidos e da sua representatividade na AR? São as portuguesas e os portugueses e não aqueles, nacionais e estrangeiros, que se alcandoram em donos de Portugal.

Ao «arco da governação» deste país pertencem todos os deputados com assento parlamentar. As portuguesas e os portugueses merecem mais respeito mas só é pena que não façam valer o seu direito à verdade e continuem a ir no canto das sereias de gente sem escrúpulos.