terça-feira, 29 de dezembro de 2015



CRONICAS ICTIOVET 7

Duas grandes manchetes estão hoje na ribalta, a primeira sobre o alegado patrocínio da NOS ao Sporting Clube de Portugal de 500.000.000 € e a segunda, relativa à comunicação do afastamento de Paulo Portas da presidência do PP/CDS.

A avultada verba de patrocínio do Sporting, ainda por confirmar, depois de idênticos gigantescos desembolsos para o Benfica e para o Porto, perfazendo cerca de 1.500.000.000 €, num país onde o salário mínimo passará a ser em 2016 de 535€, onde existem cerca de 2 milhões de cidadãos no limiar absoluto de pobreza e onde se morre por falta de assistência médica adequada, resultantes dos cortes cegos no orçamento do SNS, levados a cabo pelo governo da coligação PàF, é uma imensa enormidade, um retrato do desprezo pela dignidade dos portugueses e um reflexo do endeusamento do futebol, próximo da negra época dos três Fs, Fátima, Futebol e Fado.

Era previzível o tema constante da segunda manchete, depois da derrota e o fim de um ciclo político que afastou do poder a direita, dona e senhora absoluta do país nos ultimos 4 anos. De resto, hoje percebe-se bem a reacção estrondosa, insultuosa, plena de raiva e desorientação dos seus apaniguados, da comunicação social e comentadores a ela afectos, primeiramente porque perdendo a maioria parlamentar, insistiam no direito sagrado de ser governo, a coberto e empenho do presidente Cavaco Silva, e posteriormente quando, pelo voto popular, se constituiu uma maioria de esquerda na Assembleia da Republica, base de sustentação de um governo legítimo, actualmente em pleno exercício. Recordo que, de cabeça perdida, depois de chamarem traidor ao secretário geral do PS, António Costa, de tentarem desconsiderar os eleitos do PCP, BE, PEV e PAN, o Parlamento e os eleitores, classificaram, já em desespero de causa, o governo constituido de geringonça.

Ora Paulo Portas tomou consciência de que o chão lhe fugiu debaixo dos pés e de que a recuperação do poder será praticamente impossível a médio-longo prazo, o que se reforçou com o fim da PàF decidido por Passos Coelho. Nestas circunstâncias, ao contrário do comandante de um navio que é o ultimo a abandoná-lo, optou por seguir o mau exemplo dos roedores….Quem vier atrás que feche a porta.

Hoje, no programa matinal Antena Aberta da rádio publica Antena 1, onde foi tratado o tema PP, um ouvinte disse o seguinte:«Se o PS, o PCP e o BE tiverem juizo na cabeça, a direita não volta ao poder…»


sábado, 26 de dezembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET 6

A realidade com a verdade acaba sempre por vir ao de cima. De facto, quase dois meses depois da eleições de 4 de Outubro, vem aflorando a herança da governação dos ultimos 4 anos, cuja ultima consequência é a confusa resolução do caso BANIF. Assim, porque continuam os velhos do Restelo a pôr em causa o programa do novo governo e a enaltecer as virtudes do anterior, justifica-se trazer à colação a situação herdada.

Definido o propósito convém, antes de mais, abordar as razões ideológicas que estiveram na gènese da política seguida até Outubro p.p. A ideologia de direita não é homogénea, já que há que distinguir aquela que é democrática, como é a Democracia Cristã (embora discorde da conotação religiosa de qualquer organização partidária), porque a DC tem, nos seus principios e actuação, preocupações sociais e de bem estar dos povos, abandonadas senão banidas, pelos liberais, particularmente os extremistas, a meu ver, tornando a sua prática antidemocrática.

Embora o PP de PPortas se arrogue de partido democrata cristão, não o é, pois na sua prática política e governativa desprezou todas e quaisquer preocupações sociais, bem expressas na actividade do «seu» ministério da segurança social, liderado por Mota Soares, cujas decisões negativas (drástica restrição das prestações sociais) afectaram sobretudo os mais necessitados o que foi recentemente divulgado por várias entidades nacionais e europeias. Recorde-se que o PP, através de PP anunciou-se, antes das eleições de 2011, como o partido dos contribuintes, dos reformados e pensionistas, além das feiras para, depois da eleição, fazer exactamente o contrário do prometido, prejudicando-os em toda a linha. A potenciar este deplorável comportamento, deu-se a cena do irrevogável, tornado revogável horas depois, tendo como recompensa o cargo de vice primeiro ministro, numa cabal demonstração de, pelo menos, falta de seriedade.

Os dirigentes do outro partido da coligação, o PPD, continuam a intitular-se sociais democratas quando na realidade, pela sua orientação política, não o são e já era tempo de se retratarem, deixando-se de hipocrisías, assumindo que são liberais embora, com tal clarificação, possa acontecer a debandada daqueles que se consideram sociais democratas.

Ora da alquimia entre estes dois partidos de direita radical que não são o que se dizem ser, bem antes pelo contrário, a sua governação teria que resultar numa calamidade para maioria dos portugueses, apesar da propaganda tentar incutir a ideia de que tudo ficou bem, pois a país estaria muito melhor.

Vejamos então algumas consequências das políticas da PàF, que foram o resultado da preocupação permanente em reduzir o Estado ao mínimo, isto é,  com funções meramente de fiscalização, em paralelo com a aposta crescente no privado para preenchimento de todas as atribuições da administração publica:

  1. Em detrimento do Serviço Nacional de Saúde foram privilegiadas as instituições de saúde privadas que proliferaram como cogumelos, sustentadas pelo Estado, directamente ou através de convénios com os sistemas de saúde sectoriais, como a ADSE, as quais cobram taxas inferiores às do SNS; a violente redução do numero de profissionais e da capacidade dos hospitais públicos que esteve na origem das longas esperas na urgências e nas consultas de especialidade e das recentes mortes por falta de assistência médica especializada; a muito baixa remuneração dos profissionais, médicos e enfermeiros, em muitos casos contratados por empresas de serviços e por elas pagos à hora (em certos casos inferior ao montante pago às empregadas domésticas), obrigando-os a emigrarem ou a mudarem-se para as instituições privadas onde auferem melhores salários e outros benefícios; a administrativa concentração de hospitais apenas para diminuição de custos, de que não resultou melhor assistência aos cidadãos; a falta de aposta nos cuidados de saúde primários, que poderiam aliviar as urgências dos hospitais e prestar melhor acolhimento aos utentes do SNS, ao mesmo tempo que foram restringidas as valências disponíveis nos centros de saúde.
  2. Na educação, os resultados estão à vista depois do corte dos orçamentos das escolas e do despedimento de milhares de professores, enquanto que dos restantes muitos foram e são colocados em escolas diferentes todos os anos, longe do seu local de habitação, obrigando-os ao aluguer de novas casas, outros ainda estão sem horários atribuidos, situações que afectam material e psicológicamente estes docentes, seus familiares e seus alunos. Por outro lado, no ensino especial e no artístico é dramática a carência de professores e de meios financeiros pelo acentuado corte de verbas pois o objectivo primordial do governo era a redução cega de custos.
  3. Na cultura e investigação aplica-se também o atrás referido para a educação, quere em termos de diminuição de efectivos, como de verbas atribuidas a bolseiros e a projectos de investigação, sujeitos a critérios nebulosos da respetiva entidade controladora, situação agravada pela secundarização destas duas actividades fundamentais num país que se quere desenvolvido e chegou a lutar por isso em governos anteriores, desde o ministro Mariano Gago, ao contrário da PàF que fez tábua rasa destes objectivos fundamentais. Esta lamentável política conduziu ao marasmo, senão mesmo à paralisia, de muitos institutos do estado que haviam grangeado grande prestígio no país e no estrangeiro, como é o caso do «meu instituto», Instituto de Investigação das Pescas, hoje baptizado de IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
  4.  A preocupação em instaurar o Estado mínimo e a «perseguição» feita aos funcionários publicos (na propaganda, os causadores de todos os males), cuja desvinculação de milhares foi incentivada e transformou os organismos do Estado em meros balcões de atendimento pouco eficiente, com pessoal desmotivado, sem progressão nas carreiras e com os salários congelados há anos. Refira-se, a propósito, que este governo criou um organismo de fachada destinado à promoção e avaliação de concursos publicos de admissão de quadros na Função Publica que não impediu a entrada de magotes de dirigentes, sem concurso publico, muitos jovens recém licenciados, prioritários por serem afectos aos dois partidos da coligação o que contribuiu para reforço da desmotivação já referida. O recrutamento de boys é bem patente nas assessorias dos ministros, secretarios de estado e directores gerais, cujo futuro poderá ser a entrada automática na Função Publica, ultrapassando os «tarimbeiros», se não fôr sustida a avalanche.
  5. Um outro aspecto relevante, também ligado à intenção de impôr o Estado mínimo, foi a privatização injustificada de quase todo o património estatal, em prejuízo dos portugueses e só não privatizaram a Casa da Moeda porque o euro é emitido pelo BCE…Ainda ontem, a bem do país, ouvi e vi o primeiro ministro António Costa afirmar que 51% da TAP serão propriedade do Estado Português.
  6. Concluindo, aguardemos as revelações a surgir das averiguações em curso.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET 5

Os dias vão passando e, no entanto, há estórias que se repetem, num verdadeiro desvario de quem insiste em não aceitar a realidade dos factos, concretamente (ainda) relacionadas com as eleições de 4 de Outubro.

Hoje surgiu a notícia de que Pedro Passos Coelho esteve em Bruxelas e participou numa reunião do Partido Popular Europeu, no qual o PPD está integrado (pois foi recusada a sua entrada no PSD Europeu), tendo concedido uma entrevista aos orgãos de comunicação social. Este político, até há pouco primeiro ministro de Portugal, afirmou o seguinte: «Fui eu que pedi a Jean-Claude Juncker, a Angela Merkel, a Mariano Rajoy, para que tratassem bem o novo primeiro ministro de Portugal, António Costa, na sequência da muita preocupação com o seu governo apoiado por dois partidos anti-europeus….» PPC não se enxerga, perdeu o sentido do ridículo e, como é seu uso, pouco lhe importa se prejudica o seu país. A propósito desta sua inacreditável boutade, permito-me recordar-lhe que antes da alegada cunha (estratagema a que está habituado) que meteu, o falcão da EU e ministro das finanças alemão Schauble disse que a nova situação política em Portugal não lhe causava preocupação, o presidente do Eurogrupo idem aspas, actualmente a Bolsa nacional tem tido valorizações sucessivas e as taxas de juros dos empréstimos a médio longo prazo mantêm-se baixas, senão negativas.

Outra estória em curso é a nova saga da direita, paulatinamente preparada há anos, sobre as presidenciais programadas para 24 de Janeiro próximo. Apresenta-se então o seu candidato único, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), enquanto que à esquerda são quatro e sobra um outro, ex-vice presidente da Câmara Municipal do Porto, em tempos militante do PPD. De facto, ao longo de mais de uma década, MRS foi comentador televisivo em prime time, sempre parcial e tendencioso, com laivos intelectuais num insólito comentário de chusmas de livros, sempre na defesa da sua direita, incluindo o presidente Cavaco e, aos poucos, foi eliminando os seus putativos concorrentes, nomeadamente Santana Lopes e Rui Rio. É óbvio que se tornou uma figura conhecida do grande público, particularmente na TVI o canal mais visto em Portugal, fortemente incensado em todos os media nacionais. Desta manobra concertada fazem parte as malfadadas sondagens à la carte que já o dão como vencedor na primeira volta das presidenciais pois, dizem sem pudor, que «ele até vai buscar votos ao PCP e ao BE», algo que dá para rir….

 Veremos então se os portugueses não se deixam ir na conversa fiada e não tem a memória curta sobre a sua parcialidade em prol do governo PPD/CDS. Esperemos que a maioria dos eleitores continue a votar à esquerda, tal como aconteceu no passado dia 4 de Outubro.

A terceira, uma mini estória, é o funeral da PàF, anunciado ontem por PPC, passando a mão pelo pêlo de Portas que ao considerar o CDS, com todo o topete, a 4ª força política, não deve ter ficado muito satisfeito pois, isoladamente, o CDS voltará a ser o partido do táxi.

domingo, 6 de dezembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET 4

CONVERSEMOS SOBRE AQUACULTURA

Hoje em dia, quando se vai à procura de pescado, na praça, nos supermercados ou nas grandes superfícies, constata-se que grande parte dele provém da aquacultura, conforme deve constar, obrigatoriamente, da respectiva etiqueta.

O pescado é a designação genérica de peixes, crustáceos, moluscos e outros organismos vivos aquáticos, marinhos e de água dôce.

Convém precisar que além de animais, também são cultivadas plantas, macro e microalgas, cujo impacte sócio-económico é muito grande na China e nos países do SE asiático. Relativamente às microalgas, para além de serem fonte alimentar para alevins e juvenis de peixes e formas jovens de crustáceos e moluscos, delas são extraídos componentes dietéticos essenciais  e produtos para cosmética que estão na base da crescente indústria nacional e estrangeira com elas relacionada.

A aquacultura é o cultivo ou cultura ou criação ou produção daqueles organismos, em cativeiro, piscicultura/peixes; moluscicultura/moluscos – ameijoa, mexilhão, ostra, chôco; carcinocultura/crustáceos – camarão, artémia, lavagante; cuja importância é cada vez maior, tanto a nível nacional como internacional e a sua tendência é para um crescimento exponencial, em todo o planeta, já que é inexorável o descréscimo da produção pesqueira mundial, sobretudo pela sobrepesca mas também pela degradação das condições ambientais.

A produção da aquacultura mundial, iniciada em termos «industriais», na primeira metade do século XX, era nos anos 60 de 6,5 MT (milhões de toneladas) enquanto em 2013, atingiu os 92,7 MT, isto é, aproxima-se da produção pesqueira mundial.

A nível nacional não se deu o crescimento desejado e esperado por diversas razões, tanto de ordem burocrática, como por falta de ordenamento da orla costeira com a afectação de áreas a este sector, falta de financiamento estatal e bancário, débil inciativa dos produtores, que se prejudicam por não se associarem em cooperativas de produção e comercialização. Contudo, a acção interventiva e empenhada da recente APA, Associação Portuguesa de Aquacultores, poderá contribuir para o incremento significativo da produção aquícola nacional.

Outro factor perturbador é o fundamentalismo na defesa cega do meio ambiente, pois faz circular a ideia que tudo o que a aquacultura produz é de má qualidade e é nocivo para o ambiente e para os consumidores. Um  dos argumentos mais usados e abusados é a propalada presença de antibióticos e outros fármacos nesses produtos, resultado da sua aplicação incompetente e irresponsável, com fins terapêuticos e como estimulantes do crescimento, causando impacte negativo na saúde publica, no meio ambiente e nos recursos vivos aquáticos e, sobretudo, facilita a eclosão e multiplicação de bactérias resistentes aos antibióticos. Este fenómeno resulta da escolha, modo e prazo de administração incorrectos, «habituando-se» paulatinamente as bactérias a concentrações subterapêuticas, conducentes, progressivamente, à sua resistência às antes eficazes.

Importa realçar que os aquacultores são os primeiros interessados na garantia de qualidade dos seus produtos, quer do ponto de vista da sua sapidez como de protecção do consumidor e, por isso mesmo, precisam do apoio empenhado da Autoridade Nacional de Saúde Animal, a Direcção Geral de Veterinária, quer pela formação, em numero e competência de médicos veterinários especializados em Sanidade da Aquacultura, quer pela vigilância sanitária periódica dos estabelecimentos de aquacultura e dos seus produtos. Esta exigência deve-se a que apenas os medicos veterinários especialistas no sector podem, legalmente, emitir receituário de medicamentos e a sua aplicação, tal como os de outras especialidades em pecuária, avicultura ou em clinica veterinária de pequenos animais ou, ainda, como os médicos em medicina humana, competência exclusiva que lhes é conferida pela sua formação académica. Cumprido este preceito fundamental que não tem subjacente qualquer intenção corporativa, a saúde pública, os consumidores e o meio ambiente estarão protegidos.

Reunidas as condições adequadas a uma aquacultura sã, os produtos aquícolas nacionais são garantidos. Em princípio, a importação proveniente dos países da União Europeia deve oferecer boas qualidades organolética e sanitária, pois obedecem às mesmas exigências atrás referidas para os nacionais, enquanto que, aqueles provenientes de outras regiões do globo, devem ser submetidos a um rigoroso controlo higio-sanitário, desde o prado ao prato.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET 3

«Se as canções falassem…» é uma rubrica de Miguel Esteves Cardoso na Antena1, depois das 8h30, a seguir às notícias futebolísticas, de segunda a sexta feira. O MEC é conhecido como um homem inteligente, provocador e arrogante. Estas suas facetas reflectem-se na rubrica em causa, onde ele apresenta canções de compositores e letristas de nomeada e excelentes interpretes, sobretudo estadunidenses, em semanas de autor a fio,  a que se refere enroladamente, de maneira que, em regra, não se entende os nomes respectivos, porque o MEC, a meu ver, escolhe-as com imenso gôzo, mas está-se nas tintas para o ouvinte. Apesar de tudo, não percam esta rubrica, vale bem a pena.

O Programa da Manhã da Antena1 começa à 7h00 e prolonga-se até às 10h00, sob a batuta de um radialista excepcional, António Macedo, muito embora, por vezes, com pequenos àpartes inopinados. Este profissional estimula o ouvinte, dá côr à rádio, é divertido, de tal maneira que se sente quando é substituido o que, nalguns casos, perturba a emissão  pela voz agressiva, aos solavancos, do seu substituto. Pois é, nem todos têm capacidade e naturalidade para esta importante tarefa comunicativa, num horário nobre da rádio.

Ainda aquele Programa de rádio, tem outros motivos de grande interêsse que prendem o ouvinte o qual aguarda por eles todas as manhãs da semana. São os casos da «Revista da Imprensa», sobretudo quando era João Paulo Guerra que a lia, interpretando-a com inteligência, embora Joâo Paulo Baltazar também tem qualidade; «As Contas do Dia» feitas por Nicolau Santos, um economista sem preconceitos ideológicos; «Puxar o Fio à Meada», desenvencilhada por interventores excelentes, Rui Ramos, Irene Pimentel, Rui Cardoso Martins, Teresa Bizarro e João Paulo Guerra e, por último, imediatamente antes das 9h00, o «Radiotaxismo» bem disposto e acutilante de Maria Rueff, apesar do seu benfiquismo despropositado, vale bem a pena ouvi-la.

Deixo ainda um lamento por se ter interrompido o Conselho Superior, um programa no qual intervinham representantes de todos os quadrantes político-ideológicos de Portugal, nos cinco dias da semana.

Por fim, uma referência mais para um espectacular e original programa na Antena1 que antecede aquele, desde as 5h00 da amanhã, organizado por José Candeias que conversa animadamente e de modo peculiar, com ouvintes portugueses, no país e nos quatro cantos do mundo, em viagem à volta do planeta ou neles sediados. Esclareço que tomei conhecimento da actividade radiofónica de José Candeias porque o seu programa é retransmitido, em parte, aos sábados, entre as 8 e as 9h00 da manhã. Amigas(os) é único o José Candeias.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET 2

Eduardo Lourenço, prestigiado professor, ensaísta e escritor, reconhecido sobretudo no estrangeiro, particularmente em França onde se exilou durante o fascismo salazarento e onde lecciona há décadas, ex-militante do PCP do qual se desvinculou, afirmou há dias que «foi um golpe de génio de Jerónimo de Sousa, secretário geral do PCP, que permitiu o acordo das esquerdas» ao afirmar que o PS só não formaria governo se não quizesse, objectivo já concretizado com a posse do governo PS, com apoio parlamentar de maioria absoluta.

Também Ana Catarina Mendes, vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS, elemento activo nas conversações com o PCP, BE e PEV, declarou-se muito agradavelmente surpreendida com a total abertura e flexibilidade demonstradas pelos comunistas para viabilizar um governo da esquerda e sem exigência da sua particicipação nele.

Outros dirigentes e membros proeminentes do PS como Carlos César, presidente do partido e do grupo parlamentar, Pedro Nuno Santos, João Galamba, João Soares, Jorge Lacão, Isabel Moreira, Capoulas Santos e tantos, tantos outros, apoiaram a iniciativa de António Costa de entabular conversações com os outros partidos de esquerda, sem quaisquer preconceitos, na sequência da abertura claramente manifestada por Jerónimo de Sousa, na busca de uma alternativa política progressista. De resto, foi maciço o apoio do secretariado e da comissão nacional do PS, àquela opção corajosamente assumida pelo secretário geral.

Igualmente verdade é a excitada rejeição liminar destes entendimentos por Francisco Assis e Pedro Pinto e, embora eu não esteja certo, de José Lello, bem como de Vital Moreira e António Barreto.

Ao fim de anos e anos de ostracismo, iniciado no salazarismo e depois do 25 de Novembro de 1975 até ao dia 4 de Outubro p.p., de um partido que afinal quase toda a gente respeita, embora haja quem não goste, caíu esse muro e o PCP passou a contar para o tal arco da governação, um gueto considerado até agora propriedade privada da direita que condescendia com a presença do PS desde que com ela alinhasse ideológicamente.

Amigas(os) é caso para se dizer: assim se acaba por aceitar a força do PC, um partido com grande implantação popular que Cavaco Silva ignorou sempre, desde a constituição do Conselho de Estado até ontem, tal como se «esqueceu» sempre do BE e do PEV, partidos que, no seu conjunto,  representam mais de 20% do eleitorado português.




segunda-feira, 30 de novembro de 2015


CRONICAS ICTIOVET

Permitam-me a desumildade ao adoptar este título para as minhas elocubrações actuais e futuras, agora que estou virado para cronicar. Apelo à vossa compreensão.

A televisão e a rádio acompanham-nos quotidianamente, no meu caso, em primeiro lugar é a rádio ao longo do dia, a Antena1 e a Antena2, enquanto que a TV só a ligo à noite. Estranho que a maior parte dos meus amigos não ouve a rádio, ouvê apenas o pequeno rectangulo animado durante o dia inteiro, óbviamente, quando estão em casa, num café ou num clube.

Na Antena1 passam inúmeros programas, uns muito interessantes e outros menos, alguns destes já velhos e coçados que resistem em horário nobre diário, a que somos «obrigados», mais uma transmissão especial ao domingo, de uma hora, como é o caso de «O amor é…», no ar desde a Idade Média ou um pouco depois. Aliás, é nele um excelente comunicador, o psiquiatra Machado Vaz, enciclopédico ao jeito do sábio Gregório Marañon, pois já deu contribuição em vários temas, nomeadamente até no clubismo futebolístico.

Na Antena2 é grande a variedade a que podemos aceder, tanto sobre musica sinfónica ou teatro, literatura, concursos, debates, etc., etc. É um gosto ouvi-los a qualquer hora do dia. Entretanto, o seu director precisa de se reciclar, embora aparente que sabe de tudo e mais alguma coisa, quase sempre com arrogância e atrevimento, com particular aversão a tudo o que cheire a esquerda. Juro mesmo, como dizíamos quando putos, que não é esta a razão da minha abordagem crítica, mas sim a sua postura antipática.

Nas radios e TVs e em todas as manifestações audio, as agressões ao idioma português são uma constante quotidiana confrangedora. Vejamos alguns casos paradigmáticos:

  1. Algo passou-se há um minuto, uma hora, um dia, um mês, um ano, uma década, um lustre, um século, atrás…. Podia ser à frente???? Não se dão conta da redundância???? Há quem venha com a conversa do ago inglês…e a minha mulher pergunta, o que é que nós temos a ver com isso?
  2. Há dias morreu o grande atleta Lomu neozelandês da selecção nacional râguebi. Também o sete nacional de râguebi tem tido bom comportamento internacional. Como se pronuncia a palavra râguebi em quase todos, senão todos, os media nacionais, com os jornalistas à cabeça? Pronunciam reiguebi, porquê, que diabo, porquê? O «nosso» râguebi resultou do aportuguesamento do rugby, preservando-se a pronúncia deste. Ora bem, algum(a) iluminado(a) inglesou o râguebi para reiguebi. Será que não há remédio?
  3. È comum, uma vez mais nos media e na voz corrente, trocar-se a preposição sobre por sob ou viceversa. Alguns exemplos: alguém está sobre o comando, sobre a influência, sobre a acção de tal e tal…isto é, está em cima do comando, da influência, da acção em lugar de, correctamente, estar debaixo de….isto é, sob. Parece que o sob foi irradiado do português.

domingo, 29 de novembro de 2015


 FLAGRANTES DA VIDA REAL

Recordo-me, quando garoto, de ler nas Selecções do Readers Digest que o meu pai assinava, conjuntamente com a Mecânica Popular, uma rubrica com o sugestivo título que «usurpo» agora, onde eu ia logo que abria a revista, pois tinha pequenas crónicas interessantes que muito me entusiasmavam.

Naquela época li o meu primeiro grande romance Quo Vadis e vi depois o filme nele baseado, protagonizado pela Deborah Kerr e pelo Kirk Douglas.

Depois deste pequeno intróito, permitam-me então que trate de alguns flagrantes da vida real.



  1. Agora que o ciclo político mudou, a PàF está ameaçada de ruina. O mais certo, é os dois partidos irem cada um para seu lado, depois de um mero casamento de conveniência, tendo sido mais beneficiado o Portas e o CDS, senão este teria voltado a ser o partido do táxi o que, provavelmente, acontecerá em próximas eleições daqui a 4 anos. Na realidade, depois das manifestações publicas de incoerência e, sobretudo, de falta de palavra e portanto de honra, deverá ser cada vez maior a desconfiança em relação a este antigo jornalista anti-Cavaco (hoje seu acérrimo defensor), reforçada com os comportamentos salazarentos de alguns dos seus porta-vozes que só podem agradar à extrema direita, ao Arrojado, ao Abominável Homem das Neves e quejandos.



  1. Depois do seu governo ter sido chumbado com fragor na AR, os rabos de palha, o amiguismo,  o nepotismo, são as marcas da PàF no quadriénio que passou e até depois dele. Na realidade, depois de venderem a TAP a pataco e à pressa, o cipaio que a executou, agora vai vender o NovoBanco com um ordenado chorudo e pergunta-se: quem lhe vai pagar e porquê? A intenção será vender o dito banco a qualquer preço, seguindo a desastrosa prática relativa à TAP? Estou convencido de que muita gente de direita que sempre foi e é honesta, não aceita a imoralidade daquela venda por um governo demitido, quando outro iria ser empossado a seguir, nem tão pouco estará de acordo com este guloso prémio para um ex-governante, numa clara decisão anti-ética.

  2. O capo da CAP que começou a andar excitadíssimo quando a sua CAF perdeu as eleições de 4 de Outubro, lançou raios e coriscos inflamados contra a possibilidade de entendimento entre o PS e os outros partidos de esquerda, prégando contra a traição de António Costa e seus apoiantes. Contudo, o acordo concretizou-se, o governo tomou posse e, porque há que haver maleabilidade e dobrar a espinha, afirmou enfáticamente que o Ministro João Capoulas é o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Viva a ignomínia.

  3. O mesmo capo da CAP brandiu, também hoje, contra a CGTP que quere deslocar, a concertação social do local habitual, para o Parlamento. Quem é que tinha dito isto antes??? Irado acusou também esta central sindical de nunca ter assinado acordos, ser contra os acordos, contra tudo e todos, contra a Padeira de Aljubarrota, contra o Aníbal e os Elefantes, contra o Fernandel e o Tótó e por aí adiante. Certamente a CGTP lhe reponderá à letra e uma coisa é certa, a concertação de que ele gosta, no seu raciocínio da moca, é aquela em que a força do trabalho não pode contar.












quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ESTE GOVERNO NÃO ESTÁ EM ESTADO DE GRAÇA…

Hoje, após os discursos do Cavaco e do primeiro-ministro empossado, logo surgiram os avaliadores de sempre, defensores monolíticos do status quo de apoio à direita, segundo a sua visão vesga, a única hipótese viavel de governação, destacando-se António José Teixeira da SIC que, em tempos, foi um comentador respeitado.

Por outro lado, aquele jornalista fez eco da argumentação de defunta maioria, não tendo vergonha nem pudor mínimo, ao afirmar que a direita ganhou as eleições de 4 de Outubro enquanto que é a esquerda a formar governo. Se a sua direita ganhou porque é que não foi o seu governo a tomar posse agora? Certamente que não quere responsabilizar Cavaco que teve de indigitar António Costa para primeiro-ministro porque, querendo ele ou não, foi obrigado a cumprir a decisão do Parlamento, engolindo assim um grande sapo e, seguramente, batendo com a cabeça nas paredes…

O mesmo jornalista sentenciou, sem rebuço, que o novo governo não está em «estado de graça», tem que prová-lo o que será difícil, esquecendo-se daquilo que foi afirmado pelo ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble e pelo presidente do Eurogrupo Djsselbaum, não pondo restrições a quaquer governo português, como também do comportamento das bolsas e dos (divinos) mercados e até da agência de rating canadiana, e ainda, não menos significativa, a confiança em António Costa manifestada por Frederico Ulrich, presidente do BFI. A isto chama-se sectarismo político-ideológico e deixa muito a desejar o seu patriotismo.

Entretanto, estabeleceu a comparação entre Mário Centeno, o novo ministro das finanças, e Maria Luís Albuquerque, a ministra cessante dessa pasta, considerando aquele sem o peso institucional e internacional desta!!!!! Não será um exagero? O que era esta ministra antes de entrar no governo, contra a vontade do inefável Portas que reagiu com a conhecida decisão irrevogável, revogada logo a seguir? Com base em que escala? Ou quis referir-se apenas ao peso corporal? Convém lembrar, a este ímpar opinador, que Mário Centeno se doutorou na Universidade Harvard dos E.U.A., era quadro do Banco de Portugal e professor universitário o que para si é despiciendo!!!!

Não há forma de esta gente se convencer da mudança operada e para ficar, a bem do povo português.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015



O DESEMPREGO É UMA ABSTRACÇÃO ?……….
«O conceito de desemprego é abstracto», magister dixit a ilustre directora de um diário económico, hoje na Antena1, pouco antes das 9h00 que ali dá a sua opinião toda esta semana. Esta boutade surgiu quando considerou duvidosa a exequibilidade do programa do novo governo, sem se aumentar a despesa, realçando ao mesmo tempo o que de positivo fez a direita nos últimos 4 anos, e depois de confrontada com uma pergunta sobre o desemprego.
Segundo a senhora directora em causa, o desemprego tem vindo a diminuir pois os números do INE atestam-no, afirmação que tem sido repetida à saciedade pelo defunto governo e, mais uma vez, pelas dúzias de formatados pivôs e comentadores, todos afinados pelo mesmo diapasão.
Entretanto, «esquecem-se» de incluir o desempregados de longa duração e aqueles com idade acima dos 45 anos rejeitados pelos empregadores, e também não constam dos dados do INE todos os que frequentam «cursos de formação», em regra inúteis, considerados empregados, para além do emprego precário de dezenas de milhar, senão mais, não esquecendo as centenas de milhar de emigrantes, a maioria quadros superiores de grande qualidade, nos quais o país investiu e que vão enriquecer os países ricos, aliviando-se deste modo o desemprego estimado. Com base nisto, os sindicatos, particularmente a CGTP, e alguns analistas não alinhados, apontam para mais de 1 milhão de desempregados, isto é, o dobro dos apregoados pelo governo, isto é, o desemprego real é de cerca de 20%.
Que dirão os desempregados perante o conceito de desemprego daquela analista abstraccionista?
Espero que o novo governo desfaça a meada e faça chegar ao país o valor verdadeiro do desemprego em Portugal.


domingo, 22 de novembro de 2015


AQUI D’EL REI…

Não há exagero da minha parte em afirmar que hoje em dia, a RTP/RDP é mera caixa de ressonância das posições das direitas, em particular do seu governo, num ataque cerrado à possibilidade de concretização de um governo do PS, apoiado pelo BE, PCP e PEV, isto é, sustentado na maioria parlamentar absoluta.

Na RTP é notória a parcialidade político-ideológica quer nos telejornais, como nos mais recentes programas, nomeadamente no 360º, no canal 8 ou RTP3, n’As Palavras e os Atos, na Grande Entrevista e também nos Prós e Contras, onde a promotora está sempre pronta para ir em apoio destes governantes em gestão, depois do chumbo do Parlamento.

Na RDP é também um fartote quotidiano de apoio ao status quo. Ontem foi entrevistado nesta estação de rádio, João Salgueiro, economista e banqueiro, afinado pelo mesmo diapasão ideológico. Ora bem, hoje durante os vários noticiários da manhã, foram transmitidos extractos dessa entrevista, incluindo no das 13 horas, prenunciando a transmissão integral após a conclusão deste ultimo. De resto, o entrevistado é claro no seu posicionamento contra a possibilidade de um governo legítimo de esquerda e nem titubeou ao preconizar a venda imediata do Novo Banco a qualquer preço… e eu acrescento… em benefício do capital privado.

Dentro desta deliberada atitude de protecção à direita está a escolha a dedo dos participantes nos debates, sejam eles/elas economistas/politólogos/comentadores, clones uns dos outros, apregoando os terríveis perigos que se avizinham com a esquerda a governar.

Vem a talhe de foice pôr a questão sobre a parcimoniosa escolha referida, sempre do mesmo sinal, salientando-se enfaticamente a presença de ex-governantes do PS, igualmente solidários com as políticas que conduziram à actual situação sócio-económico-financeira dos portugueses. Ora, depois da desonestidade intelectual dos governantes, com uso e abuso sistemático da mentira, da crítica soez, em particular, depois das eleições de 4 de Outubro nas quais a direita perdeu a maioria parlamentar absoluta que lhe permitiu cegamente impôr, durante 4 anos, todas as malfeitorias à maioria dos cidadãos e cidadãs, perdeu deputados, perdeu eleitorado, o PS, através do seu secretário geral António Costa, decidiu romper os acordos com o PPD (por coerência com a sua prática ultraliberal, já que de PSD nada tem) e CDS, em rutura com a prossecução das políticas de empobrecimento dos portugueses, de redução das prestações sociais, de destruição do SNS, de desinvestimento na escola publica, em benefício do sector privado, no desprezo pela cultura, pondo acima de tudo a protecção da minoria DDT.

Entretanto, o PS ao entabular conversações com a coligação PàF verificou estupefacto a arrogância dos seus representantes que pretendiam impôr a continuidade da sua política, como se não tivesse ocorrido a mudança substancial com as eleições em 4 de Outubro.

Nestas circunstâncias, o PS iniciou contactos com os outros partidos de esquerda, na procura de uma alternativa político.ideológica à da direita e, após laboriosas negociações com o beneplácito dos respectivos orgãos de cúpula, acordaram na sustentação de um governo, liderado pelo PS, para uma legislatura e, eventualmente, seguintes, legitimado pela maioria parlamentar absoluta, isto é, claramente sufragada pelos eleitores.

Perante a situação desenhada, caíu o Carmo e a Trindade, aqui d’el rei que aí vem a esquerda com o espírito cavernícula salazarento que se esperava ter sido banido, de vez, com o 25 de Abril de 1974. O desnorte, o desespero, o pavor, apossou-se de toda a direita e seus apaniguados, que de cabeça perdida, tiveram como ultima investida anti-democrática a defesa de uma revisão constitucional à la carte, insultando a maioria dos eleitores portugueses representados no Parlamento saído das eleições de 4 de Outubro, com o persistente e intenso apoio da direcção de informação da RTP/RTP.
Será que o pavor destemperado da direita está relacionado com algo escondido?

Neste momento, espera-se que, finalmente, o Presidente da Republica indigite como primeiro ministro o Dr. António Costa e que se entre em normalidade estatutária, com um governo de esquerda, para bem de todos os portugueses e de Portugal.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A GERAÇÃO DA LIBERDADE . A Casa dos Estudantes do Império e os movimentos independentistas africanos





Com este título, Fátima Campos Ferreira (FCF) «conduziu», na passada segunda-feira na RTP1, um programa com convidados ilustres de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné e Portugal, em substituição do seu «Prós e Contras» habitual.

Esta iniciativa pareceu-me ter surgido na sequência da Homenagem aos Associados da Casa dos Estudantes do Império levada a cabo pela UCCLA, em Outubro de 2013 na Reitoria da Universidade de Coimbra e nos passados dias 22, 23 e 25 de Maio p.p. na Gulbenkian.

Contudo, qualquer semelhança entre os dois eventos é pura coincidência, porque a vivência sobre a CEI e sua repercussão na formação pessoal dos Cestimpérios presentes que deveria ter sido o cerne da questão, foi tocada apenas por quatro intervenientes, Miguel Trovoada, Joaquim Chissano, Victor Ramalho e Pedro Pires, isto é, a tónica geral afastou-se daquele objectivo expresso no título, porque assim o orientou FCF em resultado de não ter feito (ou não estar interessada) um adequado trabalho de casa.

De facto, FCF deveria ter-se documentado sobre aquelas duas excelentes e profícuas realizações da UCCLA e não o fez. Tão pouco procurou informar-se melhor sobre a CEI e seu enquadramento social, denotando grande ignorância do tema.

Por diversas vezes FCF referiu-se à CEI como Casa do Império e aos cafés frequentados pelos cestimpérios, citando (bem) o Rialva, o Montanha (na Portagem em Coimbra…) e olvidou a Mimo, onde eram habituais os longos e animados «papos» e o jogo do 31, que ficaram marcados por eles que geraram amizade com os seus empregados, sempre atentos à presença de pides que davam rapidamente a conhecer-lhes.

Relevante foi ainda o contacto desajeitado e quase agressivo de FCF com Joaquim Chissano, através da RTP África, que só o bom senso e educação do entrevistado salvaram a situação. Invocar o racismo dos negros para os brancos em Moçambique e o seu afastamento do idioma português, foi algo de muito mau gosto mas, felizmente, teve a resposta merecida

É pena que tenha corrido assim, porque a Casa dos Estudantes do Império, os seus associados e a sua histórica contribuição para a libertação das colónias portuguesas e de Portugal, mereciam um tratamento justo e bem fundamentado

 

sábado, 25 de abril de 2015

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS ?


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS?

Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.

Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:

  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As impositivas barreiras no acesso  dos negros ao ensino e à cultura, impondo-se assim o analfabetismo e a iliteracia na maioria esmagadora.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.

Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.

Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.

O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.

A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.

No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos, muitos outros.

Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.

Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.

O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.

Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.

Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.

 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DAS COLONIAS PORTUGUESAS ?

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA


DAS COLONIAS PORTUGUESAS
Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.
Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:
  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As sistemáticas barreiras à entrada dos filhos dos negros no ensino e na cultura.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais apenas menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.
Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.
Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.
O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.
A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.
No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos outros, muitos outros.
Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.
Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.
O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.
Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.
Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.
 


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA ?


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS?

Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.

Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:

  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As sistemáticas barreiras à entrada dos filhos dos negros no ensino e na cultura.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais apenas menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.

Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.

Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.

O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.

A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.

No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos outros, muitos outros.

Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.

Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.

O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.

Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.

Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.