CONVERGIR É PRECISO
A
situação crítica que vive a maioria dos portugueses era impensável há não muito
tempo, isto é, no início de 2010.
Não
é uma maquinação afirmar-se que a classe média portuguesa praticamente desapareceu
e até uma parte dela já recorre aos bancos alimentares, perdeu a capacidade de
pagar a renda de casa e/ou o empréstimo bancário, a água, o gás, a energia eléctrica,
a escola dos miúdos, sendo a sua última âncora os pais e até os avós, dito de outra
maneira, são os novos pobres. A par da falência de classe média estão os velhos
pobres e os sem abrigo, brutalizados por uma inaudita miséria extrema, o que
permitiu a terrível notícia difundida esta semana de que, nos últimos anos,
mais de 80.000 portugueses morreram de frio.
Por
outro lado, no mesmo período, venderam-se facilmente automóveis de mais de 100.000
euros, casas/vivendas/palácios de valores superiores a 1.000.000 de euros,
fenómeno ilustrado quer pela arrogância de tais novos e velhos ricos, quer pela
constatação estatística de que aumentou consideravelmente o número de ricos em
Portugal. Um caso exemplar é o ganho das grandes cadeias de super/hipermercados
com o aumento das vendas quando as entidades de solidariedade social apelam,
aos fins de semana, à dádiva de géneros alimentares, sem que tais cadeias deem
qualquer contribuição.
Parece
evidente que o empobrecimento da maioria dos portugueses concomitante com o
enriquecimento de uma minoria privilegiada, é fruto da acção persistente deste
governo e da maioria que o sustenta, onde avultam os tais ricos cada vez mais
ricos.
De
facto, esta constatação contraria aquilo que, por vezes, se ouve e diz de que
Passos Coelho, seus sequazes e bonzos são incompetentes, desconhecem o país e
os portugueses. Pois porque conhecem os portugueses, eles são competentes a
servir os seus interesses, coincidentes com os daquela enfatuada minoria podre
de rica, à custa de uma maioria enganada e obnubilada pela oleada máquina de
embrutecimento, maioria essa que continuou a votar, contra natura, naqueles que
conseguiram destruir, em dois anos, toda a sua qualidade de vida.
Ainda
a propósito da última âncora das famílias depauperadas, os pais e, sobretudo, avós,
estes governantes e seus deputados cegos e surdos perante a pobreza e a
instabilidade que causam, esbulharam os reformados cortando-lhes as pensões e
aprestam-se para mais cortes contidos no OE 2014, sob o pretexto de que todos (ah!ah!ah!...)
os portugueses têm de dar a sua contribuição, não honrando assim os compromissos
contratualizados pelo Estado a quando do início da sua carreira contributiva.
Hoje
em dia, afirma-se de que a base de apoio político desta maioria governante
ter-se-à reduzido drasticamente, em consequência das suas políticas agressivas
e empobrecedoras. Parece uma dedução plausível, evidente e plenamente
justificada o que deveria obrigar a reforçar a luta para o seu afastamento
quanto antes.
Neste
contexto cresceu a responsabilidade dos partidos da oposição e também de todos
aqueles que repudiam tais políticas que afrontam repetidamente a Constituição
da República, empenhando-se na realização de eleições antecipadas e consequente
substituição do governo e da sua base parlamentar de apoio. Este desiderato
seria fácil de atingir se o presidente da república honrasse o juramento que
fez no acto de posse do cargo e tomasse a iniciativa de pôr cobro aos
malefícios causados aos portugueses pelo governo. Ora, o presidente Cavaco,
fiel ao objectivo vital de Sá Carneiro, isto é, «uma maioria, um governo, um
presidente», está sempre solidário com as acções destruidoras dos últimos dois
anos.
Assim,
a luta comum é um imperativo patriótico para a alteração da situação do país em
benefício dos portugueses, particularmente dos mais desfavorecidos.
Não
é admissível sequer conceder o benefício da dúvida ao governo e sua maioria que
monolítica e arrogantemente decidem, fazendo tábua rasa da maioria esmagadora
das propostas da oposição, não se coibindo da arruaça, da chicana, perante as
opiniões contrárias ao seu catecismo e ignoram os protestos dos milhares que se
têm manifestado nas ruas e fora delas, contra as suas políticas.
É
imperioso enfatizar a indispensabilidade da presença do PS e dos outros
partidos de esquerda, sua convergência sem se pôr em causa a s suas identidades
politico-ideológicas, em qualquer alternativa à actual política governativa. Os
preconceitos que ainda existem entre estas organizações partidárias só têm
beneficiado a direita que, em alturas de crise, une-se sem hesitação, dando-nos
uma lição de solidariedade inter-pares.
Nestas
circunstâncias, o resultado da boa vontade conducente à viabilização das
propostas da direita é sempre uma vantagem para ela, já que as do esquerda,
seja o PS, o PCP, os Verdes ou o BE, na sua esmagadora maioria são rejeitadas
Refira-se
a despudorada e persistente côrte ao PS, pela direita e seus apaniguados, através
de autênticos cânticos da sereia, incluindo-o magnânimamente no chamado «arco
da governabilidade (Portas dixit)», na
tentativa de atraí-lo para o neoliberalismo mais reacionário.
Por
outro lado, no contexto da política destrutiva do governo está o comportamento
da UGT, «dando a mão ao governo» em decisões essenciais que contundem com a
defesa dos trabalhadores. Não é necessário recuar muito no tempo, bastam alguns
exemplos recentes como a alteração da legislação laboral em benefício dos
patrões e, agora, o apoio à pirueta do ministro da educação que reduziu a
imposição da prova de avaliação aos professores contratados com menos de cinco
anos de actividade, depois de ter defendido encarniçadamente a sua aplicação a
todos aqueles.
Não
se dá conta que é à custa destes espúrios conluios que a direita e a troika
apregoam uma hipócrita concertação social, quando a CGTP, fica de fora por
considerar inaceitáveis as propostas governamentais que prejudicam seriamente
quem trabalha, aquilo que o tempo acaba por comprovar? Será demagogia e/ou
sectarismo denunciar aquela pseudo concertação social?
Mais
do que nunca é imperativa a convergência das forças políticas progressistas
para se travar a destruição do estado social e o desbaratamento do património nacional
que é de todos os portugueses, de que é flagrante a entrega dos Estaleiros de
Viana do Castelo a uma empresa privada deficitária, através de um processo, no
mínimo, nebuloso, da «concessão» da ANA, da venda dos CTT e da já projectada
privatização da TAP, alienando-se empresas públicas rentáveis, em benefício de
privados «nacionais» e internacionais.