quarta-feira, 28 de novembro de 2012

FALTA DE PUDOR E SERIEDADE

Nos últimos tempos, os defensores do status quo utilizam argumentos que, um mínimo de decência, os tornaria indefensáveis. Vejamos alguns casos que explicitam essa prática insidiosa.

A RDP-Antena1 tem mantido um programa diário, o Conselho Superior, exemplar pela diversidade de opiniões dos convidados, de esquerda e direita, ao longo da semana, numa inequívoca e louvável demonstração de liberdade de imprensa. Creio que os ouvintes, como eu, seguem, com muito interesse, as várias intervenções, com maior ou menor agrado.
Todavia, como classificar justificações com pés de barro, para não dizer nada sérias? Foi o caso de hoje, o do autarca médico de Gaia, interventor das segundas feiras, que no frenesi de defender o governo actual, se socorreu dos elogios de Ângela Merkel, da troika, do FMI, do BCE, da direcção da UE, para combater quem o verbera e desnuda quotidiana e consistentemente. Ora quem são estes personagens que louvam a actuação governamental que afecta tão negativamente os portugueses? Nada menos que a monolítica maioria de direita que domina a Europa, sintonizada na austeridade da austeridade, no castigo dos países mais pobres, maioria obcecada pelo défice do qual beneficiaram e beneficiam os países mais ricos, nomeadamente a Alemanha. Só quem estiver distraído não identifica esta espúria argumentação.

A qualidade das discussões actuais na Assembleia da Republica não tem atingido o fulgor das subsequentes ao 25 de Abril e, infelizmente, hoje em dia, vale tudo, a falta de argumentos sólidos «obriga», em ultima instância, ao recurso de grave insulto, tão comum no estado velho salazarento. Aconteceu na semana passada, quando um deputado da extrema direita parlamentar, por sinal chefe da sua bancada, perante a opinião do presidente do Grupo Parlamentar do PCP e na falta de base séria para o contrariar, truculento invocou a despropósito a União Soviética!!! Foi pena que os deputados ofendidos não tenham ripostado, denunciando a má consciência de quem revelou, desta maneira, a sua ascendência política directa.




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

AUTODEFESA??????


A tragédia da 2ª Guerra Mundial, provocada pelos governantes alemães (tal como a 1ª), que levou à destruição nos países beligerantes, ficou gritantemente marcada com o sangue de mais de 6 milhões de seres humanos, a maioria judeus, mas também comunistas, homossexuais e outros seres «considerados inferiores», assassinados paulatina e friamente em câmaras de gás.
O genocídio nazi deixou marcas terríveis, nomeadamente  dilacerantes imagens fotográficas obtidas pelos aliados nos campos de concentração onde encontraram sobreviventes, homens, mulheres e crianças em estado de máxima miséria física e psíquica, os fornos crematórios, os compartimentos contendo dentaduras, cabeleiras, sapatos, outros haveres do sentenciados, a vedação dos campos com arame farpado e as guaritas elevadas dos guardas que atiravam a matar nos que tentavam escapar-se.
Apesar da ampla documentação sobre a barbárie nazi, os testemunhos de sobreviventes e até de civis e combatentes alemães, hoje ainda há quem queira negar a macabra ocorrência, os designados negacionistas, declarando sem rebuço, que se trata de mistificações arquitectadas por comunistas e outros «malvados» para denegrir a imagem exemplar do «nacionalismo alemão».
A memória do que aconteceu não se apaga, esperamos que não volte a repetir-se e, por isso, todos aqueles que prezam a paz e a defesa dos direitos humanos, devem, têm, de estar atentos e activos para que isso não aconteça.
Contudo, há décadas que se passa algo no Médio Oriente de que os negacionistas se vangloriariam e, o que é mais chocante, é o atropelo dos direitos humanos pelos governantes de Israel, cujo povo sofreu o morticínio sistemático do nazismo.
Sob a hipócrita capa da autodefesa, em resultado, dizem, de ataques levados a cabo por palestinos, atacam maciçamente o enclave de Gaza como os outros territórios da Palestina, quer através de mísseis, como do bombardeamento aéreo ou de terra, quer ainda pela invasão com meios de destruição maciça. Ironicamente, ainda se gabam de neutralizar a maioria dos roquetes do «inimigo» através de sua sofisticada defesa anti-míssil, isto é, dispõem de armamento e meios os mais modernos, «oferecido» pelos governantes  amigos dos países mais poderosos do planeta, para além de serem detentores de armas nucleares.
A propósito, pergunto: porque é que, as agências noticiosas do chamado mundo livre e os media do mesmo, nunca divulgam o número de vítimas dos dois lados, Palestina e Israel, em cada conflito repetido ao longo dos anos pelos governos israelitas? Por alto, a relação poderá ser de 10, 20 ou mais para 1, além da destruição em massa de infra-estruturas e equipamentos palestinos.
Entretanto, também será um êrro inaceitável tentar o branqueamento da actuação de extremistas fundamentalistas palestinos que encontram terreno favorável nas continuadas agressões israelitas.
 Perante a grave situação na região qual é a reacção da UE, da NATO, da ONU? Aconselham Israel a moderar os ataques pois reconhecem-lhe o direito à autodefesa!!!! Por outro lado a Liga Árabe demonstra a sua total impotência e o mêdo das retaliações dos donos do poder.
Em aparte, uma ultima questão se me afigura: porquê palestinianos em lugar de palestinos? A haver coerência, devia deixar de se dizer argelinos e usar argelianos ou algerianos, tunisianos em vez de tunisinos, marroquinianos para marroquinos. Fica no ar a interrogação muito embora esta pequena controvérsia seja quase nada perante a dimensão aterradora dos genocídios antes referidos.




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MANIFESTAÇÃO DE INIQUIDADE

Realizou-se ontem a greve geral convocada pela CGTP-IN, na qual participaram milhares de trabalhadores de todas as actividades laborais o que teve significativo impacte nacional, conforme o reconheceram todas as entidades consultadas e, pela primeira vez, o governo coibiu-se, ajuizadamente, de contrariar a avaliação de evento de grande expressão nacional e internacional.
Os motivos que justificaram a greve estão contidos na proposta de orçamento de estado para 2013 que muito agrava as condições de vida da maioria dos portugueses, tornando insustentável a situação. De facto, aquele documento governamental, intensifica o empobrecimento e a fome, já hoje patente no regresso da sopa dos pobres e, parece quase inevitável, o reaparecimento dos bairros da lata o que, infelizmente, já possibilitou o recrudescimento da caridadezinha tão incensada no defunto estado velho salazarento.
Por outro lado, é quase unânime na sociedade portuguesa a condenação do rumo escolhido pelo governo, em particular pelo primeiro-ministro e pelo ministro das finanças, cuja obstinação irracional poderá levar o país para um descalabro social de dimensões difíceis de quantificar. Neste momento, antever uma luz ao fundo do túnel é irrealizável com estes governantes e, por isso, se impõe a sua urgente demissão.
Ora deveria estar chegando a altura de uma atitude responsável do presidente da república, pondo côbro à actuação perniciosa do primeiro-ministro, seus ministros e secretários de estado. Em lugar disso, a despropósito, numa manifestação de meu gosto, insensibilidade e falta de senso, Cavaco presidente desta república, perorou durante a greve geral de ontem, afirmando que trabalhou nesse dia e acrescentou um elogio àqueles que, como sua insolência, furaram a greve. Mesmo que tenha afirmado a seguir e a contra-gôsto o direito constitucional à greve, tal não invalida a sua miserável opção condenatória da greve geral, das justas razões que a provocaram com o apoio generalizado dos portugueses e europeus, o que tem subjacente o apoio implícito ao governo e ao seu programa destruidor do país.
Fura-greves ou manifestação de iniquidade? Uma vez mais foi igual a si próprio, demonstrando, à saciedade, a sua incapacidade para o desempenho das funções para as quais foi eleito e, desgraçadamente para Portugal e portugueses, reeleito.