quarta-feira, 16 de março de 2016


OS CIDADÃOS ANÓNIMOS, MAIS O PANTEÃO….

Anteontem, desapareceu abruptamente deste vale de lágrimas, Nicolau Breyner um homem simpático e afável, simples, sem tiques de vedeta, um extraordinário actor, mais conhecido do grande público como humorista, o Nico, e primeiro autor/interprete de telenovelas nacionais, reconhecidamente de qualidade, faceta notável mas, a meu ver, muito longe do enorme actor dramático que ele era. Lisboeta adoptado mas alentejano de Serpa que muito amava, Nicolau foi autarca pelo CDS, por um período muito curto, num concelho desde sempre presidido pelo PCP. Respeitado e estimado ali e pelos seus colegas de profissão, por amigos e conhecidos, rejeitou sempre o sectarismo, como o testemunharam os entrevistados, antes e depois do seu desaparecimento.

Todos os media nacionais enalteceram o seu carácter e a sua contribuição cultural como artista de eleição, corroborados pelas multiplas intervenções de figuras publicas e menos conhecidas.

Vem a talhe de foice a repetitiva e, a meu ver, ofensiva expressão utilizada pelos reporteres de televisão e de rádio, neste evento e em todos aqueles onde estão presentes multidões, quando assinalam os notáveis e os muitos cidadãos anónimos, quando nenhum deles o é, todos têm nome porque é obrigatório desde o seu registo após o nascimento, eles não são é conhecidos de quem faz o relato. Porque é que não se limitam a descrever a presença de muita gente, mulheres e homens, velhos e jovens, sem os insultar?

Os mesmos reporteres que tão grandes serviços prestam quotidianamente à comunidade, por vezes excedem-se nas encomiásticas descrições da personalidade em apreciação. Ontem tal aconteceu quando se referiu que Nicolau Breyner revolucionou o modo de fazer humor em Portugal… Para reforçar o elogio do grande actor não era preciso isso, como diria o Diácono Remédios, personagem criada por Herman José, este sim o génio que fez e faz rir (quando quer) como ninguém.

Outra pedrada no charco surgiu ontem, a exemplo do que já acontecera quando a Assembleia da Republica deliberou, por unanimidade, a trasladação do corpo do futebolista Eusébio para o Panteão Nacional, quando alguém preconizou que o corpo de Nicolau Breyner também fosse ali colocado. Com todo o respeito por Amália, Eusébio e Nicolau Breyner, será que é sensato e razoável  vulgarizar o Panteão Nacional? Quais são os limites?




sábado, 5 de março de 2016

O SEU A SEU DONO
A rede social Facebook, um poderoso meio de comunicação de milhões de cidadãs e cidadãos de praticamente todo o planeta, encerra aspectos francamente positivos mas também muito negativos, resultantes de utilização indiscriminada, sem respeito pela verdade, pelo bom nome e privacidade de cada um.
Ora no FB constituem-se grupos encomiásticos alguns e insultuosos outros, segundo as perspectivas e os afectos dos seus criadores.
Um dos grupos, agora fechado, com mais de 10.500 aderentes, íntitula-se «Mario Soares. pai do mal de Portugal» creio que, na sua maioria, são os designados retornados, desajolados, refugiados das ex-colónias.
Foi Mário Soares, ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, durante vários governos provisórios, dando cumprimento ao programa do MFA, quem entabulou conversações com os movimentos de libertação das colónias, com vista à autodeterminação e preparação de ulterior independência dos respectivos países.
É oportuno recordar agora, pela sua importância primordial, que logo a seguir ao 25 de Abril, as palavras de ordem «Nem mais um soldado para as colónias e sua Independência imediata» eram imperativas e indiscutíveis, pois todos, em Portugal e colónias, estavam saturados da guerra e seus efeitos perversos. Assim, desencadeia-se então o processo de descolonização, primeiro num clima de esperança de colonos e colonizados, seguido de desconfiança quanto aos movimentos de libertação, fomentada pelos algozes do passado, pides, legionários e outros torcionários que não foram neutralizados em tempo útil, aproveitando-se da incerteza gerada naqueles quanto ao seu futuro. Neste clima de insegurança,  eclodiram manifestações pontuais de racismo nas grandes cidades, com graves desmandos de parte a parte, empoladas pelos adversários da emancipação dos povos colonizados que estiveram na base da descontrolada fuga maciça de portugueses e de angolanos para Portugal.
Os chamados retornados e os refugiados, desalojados, etc., que sofreram todo o processo de saída abrupta das colónias, em condições desastrosas, tanto do ponto de vista material, patrimonial, social, como psicológico, muitos ainda culpam Mário Soares e também, em Angola, o Alto Comissário Almirante Rosa Coutinho por aquilo que passaram, porque nunca houve a preocupação das várias entidades do Estado Português, a partir do 6º governo provisório, em esclarecer a situação ou, pior ainda, ignoraram-na, deixando no ar uma suspeição injusta e malévola sobre o fenómeno.
A propósito, quero clarificar que não me move qualquer simpatia por Mário Soares desde que, por culpa sua, Portugal ter sido um dos ultimos países a reconhecer a independência e o 1º governo de Angola; quando meteu o socialismo na gaveta bem como pela escolha dos seus aliados nos vários governos a que presidiu e nas políticas que levaram a cabo. Contudo, o seu a seu dono, esta opinião não me impede de contrariar a aleivosia dos que lhe assacam a responsabilidade pelo grande sofrimento dos retornados de Angola.
De facto, os responsáveis pelo desastroso processo de descolonização em Angola não foram Mário Soares nem Rosa Coutinho, mas sim Salazar e Caetano que, desde os anos 50 do século passado, se recusaram obstinada, estupida e criminosamente, a dialogar com os movimentos de libertação das colónias, desde sempre empenhados (Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Marcelino dos Santos e outros) numa preparação serena, atempada e organizada da sua futura independência, com interêsse óbvio na permanência dos portugueses e seus descendentes angolanos nos respectivos territórios. De resto a sua teimosia irracional e dos seus seguidores, defensores do ridículo «Portugal do Minho a Timor», contribuiram para que o país fosse condenado em todos os fora internacionais e pasto da chacota no mundo civilizado.