OS
CIDADÃOS ANÓNIMOS, MAIS O PANTEÃO….
Anteontem, desapareceu abruptamente
deste vale de lágrimas, Nicolau Breyner um homem simpático e afável, simples, sem
tiques de vedeta, um extraordinário actor, mais conhecido do grande público como
humorista, o Nico, e primeiro autor/interprete de telenovelas nacionais,
reconhecidamente de qualidade, faceta notável mas, a meu ver, muito longe do
enorme actor dramático que ele era. Lisboeta adoptado mas alentejano de Serpa
que muito amava, Nicolau foi autarca pelo CDS, por um período muito curto, num
concelho desde sempre presidido pelo PCP. Respeitado e estimado ali e pelos
seus colegas de profissão, por amigos e conhecidos, rejeitou sempre o
sectarismo, como o testemunharam os entrevistados, antes e depois do seu
desaparecimento.
Todos os media nacionais
enalteceram o seu carácter e a sua contribuição cultural como artista de
eleição, corroborados pelas multiplas intervenções de figuras publicas e menos conhecidas.
Vem a talhe de foice a
repetitiva e, a meu ver, ofensiva expressão utilizada pelos reporteres de
televisão e de rádio, neste evento e em todos aqueles onde estão presentes multidões,
quando assinalam os notáveis e os muitos
cidadãos anónimos, quando nenhum
deles o é, todos têm nome porque é obrigatório desde o seu registo após o
nascimento, eles não são é conhecidos de quem faz o relato. Porque é que não se
limitam a descrever a presença de muita gente, mulheres e homens, velhos e
jovens, sem os insultar?
Os mesmos reporteres que tão
grandes serviços prestam quotidianamente à comunidade, por vezes excedem-se nas
encomiásticas descrições da personalidade em apreciação. Ontem tal aconteceu
quando se referiu que Nicolau Breyner revolucionou o modo de fazer humor em
Portugal… Para reforçar o elogio do grande actor não era preciso isso, como
diria o Diácono Remédios, personagem criada por Herman José, este sim o génio
que fez e faz rir (quando quer) como ninguém.
Outra pedrada no charco surgiu
ontem, a exemplo do que já acontecera quando a Assembleia da Republica
deliberou, por unanimidade, a trasladação do corpo do futebolista Eusébio para
o Panteão Nacional, quando alguém preconizou que o corpo de Nicolau Breyner
também fosse ali colocado. Com todo o respeito por Amália, Eusébio e Nicolau
Breyner, será que é sensato e razoável vulgarizar o Panteão Nacional? Quais são os
limites?