sábado, 25 de abril de 2015

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS ?


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS?

Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.

Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:

  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As impositivas barreiras no acesso  dos negros ao ensino e à cultura, impondo-se assim o analfabetismo e a iliteracia na maioria esmagadora.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.

Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.

Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.

O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.

A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.

No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos, muitos outros.

Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.

Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.

O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.

Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.

Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.

 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DAS COLONIAS PORTUGUESAS ?

QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA


DAS COLONIAS PORTUGUESAS
Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.
Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:
  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As sistemáticas barreiras à entrada dos filhos dos negros no ensino e na cultura.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais apenas menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.
Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.
Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.
O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.
A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.
No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos outros, muitos outros.
Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.
Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.
O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.
Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.
Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.
 


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA ?


QUEM INICIOU A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS?

Estão passando quase 39 anos desde que se tornaram independentes as antigas colonias portugueses, depois de quatro séculos de dominação de territórios imensos, nomeadamente Angola e Moçambique, por um pequeno país distante de milhares de quilómetros, distância enorme a percorrer durante longos e penosos meses, até finais do séc.XIX.

Como se explica então a aparente passividade dos povos colonizados? A meu ver, são vários os seus factores explicativos, concretamente em relação a Angola, onde nasci e vivi, tais como:

  1. O subpovoamento do interior e também das regiões costeiras, embora menos acentuado nestas, de um imenso território com mais de 1,5 milhões de km2 de superfície.
  2. A repressora máquina administrativa.
  3. A «superioridade» do branco, imposta aos negros em todas as acções do quotidiano.
  4. O total controlo económico, financeiro e fundiário do colono.
  5. A marginalização deliberada dos negros, em condições sub-humanas, em guetos (musseques), deles se ausentando apenas para ir servir o branco, auferindo salários miseráveis.
  6. As sistemáticas barreiras à entrada dos filhos dos negros no ensino e na cultura.
     
    Um exemplo extremo das consequências da segregação racial e subdesenvolvimento dos negros era a cidade de Sá da Bandeira, hoje (e sempre) o Lubango, que possuía um dos liceus do país, o Diogo Cão, onde estudavam, nos anos 50 do século passado, mais de 700 alunos, dos quais apenas menos de 3% eram negros e mestiços! A propósito, em Luanda no Liceu Salvador Correia, naquela década, já predominavam os mestiços e haviam alguns negros. Também em Benguela, cidade mestiça angolana por excelência, a população estudantil incluía já muitos mestiços e poucos negros.

Recordo agora Luanda em 1962, que há época teria mais de 500.000 habitantes, rodeada por musseques, onde não existia saneamento básico, nem abastecimento de água e electricidade, nem arruamentos. Estava-se ainda no rescaldo dos trágicos acontecimentos de 15 de Março de 1961 nos Dembos e era comum a acusação na praça pública, de terrorista, para um qualquer transeunte negro que se lhes atravessasse no caminho.

Apesar de tudo, na década de 60 do século passado, a situação sócio-económica dos mestiços e negros em Luanda e nas grandes cidades (Benguela, Lobito, Huambo) era melhor do que a que se passava nos pequenos agregados populacionais, pois naquelas já aflorava uma pequena burguesia, sobretudo mestiça mas também negra que desempenhava funções no aparelho de estado, tolerada à distância pelo branco.

O que está em causa agora é assinalar quem de facto iniciou a luta pela independência das colónias portuguesas, isto é, qual o ponto de partida da mesma.

A meu ver, na base de tudo estiveram intelectuais que meteram ombros a uma ciclópica tarefa de chamar os colonizados e o mundo para a realidade colonial onde imperava a injustiça, uma feroz segregação racial, o desprezo pela dignidade humana dos colonizados, com o domínio absoluto de uma minoria branca, dona de tudo e de todos.

No caso de Angola, que creio possa ser extensível às outras colónias, estão entre muitos outros, Mário de Andrade, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Joaquim Pinto de Andrade, António Jacinto, Carlos Rocha, Gentil Viana, Júlio Almeida, Carlos Ervedosa, Salvador Ribeiro, Tomás Medeiros, Costa Andrade, Manuel Lima, Luandino Vieira, Henrique Abranches, Ermelinda Graça, Edmundo Gonçalves, Edmundo Rocha, Aida e Percy Freudenthal, Ernesto Lara, David Bernardino e muitos outros, muitos outros.

Além destes nomes sonantes, que por direito próprio fazem parte relevante da História do país, muitos mais intelectuais angolanos que hoje não passam de meros anónimos, deram o seu contributo, fazendo trabalho de sapa no quotidiano, nos contactos com as gentes, quer em Angola como em Portugal, antes como depois do início da guerra anti-colonial e a seguir ao fim da devastadora guerra civil.

Foram de facto aqueles intelectuais que iniciaram a luta de libertação, passando o testemunho, sem dele se afastarem, àqueles que encabeçaram a luta armada no terreno e na rectaguarda, entre os quais muitos dos constantes da lista acima a que se juntaram angolanos de todas as proveniências.

O analfabetismo e incultura impostos pelo governo fascista de Portugal explicam que só posteriormente, a pouco e pouco, as massas populares foram aderindo ao processo.

Por fim, vem a talhe de foice referir uma afirmação de José Manuel Jara, médico nascido em Angola, citado por Fenando Dacosta em «Os retornados mudaram Portugal» de que dos 600.000 brancos «retornados» apenas 1000 tinham consciência do que do que se passou em Angola. Esta minoria era a camada progressista e intelectual, onde se incluíam os acima referidos.

Aquela frase de Jara foi o mote para esta minha reflexão.