A
ELEQUÊNCIA DO FIDEDIGNO
Poderá dizer-se que o mundo,
quer o considerado civilizado pelos media como o outro, tem seguido com
apreensão o que se tem passado no NE da América do Sul, desde o dia 23 de
Janeiro do ano corrente, culminando com o inacreditável espectáculo do dia 30
de Abril deste ano, e a pretendida, mas não conseguida, continuação no 1º de Maio.
Tomo agora como ponto de
referência estes dois acontecimentos que abordarei o mais sucintamente possível.
O início de uma guerra de
nervos e quase nenhuma violência, deu-se com a autoproclamação de presidente
interino da Venezuela por Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, num
comício com milhares de apoiantes seus, acompanhada com grande alarido e uma
densa cortina de fumo, pela imprensa internacional, incluindo a portuguesa,
anunciando a «libertação do povo venezuelano do alegado jugo ditatorial de Nicolás
Maduro».
A 30 de Abril, com a
pretendida extensão, desconseguida, no
1º de Maio pelo seu significado para os trabalhadores, o autoproclamado
interino, deu a entender que estava em curso a sua tomada de poder, pois
passara a contar com «muitos militares», desertores das forças armadas
nacionais (e o apoio dos EUA, Colômbia, Brasil e UE, acrescento eu) e, os media
atrás referidos, apressaram-se a anunciar a tomada da Base Aérea de Carlota por
apoiantes do autoproclamado interino. Acrescente-se que várias actuações provocatórias armadas foram desenvolvidas no sentido de uma resposta maciça das forças armadas, eventualmente com baixas de ambas as partes, com vista a justificar uma intervenção dos EUA. Algum sangue frio e força anulou as provocações. Recordo, a propósito, que foi noticiada, esta semana, a preparação, nos EUA, de um contingente de 5000 seguranças para a eventual intervenção.
Qualquer destas tentativas de
golpe, foi publicitada como de muito rápida consumação, de destituição de
Maduro, atendendo ao maciço apoio popular à insurreição e eminente adesão dos
militares de alta patente.
Apesar da bombástica proclamação
de que a situação se resolveria rapidamente, tal não aconteceu e, felizmente,
com apenas 5 feridos, 2 em estado grave, nos militares.
Do ponto de vista diplomático
os resultados também não foram brilhantes. Trump, presidente dos EUA, e mentor
do autoproclamado interino tomou a dianteira, tendo tentado tudo para obter o
apoio da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da ONU, a uma eventual
ingerência militar directa na Venezuela, depois do apoio da UE, incluindo Portugal.
Debalde, nada mais lhe foi favorável pois na OEA não conseguiu a imperativa
aprovação de 2/3 dos países membros e na ONU, apenas 54 estiveram do seu lado e
123 votaram contra. Estes dados são fidedignos mas, por coincidência ou talvez
não, nunca foram divulgados com a mesma ênfase à que foi dada aos
acontecimentos em favor do autoproclamado interino.
Assim, são evidentes as
derrotas de Trump, do autoproclamado interino e dos países e organizações que,
desde o início, aceitaram e defenderam empenhadamente, embora alguns com um
quase nim, como Portugal.
Importa agora aflorar o hipócrita
porquê desta «guerra» contra o governo da Venezuela, particularmente contra
Nicolás Maduro, que segundo a maciça propaganda no país e no mundo, ele
tiraniza o seu povo e é um usurpador do poder. Subjacente a esta problemática está o retratado no cartoon, publicado no FB, de um autor brasileiro não identificado, o petróleo venezuelano.
Podem não querer e percebe-se
porquê, que Maduro é o presidente legítimo da Venezuela, eleito por mais de 6,5
milhões de eleitores venezuelanos, em compita com três adversários da oposição,
eleição considerada justa e livre, por organizações independentes.
A falta de apoio popular
venezuelano a Maduro foi desmontada pelas grandes manifestações de apoio que
nem o repórter da RTP, Helder Silva, conseguiu esconder, tendo tentado
mistificá-las, ao ponto de afirmar, sem pudor nem vergonha, que eram
essencialmente funcionários…jornalista este que disse ter entrado no país clandestinamente
pois receava as autoridades locais, isto é, esteve na Venezuela durante um mês
como turista, sem ser importunado por qualquer autoridade o que é obra!!!! Não
deram por ele, embora controlem tudo e todos, nem sequer ouveram (ouviram e
viram) as suas reportagens sempre tendenciosas, em favor do autoproclamado
interino.
Concluindo, aproveito para
lembrar que um militar da força aérea venezuelana, o general Ornelas Ferreira,
lusodescendente, expressou publicamente o seu inequívoco apoio ao governo legítimo,
liderado por Nicolás Maduro e, estou convicto, de que muitas(os) outras(os)
cidadãs e cidadãos com as mesmas origens o apoiam. Mais uma vez, por
coincidência ou talvez não, nunca foram entrevistados pelos repórteres das
televisões portuguesas, os quais apenas encontraram opositores ao governo do
país.