De vez em quando reaparece nos media a pregação dualista dos bons e dos maus, baseada numa escolha sectária e, por isso, cega, mas intencionalmente manipuladora.
Embora seja antigo o dictat da separação entre bons e maus, foi no «reinado» de Ronald Reagan nos EUA que assumiu acinte a dicotomia, de que é exemplo, porque nos (a angolanos e portugueses) tocou na pele, o Savimbi e a UNITA como símbolo do bem, em oposição ao mal personificado em Agostinho Neto e MPLA. De facto, a vivência do período post-independência e, particularmente, na sequência das eleições de 1992 até 2 de Fevereiro de 2002, demonstrou, à saciedade, o quanto o dualismo reaganiano foi «benéfico» para Angola, para os angolanos e para os portugueses.
Presentemente, retorna à baila o risco da bomba nuclear, tão bem defendido através do boneco apresentado pelo pacifista primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (com y ou com i, não é relevante), anteontem na ONU. Netanyahu alertou para o perigo de o Irão estar desenvolvendo tecnologia que lhe possibilitará produzir a dita bomba, ameaçando intervir militarmente neste país, mesmo sem a ajuda dos EUA. Contudo, as várias inspecções levadas a cabo pela ONU no Irão nunca detectaram, indícios sequer, de que a investigação iraniana se orientasse para tal fim.
A propósito, uma ressalva para que se não infira apoio ao Irão, mas antes por uma questão de princípio de equidade e pela denúncia da hipocrisia dualista.
Esta estória do armamento nuclear é o paradigma do dualismo implantado paulatinamente no mundo ocidental (ainda haverá, politicamente, o mundo oriental?) que nos deve «obrigar» a reflectir demoradamente, pois está em causa a sobrevivência da humanidade.
Com já não se põe em causa, por razões óbvias, a Rússia e a China, considera-se que é inadmissível a possibilidade de o Irão vir a dispor de armamento nuclear, bem como a Coreia do Norte embora, neste caso, seja quase firme a certeza de que já o possui. Entretanto, são já detentores deste tipo de armas de destruição maciça a Índia, o Paquistão e, há muito tempo, Israel, para além dos EUA e da França o que não merece qualquer reparo ou, muito menos, admoestação.
Para todos nós terráqueos o que está estabelecido e imorredouro é um grupo dos bons portadores de tal armamento, dos quais por isso mesmo nunca se fala porque não constituem uma ameaça para o mundo livre e o grupo dos maus, o perigo máximo, objecto de contínua contestação. Além deste dois grupos e sem definição precisa, está a Rússia, já dominada pelo neo-capitalismo e seus valores consumistas, embora se mantenha orgulhosa do seu passado
Terminando, aquilo que está em causa é todo o armamento nuclear, seja qual fôr o seu detentor, uma ameaça permanente para a humanidade, ameaça reforçada pelo dualismo da avaliação sujeita aos ditames dos que dominam o planeta. Defender este princípio é, de imediato, rotulado de pacifismo gratuito e inconsequente, mas a realidade, com os riscos inerentes, é incontestável.