domingo, 23 de dezembro de 2012

VITALÍCIO DECLÍNIO


O DN de hoje tem na primeira página, com destaque e vídeo, a notícia seguinte:

«FLIRT» COM PARTIDOS À ESQUERDA É UM EQUÍVOCO…

O eurodeputado socialista Vital Moreira não acredita numa frente de esquerda do PS, do Bloco de Esquerda e do PCP contra a política do Governo de Passos Coelho: "Não há nenhuma sinceridade nisso.
Sou daqueles que, no PS, entende que qualquer 'flirt' com os partidos à esquerda do PS é um equívoco, sem condições para vingar. E mais, só cria mal entendidos

No estado actual em que os portugueses sentem fortemente uma crise criada (e em vias de terrorista ampliação) pelo governo e a maioria que o sustenta, surge esta «boutade» de Vital Moreira. Por mais que o eurodeputado «socialista» apresente os fundamentos sagrados da sua opinião, ela é, objectivamente, um apelo à rejeição de qualquer concertação entre os partidos de esquerda e, a contrario, tem subjacente a defesa de um arranjo do PS com o PSD e o CDS, numa coligação desejada e abençoada pelos comentadores oficiais, pela direita parlamentar e extra-parlamentar e pelos media em geral que são propriedade dos grandes senhores do país.
Ora bem, afinal Vital quer mais do mesmo, defende a aliança que vigora desde o 25 de Novembro de 1975 e que tem sido responsável da actual situação sócio-económica e financeira de Portugal?.
Ainda não lhe parece, senhor prof.Vital Moreira, que aquilo de que as portuguesas e os portugueses precisam, como pão para a boca, é de outra orientação política da governação que assuma os valores de solidariedade, dê prioridade ao estímulo do desenvolvimento da economia, à protecção social, à saúde e ensino para todos, à remuneração justa de todos os trabalhadores e, por outro lado, à devolução dos esbulhados salários, incluindo os 13º e 14º meses?
Porque será que a Espanha conseguiu agora dilatar o prazo de pagamento da sua dívida enquanto que Victor Gaspar e seu acólito Passos Coelho preferem, por teimosia e desmascarada traição, continuar a sobrecarregar os mais desfavorecidos, declarando que o país está muito bem assim? S.Exa. também está de acordo que os portugueses não podem continuar a usufruir de um Serviço Nacional de Saúde universal pelo que têm de o pagar e já estão a fazê-lo, cada vez mais oneroso? E sobre a educação e o ensino, deve substituir-se o público pelo privado e quem tem capacidade financeira estuda e que não tem pára?
Hoje em dia, apesar do massacre quotidiano dos media em defesa da situação, cresce o descontentamento e o desejo de mudança, de novas oportunidades para todos e não apenas para uma minoria possidónia o que, obviamente, pressupõe uma alternativa governamental de esquerda.
Vem a propósito uma opinião de um amigo meu, homem de direita, expendida há dias quando afirmou: «o país não tem solução sem que todas as forças políticas nacionais, sem excepção, se juntem e discutam-na abertamente».
Considera então, Vital Moreira, que uma alternativa de esquerda é um equívoco?

Concluindo, vem a talhe de foice, referir que têm surgido, desde o 25 de Abril de 1974, políticos cuja ambição desenfreada de sucesso pessoal tem resultado em queda aparatosa, obrigando-os a saltitar de partido em partido sem conseguir o almejado objectivo de poleiro.
Depois do Barreto, da Zita e de muitos outros trânsfugas, tinha chegado a vez de Vital a quando das ultimas eleições europeias, tendo então caído com estrondo, sem honra nem glória.
Agora, como ninguém aparecesse a dar-lhe o galarim, vem dar uma mãozinha ao status quo, diabolizando os partidos de esquerda, alertando a direcção do «seu(?)» partido contra os perigos de uma eventual aliança à esquerda.
Engraçado, tal como a outra e o da anti-reforma agrária, tem como inimigo de estimação a sua origem partidária. Triste declínio para um então prometedor tribuno e líder partidário que quis dar um passo maior que a perna....