REFLECTINDO
SOBRE A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Há dias fui questionado por um
amigo meu, em jeito de remoque, sobre o meu insurdecedor silêncio de bloguista
(não gosto do inglesismo blogger), após a eleição presidencial de Marcelo
Rebelo de Sousa.
De facto, aquilo que se passou
deixou-me incrédulo inicialmente, mas logo recuperei pois era de prever o
epílogo do acto eleitoral, embora a expressão dos numeros tenha ultrapassado as
previsões mais pró das várias sondagens e comentadores, sobretudo o maior
numero de votos conseguidos por um candidato e a sua vitória em todos os
distritos nacionais desde que a democracia formal foi implantada no país,
apesar da abstenção ter atingido o segundo lugar, muito próximo de MRS.
Creio que os estudiosos de
fenómenos deste jaez, como o António Barreto e outros semelhantes epígonos,
logo virão explicar nos media onde têm lugar reservado, as escolhas dos
votantes que conduziram àqueles resultados.
Quem seguiu a campanha
eleitoral dos 10 (?) candidatos, sobretudo nas TVs, ela foi, a meu ver, muito
pobre e, qualquer deles, só convenceu quem já estava convencido.
Comecemos por MRS que fez uma
não campanha, incolor, inodora e insípida, descartando a discussão política e
dando muitos beijinhos a velhas e velhos, a meninas e meninos, a peixeiras e
peixeiros, a grandes madamas. De resto, ele bem sabia que tudo estava decidido
à partida, depois de dezenas de anos da sua presença afirmativa na TV, sempre
em horário nobre, e a inestimável contribuição de todos os media nacionais e
dos comentadores/opinadores. Ora, dirão, o que na prática conta é o seu
resultado, MRS é o presidente eleito, é ele que vai substituir alguém sem
carisma nem inteligência primária nem postura, uma verdadeira nódoa no Portugal
democrático.
Nos outros candidatos, alguns
não chegaram a sê-lo por inaptidão própria como o médico que, de relevante fez foi
pôr em causa a licenciatura de um ex-reitor, o psicólogo professor sempre sem
acompanhantes, um professor ex-vice presidente de câmara que «descobriu» a
corrupção e um ex-presidente de junta, deslocado do seu meio ambiente mas que,
surpresa das surpresas, ombreou em votos com candidatos partidários. Realço
ainda um engenheiro, ex-apoiante do general Humberto Delgado e ex-membro do
MUD, ex militante partidário de esquerda mas só apoiado pela direita.
Sobram os 4 candidatos
seguintes:
Um professor, ex-reitor unificador
de duas das mais importantes universidades nacionais, que saíu do seu conforto
para se candidatar a presidente da república, na perspectiva do apoio explícito
ou implícito dos partidos de esquerda o que desconseguiu pelas pressões a que
foi submetido e por se acreditar na votação maciça das gentes de esquerda, que
se julgava constituirem a maioria o que não aconteceu e, também, pela divisão dos partidos,
Em quarto lugar e com votação
muito expressiva, uma jovem activista, militante de esquerda, no seguimento da
expressão eleitoral do seu partido nas eleições legislativas.
Em quinto ficou uma candidata
de ultima hora, dita partidária onde foi presidente, suportada por figuras
publicas de esquerda e de direita que concorreu para a dispersão de votos do
partido e que escolheu como adversário principal o ex reitor acima
referenciado.
Em sexto ficou o candidato da
coligação de esquerda, defensor de Abril e das suas conquistas com o apoio presencial
dos seus dirigentes, com a grande mobilização uma vez mais demonstrada, mas que
foi afectado quer pela tradicional discriminação dos media quer do desvio de votantes
para o candidato ex-reitor e, apesar de tudo, para a abstenção.
Concluindo, a resolução logo à
primeira volta em favor do candidato das direitas, embora MRS se dissesse e
reafirme que será presidente de todos os portugueses (valha-nos isto...), deveu-se
à dispersão de votantes que podia e devia ter sido prevenida, repetindo-se
assim o acontecido na reeleição de Cavaco.
Era imperativa a desistência de
todos os partidos de esquerda com a união em torno de Sampaio da Nóvoa.
uma cronica isenta,aliáz teu apanágio.abraço
ResponderEliminarCaro Jaime.
ResponderEliminarNão sei se uma concentração de votos, na candidatura da Sampaio da Nóvoa, iria forçar uma segunda volta.
Marcelo era e é a face mais conhecida.
- "Aquele eu conheço .. vejo-o todas as semanas na TV".
- "É um querido"
- "Uma pessoa isenta até bate no Cavaco e no Passos Coelho"
Marcelo foi, ele próprio o disse, o candidato que ia vencer.
Daí o seu apagamento, o fazer apenas de figura de corpo presente.. tudo quanto dissesse podia virar-se contra ele.
Teve um grande momento baixo... o debate com Sampaio da Nóvoa.
É sabido, que todas as campanhas eleitorais desgastam aquele que, em termos de sondagens, é o virtual vencedor.
Talvez daí o adiar das legislativas, em Costa apareceu inicialmente com uma intenção de voto de cerca de 60%, e o antecipar das presidenciais em que MRS aparecia com 63% de intenção.
Não acredito em coincidências.
Abraços.
Ruca.