domingo, 5 de fevereiro de 2017


AINDA MOÇAMBIQUE E MÁ CONSCIÊNCIA

Depois do meu comentário anterior surgiu-me, no FB. a resposta seguinte:

«As partes do artigo do Público que transcrevi foram escritas por Isabela Figueiredo, professora de Português. Escreveu um livro, reeditado em 2017 pela Caminho, com o título "Caderno de memórias Coloniais". Esse livro foi prefaciado por Paulina Chiziane, Moçambicana. Escreveu ela " Isabel Figueiredo, branca, filha de colono racista, tem os mesmos sentimentos que eu, negra, filha de colonizado racista....Colonos e colonizados tivémos um encontro histórico que hoje estamos a analisar. Guerreamo-nos. Matámos-nos. Odiámo-nos e amámos-nos. Construimos juntos e construimo-nos mutuamente para o bem e para o mal. Esta é que é a verdadeira história. O resto são fantasias. Tretas". As palavras sábias de uma negra colonizada, como é próprio do povo moçambicano, que eu conheci. Jaime de Menezes , tendo feito parte dos colonizadores, assume as dores dos colonizados, com mal disfarçado ódio contra as ditas "minorias dominantes", responsabilizadas por ele pelo ostracismo que votavam às maiorias, talvez até pelas elevadas taxa de analfabetismo!!!! O artigo de Isabela não é sobre o colonialismo ou a descolonização, é um relato de uma viagem e dos factos que observou e ouviu nos contactos com Moçambicanos. É um retrato hoje, de um País independente há 41 anos. Associar esse retrato " à secular tese racista da incapacidade do negro para se governar", ofenderá certamente a inteligência dos Moçambicanos (que não a elite dirigente). A história é sempre escrita pelo vencedores, neste caso os revolucionários moçambicanos. Falta conhecer a verdadeira história, a história dos pioneiros que em condições infra humanas construíram no sertão africano caminhos de ferro, estradas, aeroportos ,hospitais e escolas, recebendo salários em escudos moçambicanos, só excepcionalmente convertíveis em moeda portuguesa e que investiam todo o dinheiro poupado em casas e empresas em Moçambique. A história da maioria dos portugueses que foram para, ou nasceram em Moçambique, gente séria, honesta, simples trabalhadores. A história do meu pai que deixou Moçambique , ao fim de 50 anos dos quais 42 anos como exemplar funcionário público dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Minoria dominante uma ova!!!! ISSO É UM INSULTO GRATUITO A MEU PAI E MINHA MÃE, QUE NÃO POSSO TOLERAR. Não pretendo entrar no tema colonização /descolonização mas não quero terminar sem referir uma parte da última entrevista do saudoso Coronel Melo Antunes, esse fascista colonialista, "Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização foi uma tragédia. Tal como a colonização o foi"- RTP Julho de 1999».

A meu ver esta resposta é suficientemente esclarecedora para me quedar sem mais nada. Contudo quero reflectir um pouco sobre o tema colonização. Culpei e culpo a colonização que manteve a população negra, em Moçambique como em Angola, destituida de direitos, em profundo subdesenvolvimento, analfabeta na sua maioria esmagadora, acantonada  em pseudobairros sem as mínimas condições de habitabilidade e salubridade. Passaram 41 anos depois da descolonização, é tempo suficiente para se ter construído um país, formados os quadros necessários que praticamente não existiam no início, atingir os níveis de desenvolvimento semelhante aos mínimos da classe dominante (não era assim???)? Independentemente dos erros cometidos pelos dirigentes do país independente, era possível fazer muito mais? Não é depreciando tudo o que já se fez e faz, nomeadamente afirmar-se que «em Moçambique com o 12º ano mal se sabe ler e escrever» (sinceramente alguém acredita nisto?) que se contribui para a imperativa mudança desejada por todos quantos pugnam pelo bem estar humano?

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