sábado, 5 de março de 2016

O SEU A SEU DONO
A rede social Facebook, um poderoso meio de comunicação de milhões de cidadãs e cidadãos de praticamente todo o planeta, encerra aspectos francamente positivos mas também muito negativos, resultantes de utilização indiscriminada, sem respeito pela verdade, pelo bom nome e privacidade de cada um.
Ora no FB constituem-se grupos encomiásticos alguns e insultuosos outros, segundo as perspectivas e os afectos dos seus criadores.
Um dos grupos, agora fechado, com mais de 10.500 aderentes, íntitula-se «Mario Soares. pai do mal de Portugal» creio que, na sua maioria, são os designados retornados, desajolados, refugiados das ex-colónias.
Foi Mário Soares, ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, durante vários governos provisórios, dando cumprimento ao programa do MFA, quem entabulou conversações com os movimentos de libertação das colónias, com vista à autodeterminação e preparação de ulterior independência dos respectivos países.
É oportuno recordar agora, pela sua importância primordial, que logo a seguir ao 25 de Abril, as palavras de ordem «Nem mais um soldado para as colónias e sua Independência imediata» eram imperativas e indiscutíveis, pois todos, em Portugal e colónias, estavam saturados da guerra e seus efeitos perversos. Assim, desencadeia-se então o processo de descolonização, primeiro num clima de esperança de colonos e colonizados, seguido de desconfiança quanto aos movimentos de libertação, fomentada pelos algozes do passado, pides, legionários e outros torcionários que não foram neutralizados em tempo útil, aproveitando-se da incerteza gerada naqueles quanto ao seu futuro. Neste clima de insegurança,  eclodiram manifestações pontuais de racismo nas grandes cidades, com graves desmandos de parte a parte, empoladas pelos adversários da emancipação dos povos colonizados que estiveram na base da descontrolada fuga maciça de portugueses e de angolanos para Portugal.
Os chamados retornados e os refugiados, desalojados, etc., que sofreram todo o processo de saída abrupta das colónias, em condições desastrosas, tanto do ponto de vista material, patrimonial, social, como psicológico, muitos ainda culpam Mário Soares e também, em Angola, o Alto Comissário Almirante Rosa Coutinho por aquilo que passaram, porque nunca houve a preocupação das várias entidades do Estado Português, a partir do 6º governo provisório, em esclarecer a situação ou, pior ainda, ignoraram-na, deixando no ar uma suspeição injusta e malévola sobre o fenómeno.
A propósito, quero clarificar que não me move qualquer simpatia por Mário Soares desde que, por culpa sua, Portugal ter sido um dos ultimos países a reconhecer a independência e o 1º governo de Angola; quando meteu o socialismo na gaveta bem como pela escolha dos seus aliados nos vários governos a que presidiu e nas políticas que levaram a cabo. Contudo, o seu a seu dono, esta opinião não me impede de contrariar a aleivosia dos que lhe assacam a responsabilidade pelo grande sofrimento dos retornados de Angola.
De facto, os responsáveis pelo desastroso processo de descolonização em Angola não foram Mário Soares nem Rosa Coutinho, mas sim Salazar e Caetano que, desde os anos 50 do século passado, se recusaram obstinada, estupida e criminosamente, a dialogar com os movimentos de libertação das colónias, desde sempre empenhados (Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Marcelino dos Santos e outros) numa preparação serena, atempada e organizada da sua futura independência, com interêsse óbvio na permanência dos portugueses e seus descendentes angolanos nos respectivos territórios. De resto a sua teimosia irracional e dos seus seguidores, defensores do ridículo «Portugal do Minho a Timor», contribuiram para que o país fosse condenado em todos os fora internacionais e pasto da chacota no mundo civilizado.



1 comentário:

  1. É bem verdade Jaime.
    Infelizmente nem Salazar nem Caetano tiveram a visão nem souberam tirar os ensinamentos históricos do que há décadas ia acontecendo com as colónias francesas inglesas holandesas belgas e de outros "Impérios Coloniais", movimentos que se intensificaram a partir de 1955 com a conferência de Bandung.

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