O
SEU A SEU DONO
A rede social Facebook, um
poderoso meio de comunicação de milhões de cidadãs e cidadãos de praticamente
todo o planeta, encerra aspectos francamente positivos mas também muito
negativos, resultantes de utilização indiscriminada, sem respeito pela verdade,
pelo bom nome e privacidade de cada um.
Ora no FB constituem-se grupos
encomiásticos alguns e insultuosos outros, segundo as perspectivas e os afectos
dos seus criadores.
Um dos grupos, agora fechado,
com mais de 10.500 aderentes, íntitula-se «Mario Soares. pai do mal de Portugal»
creio que, na sua maioria, são os designados retornados, desajolados,
refugiados das ex-colónias.
Foi Mário Soares, ministro dos
negócios estrangeiros de Portugal, durante vários governos provisórios, dando
cumprimento ao programa do MFA, quem entabulou conversações com os movimentos
de libertação das colónias, com vista à autodeterminação e preparação de
ulterior independência dos respectivos países.
É oportuno recordar agora, pela
sua importância primordial, que logo a seguir ao 25 de Abril, as palavras de
ordem «Nem mais um soldado para as colónias e sua Independência imediata» eram
imperativas e indiscutíveis, pois todos, em Portugal e colónias, estavam saturados
da guerra e seus efeitos perversos. Assim, desencadeia-se então o processo
de descolonização, primeiro num clima de esperança de colonos e colonizados,
seguido de desconfiança quanto aos movimentos de libertação,
fomentada pelos algozes do passado, pides, legionários e outros torcionários
que não foram neutralizados em tempo útil, aproveitando-se da incerteza gerada
naqueles quanto ao seu futuro. Neste clima de insegurança, eclodiram manifestações pontuais de racismo
nas grandes cidades, com graves desmandos de parte a parte, empoladas pelos
adversários da emancipação dos povos colonizados que estiveram na base da descontrolada
fuga maciça de portugueses e de angolanos para Portugal.
Os chamados retornados e os
refugiados, desalojados, etc., que sofreram todo o processo de saída abrupta das
colónias, em condições desastrosas, tanto do ponto de vista material,
patrimonial, social, como psicológico, muitos ainda culpam Mário Soares e
também, em Angola, o Alto Comissário Almirante Rosa Coutinho por aquilo que
passaram, porque nunca houve a preocupação das várias entidades do Estado
Português, a partir do 6º governo provisório, em esclarecer a situação ou, pior
ainda, ignoraram-na, deixando no ar uma suspeição injusta e malévola sobre o
fenómeno.
A propósito, quero clarificar
que não me move qualquer simpatia por Mário Soares desde que, por culpa sua,
Portugal ter sido um dos ultimos países a reconhecer a independência e o 1º
governo de Angola; quando meteu o socialismo na gaveta bem como pela escolha
dos seus aliados nos vários governos a que presidiu e nas políticas que levaram
a cabo. Contudo, o seu a seu dono, esta opinião não me impede de contrariar a
aleivosia dos que lhe assacam a responsabilidade pelo grande sofrimento dos
retornados de Angola.
De facto, os responsáveis pelo
desastroso processo de descolonização em Angola não foram Mário Soares nem Rosa
Coutinho, mas sim Salazar e Caetano que, desde os anos 50 do século passado, se
recusaram obstinada, estupida e criminosamente, a dialogar com os movimentos de
libertação das colónias, desde sempre empenhados (Agostinho Neto, Amilcar
Cabral, Marcelino dos Santos e outros) numa preparação serena, atempada e
organizada da sua futura independência, com interêsse óbvio na permanência dos
portugueses e seus descendentes angolanos nos respectivos territórios. De resto
a sua teimosia irracional e dos seus seguidores, defensores do ridículo
«Portugal do Minho a Timor», contribuiram para que o país fosse condenado em
todos os fora internacionais e pasto da chacota no mundo civilizado.
É bem verdade Jaime.
ResponderEliminarInfelizmente nem Salazar nem Caetano tiveram a visão nem souberam tirar os ensinamentos históricos do que há décadas ia acontecendo com as colónias francesas inglesas holandesas belgas e de outros "Impérios Coloniais", movimentos que se intensificaram a partir de 1955 com a conferência de Bandung.